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Pet Restelo Fisio & Spa: tratar os animais como um todo

Pet Restelo

Com um espaço renovado e a oferta de mais serviços, o Centro de Reabilitação Veterinário Pet Restelo Fisio & Spa, em Lisboa, comemorou recentemente cinco anos de existência, esteve em obras de remodelação e conta ter mais novidades até ao final deste ano. Visitámos as instalações deste centro que se pauta pela preocupação com o conforto dos pacientes e dos tutores.

A primeira visita da VETERINÁRIA ATUAL, que deu a conhecer este novo projeto na edição de setembro de 2014, aconteceu dois meses após a sua inauguração. Na altura, havia apenas um médico veterinário a fazer reabilitação, uma colega dedicada à acupuntura e a enfermeira Sofia Luís, que ainda se mantém no Pet Restelo Fisio & Spa até aos dias de hoje. Ana Ribeiro é médica veterinária, entrou no ano de 2016, tendo assumido o cargo de diretora clínica em fevereiro deste ano. Foi ela quem nos conduziu numa conversa e visita ao renovado consultório.

 

Com o aumento de pacientes, houve a necessidade de abrir a porta a mais casos e a fazer crescer a oferta. Em junho deste ano, culminou num período de oito meses de obras, durante o qual foi feito o esforço de manter o centro operacional. “Nunca fechámos porque trabalhamos com muitos pacientes neurológicos que não podem ficar sem tratamento”, explica a médica. Aberto de segunda-feira a sábado, das 10 h às 20 h, a mudança que tem vindo a ser implementada contemplou não só a equipa, como também as instalações.

Foi também no ano de 2016 que foi adquirida uma passadeira subaquática, que veio substituir a piscina. “O nosso trabalho de hidroterapia passou a ser feito quase a 100% na passadeira. Gostaríamos de ter mantido a piscina, mas tivemos de optar, pois não era utilizada e ocupava imenso espaço”, salienta Ana Ribeiro. No mesmo local, devidamente reestruturado, começaram a ser realizados os banhos e tosquias. Também a receção era muito grande e estava subaproveitada. “Tínhamos 200 metros quadrados que não utilizávamos. Por vezes, tratávamos dois animais na mesma sala quando na realidade tínhamos espaço para nos organizarmos de outra forma.” Foi também colocado um novo chão, menos escorregadio do que o anterior, e foram ampliadas as salas, por forma a tornar o consultório num sítio mais confortável para pacientes e respetivos tutores.

 

Mas a ambição de melhoria não fica por aqui, sobretudo no que respeita aos tratamentos realizados. “Estamos a insistir com a administração para que nos sejam disponibilizados mais serviços, pelo que faria todo o sentido apostar em novos aparelhos para acompanhar o investimento na renovação das instalações.”

O Pet Restelo Fisio & Spa tem uma decoração clean e uma receção friendly que, logo à entrada, deixa antecipar uma boa experiência para os animais que são ali seguidos, na sua maioria cães, ainda que a casuística de gatos esteja a crescer. A ideia é que se sintam bem ali, pois será um local – que se pretende calmo – a frequentar com alguma assiduidade. E, se no início os casos chegavam sobretudo por referenciação do Hospital Veterinário do Restelo (HVR), que pertence ao mesmo grupo, atualmente são os colegas de praticamente todo o País que reencaminham pacientes. “Temos sempre o cuidado de discutir e realizar os tratamentos em conjunto com os médicos que referenciaram. Da mesma forma, se necessitarmos de alguns exames ou de alterar a medicação prescrita por outros colegas, fazemo-lo em acordo com os próprios, que são quem segue o paciente há mais tempo”, salienta Ana Ribeiro. Esta postura facilita o trabalho, sobretudo quando chegam clientes de vários pontos do País.

