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Médicos Veterinários

Aconselhamento gratuito veterinário lançado pela Câmara Municipal de Cascais já chegou a 300 pessoas

Vet Atual Telemedicina veterinária

É mais um serviço ao dispor dos munícipes de Cascais e surgiu de forma natural para dar resposta a dúvidas dos tutores de animais. Não pretende substituir uma consulta veterinária que pressupõe um atendimento físico, mas pode ajudar a esclarecer questões mais simples ou orientar os tutores a procurar ajuda médica mais especializada com a certeza de que ninguém fica sem resposta.

O projeto de teleconsultas gratuitas surgiu inicialmente para os munícipes de Cascais em abril de 2020. Dada a afluência, a Câmara Municipal de Cascais (CMC) decidiu alargar o serviço e abrir um programa semelhante, mas dedicado aos animais de companhia, em atividade desde o mês de julho do ano passado. O primeiro passo é o utente estar registado na plataforma Viver Cascais, bastando para isso ser residente, estudante ou trabalhador no concelho. Depois de registado, basta ligar para o número gratuito 800 203 186, entre as 9h00 e as 20h00 dos dias úteis.

 

Após um contacto para esta linha telefónica, o munícipe é atendido por uma telefonista que valida os requisitos necessários para usufruir do Aconselhamento Veterinário Telefónico gratuito. Seguidamente, a chamada é transferida para um médico veterinário que realiza um pequeno questionário possibilitando identificar de forma rápida e precisa as dúvidas e aconselhar devidamente o tutor. “Este projeto reforça a nossa aposta no que diz respeito ao desenvolvimento das políticas de proteção animal”, defende Nuno Piteira Lopes, vereador da CMC com a responsabilidade pelas políticas de proteção animal e serviços veterinários. Também neste caso, a perspetiva One Health é levada em consideração. “Trabalhamos para construir uma sociedade onde a convivência entre humanos e animais seja cada vez mais harmoniosa”, adianta.

O balanço até ao momento é positivo, garante o vereador. “Como este é um projeto pioneiro iniciámos sem grandes projeções, pois não tínhamos nenhum tipo de comparação para projetarmos com precisão os números que iriamos alcançar”, explica o vereador. Nestes primeiros meses e até ao fecho desta edição, o projeto recebeu 300 contactos, sendo que aqueles que são repetidos não são contabilizados para este total. Sónia Monteiro Diniz, médica veterinária, responsável pelo Centro de Recolha Oficial de Animais, pelo Piquete de Intervenção e Resgate Animal (PIERA) e das Unidades de Saúde e Bem-Estar Animal/ Higiene e Segurança Alimentar do Município de Cascais defende que o “feedback e os testemunhos positivos dos munícipes, tutores de animais de companhia, falam por si. Cada telefonema espelha a preocupação e carinho que cada tutor demostra pelo seu animal, muitas vezes, a única companhia em casa. Ser atendido e ouvido do outro lado por alguém que o percebe e o ajuda é muito gratificante e reconfortante”. Estão neste momento alocados a este projeto, quatro profissionais. “No entanto, estamos sempre disponíveis para ajustar o número de colaboradores, respondendo à procura deste serviço”, explica Nuno Piteira Lopes.

 

“A Câmara Municipal de Cascais não tem como objetivo interferir na dinâmica do serviço veterinário privado” – Sónia Monteiro Diniz, médica veterinária do município de Cascais

Sónia Monteiro Diniz

A pandemia trouxe novas necessidades

 

No seguimento das políticas implementadas no concelho, esta ideia surgiu de forma natural. “Depressa evoluiu e após reunião com a Ordem dos Médicos Veterinários, onde foi explicado todo o projeto, ganhou forma e é hoje um sucesso”, explica a médica veterinária. Especialmente em tempos como estes em que vivemos com uma pandemia ainda longe de estar resolvida, o município quer garantir que “cada tutor tem a atenção que merece e que cada caso é ouvido e aconselhado”. No entanto, este serviço é de aconselhamento veterinário e “não tem como objetivo substituir um contacto mais especializado”, adianta o vereador. Sempre que se justifica, os utentes são aconselhados a irem com o seu animal a um consultório veterinário.

