A conclusão é de um estudo desenvolvido pelos investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) – encabeçado por Gisélia Alcântara – que pretendia saber mais sobre o comportamento dos médicos veterinários portugueses na prescrição de antimicrobianos. Os resultados indicaram que os profissionais procuram a eficácia do tratamento e que a maioria ainda prescreve empiricamente
Gisélia Alcântara é uma médica veterinária brasileira, formada pela Universidade Federal Rural da Amazônia, que conta também com uma pós-graduação em Gestão em Vigilância em Saúde. Em 2018 veio para Portugal realizar um Mestrado em Saúde Pública pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), no qual mantém funções como investigadora. Impulsionada pelo estudo de resistência a antimicrobianos, concluiu uma especialização em Biofarmacêuticos pela Technological University em Dublin, na Irlanda. Atualmente trabalha no Health Research Board da Irlanda.
Recentemente desenvolveu um estudo sobre o comportamento dos veterinários portugueses na prescrição de antimicrobianos, em parceria com outros investigadores do ISPUP. A motivação e o interesse pelo tema surgiram ainda na altura que estava a desenvolver a dissertação de mestrado, orientado pelo professor João Niza Ribeiro e com a coorientação da professora Katia Pinello. “O professor João Niza Ribeiro já tinha estudos sobre resistência antimicrobiana em vacas leiteiras. E chegámos à conclusão de que faltavam estudos direcionados à resistência antimicrobiana tranferida por animais de companhia”, conta. Como se sabe e já tem sido alvo de diversos estudos, os animais de companhia podem transmitir resistência antimicrobiana aos seus tutores, e vice-versa, o que acabou por direcionar as perguntas de partida do estudo. Estas pretendiam aferir: “1) Se os veterinários portugueses pensavam sobre a resistência antimicrobiana quando prescreviam antibióticos aos animais de companhia?; 2) Quais os motivos que os levavam prescrever antimicrobianos?; 3) Se os mesmos prescreviam aos animais antibióticos licenciados para uso humano?; 4) Se ao prescrever tinham preferência por fazer testes de sensibilidade antes ou preferiam prescrever empiricamente?; e 5) Quais antimicrobianos preferiam prescrever nas situacoes clínicas mais frequentes na clinica de pequenos animais?.”
A primeira parte desta investigação foi publicada pela revista Comparative Immunology, Microbiology and Infectious Diseases em março de 2021 e a versão completa e final em junho de 2021.
Metodologia e conclusões
O estudo teve por base um questionário, realizado entre outubro de 2019 e janeiro de 2020, que foi usado como ferramenta para responder às questões acima mencionadas. O universo incluiu 417 médicos veterinários portugueses e pôde concluir que estes profissionais não falam sobre resistência antimicrobiana transferida pelos animais de companhia aos seus tutores quando prescrevem antimicrobianos. “Tão pouco falam das medidas higiénico-sanitárias necessárias para quando os animais de companhia estão em tratamento em casa com antibióticos”, acrescenta a investigadora.
Os médicos veterinários entrevistados foram divididos em dois grupos de acordo com suas respostas: um grupo que prefere prescrever de forma empírica e outro que prefere utilizar um protocolo que os guie quando prescrevem antimicrobianos. Os resultados indicaram que “ambos os grupos procuram a eficácia do tratamento e que a maioria ainda prescreve empiricamente”. Contudo, “o grupo que segue mais protocolos corresponde aos médicos veterinários que trabalham em hospitais e hospitais universitários”.
Quanto à evolução do estudo, a investigadora refere que ainda estão a ser analisados os últimos dados e que estes irão ser publicados em breve.
*Leia o artigo completo na edição de dezembro de 2021 da VETERINÁRIA ATUAL