De acordo com a notícia da “Associated Press”, Cláudio faleceu com três meses de idade, aparentemente de um defeito cardíaco e, durante alguns dias, Gana, a mãe, recusou-se a entregá-lo aos funcionários do zoológico. Esta situação provocou uma onda de compaixão, levando algumas pessoas a indagar que, tal como os humanos, também os gorilas e outros animais fazem luto após a morte dos seus familiares.
Na realidade, segundo os primatologistas, no seio da maioria das espécies primatas a mãe reage sempre à morte das suas crias, abraçando e tratando o pequeno animal como se ainda estivesse vivo. Durante alguns dias, ou mesmo semanas, a mãe carrega o corpo para onde vai e, se necessário, discute com qualquer um que tente separá-la da cria morta.
Ainda que os humanos apresentem claras semelhanças com espécies primatas (têm em comum cerca de 98% dos genes), demonstrações realizadas sobre o luto materno, como a de Gana, podem revelar menos sobre a consciência humana compartilhada da morte que sobre o impulso compartilhado a agir como se ela não existisse.
A primatologista Sarah Hrdy, considera fazer sentido, no que diz respeito à adaptação, que as mães segurem as crias falecidas, mantendo a esperança durante algum tempo. «Se a cria não estivesse realmente morta, mas em coma temporário, porque ficou doente ou porque caiu de uma árvore, ele voltaria à vida», explicou.
«Estamos a falar de primatas que têm partos de uma só cria após longos períodos de gestação. Cada um representa um enorme investimento para a mãe», acrescentou.
Por todos os recantos da natureza, segundo os biólogos, existem animais que se comportam como se tivessem consciência do predomínio da morte, apesar de considerarem que ela não lhes diz respeito.
Michael Wilson, professor assistente de Antropologia na Universidade de Minnesota e que estudou chimpanzés na Tanzânia, comentou que estes primatas «são muito diferentes dos humanos no que toca ao seu entendimento sobre a morte e as diferenças entre os vivos e os mortos».
Os chimpanzés jovens revelam sinais de luto genuíno quando as suas progenitoras morrem. Porém, os chimpanzés adultos raramente expressam algum tipo de sentimentalismo em relação à morte de outro adulto, explicou.
Isto porque os adultos doentes ou já idosos se isolam na floresta para morrerem sozinhos; e aqueles que morrem com companhia, por norma, morrem com outros adultos.
A mesma atitude liberal se aplica ao hábito de caça desses animais. «Quando caçam outros macacos, podem matá-los ou apenas imobilizá-los antes de os começarem a comer», contou.
Para alguns animais, a morte de um membro da mesma espécie pode corresponder, em significado, a uma refeição normal. É o caso dos leões, que se aproximam do corpo de outro membros, cheiram e lambem e, caso o cadáver esteja fresco, começam a comê-lo. Para outros, um cadáver é considerado perigoso e não se aproximam do mesmo.
Entre os insectos sociais, a necessidade de manobrar os cadáveres é tão grande que existem mesmo trabalhadores responsáveis por essa função na comunidade. Em poucos minutos, estes recolhem o corpo e transportam-no para uma distância segura do grupo, protegendo o ninho de possíveis doenças contagiosas. E, caso algum animal de grande porte, como um rato, morra dentro da colmeia, as abelhas, uma vez que não conseguem transportar o seu corpo para o exterior, embalsamam-no com resinas de árvores.
Por último, alguns investigadores acreditam que os elefantes manifestam grande preocupação face aos restos mortais de outros elefantes. Quando diante de ossos e outros objectos naturais, os elefantes africanos passam consideravelmente mais tempo a explorar os crânios e maxilares de outros elefantes em relação ao de outros animais.
Luto dos animais pode ter significado diferente do humano
Vários meios de Comunicação Social europeus divulgaram, na semana passada, fotografias de um gorila fêmea do Zoológico de Munster, na Alemanha, a segurar o corpo da sua cria morta e a encostar os seus lábios nos seus dedos. Mas os primatologistas consideram que a distância que separa o sentimento de luto nos humanos é grande relativamente aos grandes primatas.