 

Estudantes e estagiários bem-vindos

O ginásio, com um espaço generoso, é o local de realização de terapias ativas, e inclui passadeira terrestre. É também aqui que se realizam exercícios em que os pacientes têm de passar por alguns obstáculos por forma a utilizar um membro de cada vez, obrigando-os a fazer determinado movimento de forma mais lenta. “Temos ainda um tapete, especialmente importante em pacientes neurológicos, para que trabalhem com os membros que estão afetados, sobre várias superfícies. Isso vai fazer com que o sistema nervoso central seja estimulado.” Existem ainda bolas para realização de exercícios de fortalecimento, havendo capacidade para a realização de tratamentos diversos, como estiramentos, eletroestimulação, massagens e alongamentos.

 

O consultório conta ainda com quatro salas de tratamento, três para reabilitação, e uma delas exclusiva para acupuntura. Em todas é disponibilizado um espaço para que os donos possam deitar-se ou sentar-se junto dos seus animais, chegando mesmo a ajudar nas próprias terapias, que têm a duração de mais de uma hora. É importante que os donos participem até para que o animal se sinta mais confiante. Dessa forma, acabam por ser facilitadores das terapias.

A equipa atual é constituída por Ana Ribeiro e a colega Cristina Oliveira, também médica veterinária; Sofia Luís, que além de enfermeira, tem uma pós-graduação em fisioterapia e que pode acompanhar as sessões; e a auxiliar em veterinária, Sara Oliveira. Bruno Cunha é responsável pelos banhos e tosquias e o médico veterinário Luís Resende assegura as consultas de acupuntura. À entrada, os pacientes e respetivos tutores são recebidos pela rececionista Madalena Valles.

“Com o tutor, falamos sobre os problemas que detetámos e como é que podemos tratar o seu animal de companhia. Com o colega, fazemos todo o ‘trabalho de bastidores’ e discutimos que exames é que poderiam ser úteis para trazer novas informações ao tratamento que propomos” – Ana Ribeiro, diretora clínica

Com frequência, chegam estagiários portugueses e estrangeiros que ficam habitualmente um mês. “Os primeiros 15 dias servem para se habituarem a tudo, e os últimos 15 para começarem a trabalhar com alguma autonomia. Se ficarem dois meses, o que seria ideal, no último mês conseguem absorver mais conhecimentos e acompanhar a evolução de alguns casos.” O Pet Restelo Fisio & Spa recebe também participantes de estágios de verão de associações de estudantes. “São sobretudo colegas que acabam por nos pedir para passar mais tempo connosco, consolidar conhecimentos ou até para preparar a sua tese nesta área em específico”, afirma Ana Ribeiro.

Como tudo começa

São várias as técnicas e terapias de medicina de reabilitação realizadas no consultório: hidroterapia, eletroestimulação neuromuscular; terapias manuais – estiramento, massagens, quiroprática (uma novidade recente, com consultas e tratamentos disponíveis desde o passado dia 1 de julho); e acupuntura. “Independentemente da razão pela qual o paciente nos chegue, funcionamos sempre por consulta de avaliação, que demora, no mínimo, cerca de hora e meia, assegurada por mim ou pela colega Cristina Oliveira, na qual se aborda o estado de saúde geral e é feita uma avaliação ortopédica e neurológica. E a velha máxima “cada caso é um caso” assenta nas estratégias usadas para adaptar os exercícios e indicar tratamentos personalizados aos animais que chegam ao centro. “Vemos o paciente como um todo e não como uma patologia. Se tratarmos só os sintomas e as doenças, sem ter em consideração as compensações que o corpo acaba por fazer, acabamos por não estar a fazer um trabalho completo nem ter a melhoria esperada, e o animal continuará a sentir dor ou desconforto”, afiança Ana Ribeiro.

Na consulta inicial, após as avaliações necessárias, é feito um plano de tratamento em que são registadas as terapias sugeridas para cada animal e o número de sessões programadas, ajustando-as ao longo do tempo, após reavaliação em cada sessão. “Em cada uma, está sempre presente um médico veterinário, que pode adequar o plano à evolução dos casos.” Ao final de três semanas a um mês, seguem-se alguns parâmetros, fazem-se algumas medições, e além da parte neurológica e ortopédica, é também avaliada a parte músculo-esquelética.