Desta forma, a iniciativa pretende ajudar na prevenção, nas situações de rotina e tem como objetivo proporcionar uma melhor qualidade de vida e bem-estar aos animais de companhia. Nenhum utente fica sem resposta. “Sempre que sentirmos que é necessário o tutor levar o seu animal a um médico veterinário damos esse conselho”, explica o vereador. Sónia Monteiro Diniz acrescenta: “No caso dos animais, a consulta telefónica é uma impossibilidade. Sabemos, igualmente, que os animais têm sintomas e sinais muitos específicos e que podem ser facilmente mascarados e adulterados, sendo impreterível uma consulta presencial.”

 

Consegue-se assim desmistificar e aproximar o aconselhamento veterinário telefónico aos tutores de animais de companhia. “Quem tem um animal de companhia sabe ao que me refiro. Existem inúmeras dúvidas no dia a dia de convivência com os nossos animais e quanto mais convivemos com eles, como é o caso nesta altura de pandemia, mais questões e preocupações se levantam”, adianta a médica veterinária sublinhando que durante o aconselhamento veterinário telefónico tenta perceber-se quem é o tutor que está do outro lado e que tipo de conselhos necessita. “O portefólio de possibilidades é tão vasto e transversal podendo ir desde um aconselhamento nutricional até um aconselhamento para marcação de consulta num CAMV.” Aliás, como adianta a médica veterinária, este é um projeto que tem uma missão identificada e que não passa por competir ou sobrepor-se ao trabalho realizado diariamente pelos colegas que trabalham no município. “A Câmara Municipal de Cascais não tem como objetivo interferir na dinâmica do serviço veterinário privado.”

“(…) Uma boa parte dos contactos é feita por utentes que adotaram o seu primeiro animal de companhia durante a pandemia, e que, por isso, têm algumas dúvidas sobre questões do dia a dia” – Nuno Piteira Lopes, vereador da CMC

Nuno Piteira Lopes

Nuno Piteira Lopes

Não existe um público-alvo propriamente dito e a procura deste projeto tem sido muito variada. “No entanto, pelos dados que tenho, uma boa parte dos contactos é feita por utentes que adotaram o seu primeiro animal de companhia durante a pandemia, e que, por isso, têm algumas dúvidas sobre questões do dia a dia”, explica Nuno Piteira Lopes.

Através da estreita ligação da CMC com a Associação São Francisco de Assis, associação cascalense dedicada à adoção de animais de companhia, existe uma perceção clara do número de adoções e necessidades dos adotantes. “A pandemia isolou pessoas e o acesso aos mais diversos serviços. Queremos construir pontes e esta é sem dúvida uma ponte importante para ajudar à consolidação de uma sociedade mais amiga e respeitadora dos nossos animais”, explica a médica veterinária. As situações foram diversas durante este período pandémico, salienta o vereador da CMC: “Houve pessoas que descuidaram os seus animais e outras que, por terem no animal a sua maior companhia, passaram a ter muito mais atenção e cuidado.”

Terá a pandemia contribuído para sensibilizar a população para a adoção de animais e para o isolamento das pessoas ou, por outro lado, para os problemas de abandono e a falta de meios para cuidar dos seus animais? Em termos de cuidados de saúde veterinários, existiu, numa primeira fase, uma dificuldade acrescida dos detentores em levar os seus animais aos CAMV, mas com o passar do tempo, tudo tem regressado a uma certa normalidade. “A diminuição das suas condições económicas refletiu-se de forma direta na procura de cuidados para os seus animais. Mas também é verdade que nunca existiu, até ao dia de hoje, tanto apoio de entidades, associações e particulares em ajudar esta causa”, defende Sónia Monteiro Diniz, alertando para um dos propósitos deste projeto: refletir, perceber o que está a funcionar mal e “contribuir para uma sociedade cada vez mais ativa, alerta e justa para com os mais necessitados”.

Até ao momento, o horário e o total de profissionais à disposição do projeto têm sido suficientes. Mas, havendo necessidade de evoluir, a autarquia assume essa possibilidade. “Não estipulamos metas. Queremos que este serviço seja um complemento aos muitos serviços que prestamos aos munícipes. Enquanto fizer sentido existir, existirá. Se for necessário aumentar a capacidade de resposta, aumentaremos”, explica Nuno Piteira Lopes.

*Artigo publicado originalmente na edição n.º 156 da revista VETERINÁRIA ATUAL, de janeiro de 2021.

 

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