Quantcast
Eventos

O futuro da oncologia veterinária por Sue Ettinger

O 10º Encontro de Formação da Ordem dos Médicos Veterinários (EFOMV), que decorrerá de 14 a 16 de abril no Centro de Congressos de Lisboa, contará com a presença de Sue Ettinger, reconhecida especialista em oncologia veterinária. Em exclusivo à VETERINÁRIA ATUAL, a profissional conta como nasceu o interesse por esta especialidade, faz a antevisão das cinco conferências que fará no encontro e ainda revela o que espera no futuro do tratamento do cancro em animais de companhia.

Quando e como surgiu o seu interesse pela oncologia veterinária de pequenos animais?

 

Desde criança sempre tive paixão pela medicina veterinária e sonhava ser veterinária. Durante o tempo na universidade desenvolvi um forte interesse pela cirurgia e planeava seguir a carreira nessa especialidade.

No entanto, o tempo passado numa rotação em oncologia durante o internato que realizei na cidade de Nova York mudou completamente a minha trajetória. Este foi meu primeiro contacto real com a oncologia e fiquei fascinada não apenas pela ciência, mas também pelos resultados positivos que conseguimos alcançar com a quimioterapia.

 

Também desenvolvi relacionamentos significativos com os clientes que víamos regularmente. Inicialmente, pensei em especializar-me em oncologia cirúrgica, mas quando não fui aceite para a residência em cirurgia, fiquei arrasada.

Ainda assim, esse fracasso acabou por ser uma bênção disfarçada, pois fez-me perceber que a minha verdadeira paixão está na oncologia médica. Dois anos e duas bolsas depois, finalmente consegui uma residência em oncologia médica e sou incrivelmente grata pelo caminho que percorri.

 

Essa experiência ensinou-me que o fracasso pode levar a um grande crescimento e ajudar-nos a encontrar o nosso verdadeiro propósito.

“Ao promover o diagnóstico precoce, podemos garantir que os animais de companhia recebem tratamento oportuno e melhorem suas chances de recuperação”.

 

Quais são os principais mitos e equívocos sobre a doença oncológica em cães e gatos que ainda persistem na medicina veterinária?

Ainda existem inúmeros mitos e equívocos em torno do tema animais de companhia e cancro. Um dos mais comuns é que o cancro é sempre uma doença terminal, sem esperança de recuperação do animal. Contudo, nem sempre é esse o caso, pois existem várias opções de tratamento disponíveis, desde cuidados paliativos, até ao tratamento com intenção curativa.

É importante sublinhar que o cancro é um termo genérico e que cada tipo de cancro tem um prognóstico diferente.

Outro mito comum é que os animais de companhia ficarão extremamente doentes durante o tratamento com quimioterapia, mas este cenário não é o que ocorre na maioria dos cães e gatos. Estes animais de companhia toleram a quimioterapia muito melhor do que os humanos e os gatos até tendem a tolerá-la melhor do que os cães.

Na verdade, estima-se que 80% dos animais de companhia não terão efeitos colaterais ou irão ter apenas efeitos colaterais leves durante o tratamento com quimioterapia. Muitos dos tutores meus clientes ficam surpreendidos e encantados ao ver que seus animais de companhia conseguem manter uma excelente qualidade de vida durante todo o tratamento.

Como veterinária, o meu objetivo é ajudar os animais de companhia a terem uma vida mais longa e saudável. Muitos dos animais que são submetidos à quimioterapia podem conseguir alcançar exatamente esse desígnio. Portanto, meu lema é “viver mais, viver bem” e fico sempre feliz em discutir as opções de tratamento com meus clientes para garantir o melhor resultado possível para seus animais de companhia.

E quais serão as principais inovações que trará ao EFOMV no que diz respeito ao diagnóstico de doenças oncológicas nos pequenos animais?

Estou entusiasmada por apresentar a minha palestra sobre o “ABC do Cancro” que abrange as ferramentas essenciais para o diagnóstico do cancro: aspirados, biópsias e citologias. Esta palestra é particularmente especial para mim porque apresenta o meu próprio programa de consciencialização sobre o cancro de caroços e nódulos que denominei de See Something, Do Something, Why Wait? Aspirate®, que alerta os tutores para estarem atentos e a fazer monitorizações mensais dos seus animais e a procurarem o médico veterinário se notarem um caroço ou nódulo do tamanho de uma ervilha (1 cm) que esteja presente há um mês ou mais. Ao promovermos o diagnóstico precoce, podemos garantir que os animais de companhia recebem o tratamento oportuno e, assim, melhoram as suas hipóteses de recuperação.