A grande maioria dos pacientes já aparece na consulta com exames realizados, mas, por exemplo, no caso de animais geriátricos, a equipa gosta de realizar uma ecografia abdominal para perceber se não existe “nenhuma massa que não tenha sido detetada”, explica a diretora clínica. A articulação com o médico assistente é sempre importante, caso se considere que existem outros exames complementares de diagnóstico que podem ser relevantes para um adequado diagnóstico. “Com o tutor, falamos sobre os problemas que detetámos e como é que podemos tratar o seu animal de companhia. Com o colega, fazemos todo o ‘trabalho de bastidores’ e discutimos que exames é que poderiam ser úteis para trazer novas informações ao tratamento que propomos”, reforça Ana Ribeiro. De igual modo, referencia-se o paciente para um colega de qualquer especialidade sempre que necessário para que o trabalho seja feito “na sua plenitude”. Esta multidisciplinaridade vai sendo cada vez mais uma realidade. “Trabalhamos cada vez menos sozinhos.”

A equipa Pet Restelo Fisio & Spa

Ana Ribeiro não tem dúvidas que os pacientes se sentem “em casa” e confortáveis neste consultório. “Acabamos por receber um feedback positivo. Funcionamos com sessões com hora marcada, o que faz com que os clientes não fiquem muito tempo à espera, e de igual modo, não obrigamos o animal a fazer algo que não queira. Se se notar alguma resistência do paciente a algum tratamento, não se insiste. “Respeitamos sempre a sua vontade.”

Em idades mais precoces, o grande objetivo é devolver a função e melhorar a qualidade de vida, mas a grande maioria dos pacientes que chegam ao Pet Restelo Fisio & Spa são geriátricos e apresentam “múltiplos problemas neurológicos e ortopédicos”. Os resultados acabam por ser motivadores, até porque alguns casos chegam depois de várias tentativas de tratamentos e com a hipótese da eutanásia em cima da mesa. “São pacientes que tentaram de tudo, e por vezes, com a nossa intervenção, permitimos àquela família estar mais seis meses ou um ano com o animal, o que faz a diferença. Temos pacientes que tratamos há quatro anos, que continuam com as suas limitações, mas conseguimos dar-lhes anos de vida com alguma qualidade. A ligação criada com a equipa é então muito próxima. “Sempre que um animal parte, depois de o termos acompanhado durante tanto tempo, sentimos que partiu um animal que também era um pouco nosso.”

No caso dos doentes neurológicos, existem pacientes que entram sem andar na consulta e a situação acaba por reverter. “Em algumas situações, a evolução é brutal”, assegura a médica veterinária.

Tratamentos personalizados

São tratamentos que se prolongam no tempo, o que implica que os tutores e respetivos animais de companhia criem uma afinidade com a equipa. “Há pacientes que precisam de realizar sessões diárias ou três vezes por semana, e temos casos que passam connosco muitos meses a um ano”, diz a diretora clínica. Apesar de alguns tratamentos serem dispendiosos, sem a realização dos mesmos é muito difícil devolver o animal à sua funcionalidade.

E qual é a casuística mais frequente? Ana Ribeiro conta que 75% dos casos seguidos são hérnias discais e problemas neurológicos. “Também recebemos alguns casos de fraturas e muita casuística de urgência do HVR, o que acaba por nos trazer alguns casos clínicos mais interessantes.”Temos algumas pessoas que nos procuram diretamente, sem serem referenciadas, ou porque procuram conselhos sobre alimentação natural ou porque querem saber mais sobre quiroprática, ou porque os animais são obesos e os donos querem tentar a hidroterapia, aliando as mudanças na alimentação para começarem a perder peso”, explica Ana Ribeiro.

A responsável tem assistido, com agrado, a uma maior aposta na prevenção. “Os tutores já procuram outras estratégias para prevenir o aparecimento de hérnias discais, por exemplo.” Por outro lado, tem sido notória a preocupação em arranjar alternativas à medicação – nunca a deixando de parte se os animais a estiverem a tomar – privilegiando um trabalho entre a medicina convencional e as medicinas menos invasivas, que podem evitar que os animais tenham de ser operados ou que a sua recuperação pós-cirúrgica seja mais célere, só para dar dois exemplos. “Noto que há cada vez menos resistência dos colegas relativamente às terapias alternativas, porque acabam por trabalhar connosco em alguns casos e verificam que a evolução está a ser positiva e os resultados são bons, acabando também por referenciar o nosso trabalho a clientes seus.”

Quem procura este tipo de serviço, à partida, está motivado. E isso é meio caminho andado para o sucesso. “Temos clientes que fazem imenso sacrifício, alguns deles deslocam-se de locais que implicam hora, hora e meia de viagem, para virem até nós”, afirma Ana Ribeiro.

A médica veterinária Ana Ribeiro conta que a referenciação é cada vez mais uma realidade na prática clínica. “Trabalhamos cada vez menos sozinhos”, assegura

Alguns donos não podem acompanhar o animal nas sessões e optam por deixá-lo de manhã e ir buscá-lo à hora de almoço ou ao final do dia. “Especialmente em pacientes neurológicos, que têm de fazer tratamentos diários, podem passar a noite no HVR ou em casa. Antes das 10 h, vamos buscá-los ao hospital e eles passam o dia connosco. Temos a política de deixar os animais à vontade e livres, não os prendemos em jaulas nem em boxes. Se forem pacientes mais agressivos ou agitados, temos um sítio no nosso ginásio onde podem ficar mais resguardados, mas habitualmente preferimos que andem sem restrições”, salienta Ana Ribeiro.

Sempre que isso acontece, o paciente acaba por ser mais estimulado do que se ficar sozinho oito a dez horas por dia. “Acaba por não ser um dia monótono para eles, têm contacto com outras pessoas e outros animais, o que é benéfico do ponto de vista da socialização.”

Não desistir

Nesta área de medicina da reabilitação, a equipa profissional tem um papel muito ativo para que os tutores não desistam, sobretudo em casos de doença neurológica, cujo acompanhamento é muito exigente. “As pessoas não estão habituadas a certos tipos de cuidados e procedimentos que são complicados para alguns tutores e, sem a nossa ajuda, seria ainda mais difícil.” No Pet Restelo Fisio & Spa, todas as hipóteses são transmitidas para que os tutores possam optar pela que considerem mais viável. “Às vezes, há a resistência inicial de levar um paciente mais debilitado ou dependente para casa, se não houver ninguém a ajudar nessa fase inicial, e é natural que a pessoa bloqueie. O nosso papel também passa por explicar tudo e dar ferramentas para que as hesitações sejam ultrapassadas.”

Além das consultas presenciais, a equipa realiza alguns vídeos explicativos que podem ajudar os tutores em casa. A ideia é que os tutores fiquem mais tranquilos. “Os animais são o reflexo dos donos e, se tivermos um paciente muito nervoso, a recuperação fica comprometida.” Na página de Facebook e do Instagram, são partilhados alguns casos clínicos, com a devida autorização dos tutores, por forma a apresentar um pouco o trabalho desenvolvido.

O ano de 2019 trouxe uma casa melhorada com mais serviços, espaços melhor aproveitados, e esperam-se mais novidades até ao final deste ano. O cuidado com os pacientes será sempre uma missão: “Eu acho que é importante ter-se gosto pelo que se faz, mas em algumas profissões, se não o fizermos por amor, não faz sentido. É o caso da nossa”, conclui Ana Ribeiro.

Artigo publicado na edição de setembro de 2019 (n.º130) da revista VETERINÁRIA ATUAL.

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