Durante a minha palestra, discutiremos a importância do diagnóstico e tratamento precoce de massas cutâneas e subcutâneas, incluindo a forma de aprimorar as habilidades de citologia, para determinar com precisão o tecido de origem e se a massa é benigna ou maligna. Além disso, iremos revisitar as diretrizes para diagnosticar nódulos e caroços em doentes e apresentarei exemplos de casos numa sessão interativa.

É crucial lembrar que o diagnóstico precoce é a chave para o sucesso do tratamento da maioria dos tumores cutâneos e subcutâneos. Apenas recorrendo à cirurgia é que muitos desses tumores podem ser curados tornando-se, assim, imperativo não esperar para procurar atendimento veterinário. Com o programa de consciencialização sobre o cancro See Something, Do Something, Why Wait? Aspirate® podemos ajudar os animais de companhia a receberem o diagnóstico precoce e os cuidados que precisam e merecem.

“Na verdade, estima-se que 80% dos animais de companhia não terão efeitos colaterais ou irão ter apenas efeitos colaterais leves durante o tratamento com quimioterapia.”

E no tratamento da doença oncológica em pequenos animais, quais têm sido os principais avanços terapêuticos que vai dar a conhecer aos especialistas portugueses?

Estou entusiasmada por apresentar numa das conferências que farei a terapia inovadora intratumoral para o mastocitoma, o STELFONTA®. A minha palestra fornecerá aos participantes insights práticos e informativos sobre esta opção de tratamento, que não necessita de anestesia, já aprovada pela União Europeia para os mastocitomas caninos. Durante a apresentação, vou aprofundar o mecanismo de ação único do STELFONTA® e explicar como administrar o tratamento. Também discutirei os últimos avanços na classificação citológica e compartilharei apresentações de casos com base nos dois anos de experiência que tenho de utilização de STELFONTA®, darei também dicas práticas sobre como identificar candidatos adequados ao tratamento e de como gerir a destruição do tumor e a cicatrização de feridas.

Acredito firmemente que a minha palestra é um evento obrigatório para veterinários que buscam aprimorar sua técnica de tratamento e confiança no maneio de mastocitomas caninos com STELFONTA®.

Também estou animada para compartilhar as atualizações mais recentes sobre os cancros mais comuns que vemos na prática clínica, nomeadamente o linfoma canino e felino e o osteossarcoma canino noutras conferências. Durante estas apresentações irei discutir as pesquisas mais recentes e as opções de tratamento disponíveis para essas doenças, compartilharei a minha experiência clínica e também fornecerei dicas práticas sobre como gerir essas condições para melhorar os resultados dos pacientes.

“Acredito firmemente que a minha palestra é um evento obrigatório para veterinários que buscam aprimorar sua técnica de tratamento e confiança no maneio de mastocitomas caninos com STELFONTA®.”

Na sua perspetiva, quais serão as principais linhas de investigação em oncologia veterinária num futuro próximo?

Na mais recente reunião anual da Veterinary Cancer Society, na qual participei no outono passado, achei algumas das sessões particularmente interessantes. Por exemplo, os investigadores apresentaram alguns trabalhos inovadores sobre a utilização de biópsias de sangue para diagnosticar e monitorizar a doença oncológica. Em particular, houve um estudo muito promissor sobre osteossarcoma, um tipo de cancro ósseo, que usou biópsias de sangue para esse efeito e esse trabalho mostrou que as amostras de sangue capturaram os mesmos perfis genómicos que normalmente vemos nas biópsias de tecidos, o que significa que as biópsias de sangue foram precisas a detetar a doença.

Outro desenvolvimento interessante discutido na conferência foi o potencial papel da imunoterapia no tratamento de alguns cancros, como os linfomas e osteossarcomas. Esperamos que a imunoterapia possa servir como uma importante terapia adjuvante à quimioterapia para os nossos pacientes e ajudar a melhorar os seus tempos de sobrevivência.

No geral, participar nessa conferência deu-me grandes esperanças para o futuro da oncologia veterinária e estou ansiosa para ver como essas abordagens inovadoras irão continuar a evoluir e a melhorar os resultados no tratamento dos nossos pacientes.

Este site oferece conteúdo especializado. É profissional de saúde animal?