Quem o diz é o médico veterinário George Stilwell, cujo percurso profissional denuncia a vasta experiência no maneio das práticas de bem-estar animal nos animais de produção. Será um dos oradores em campo nas Conferências Vida Rural: Bem-estar Animal − que se realizam no dia 23 de maio, na Estação Zooténica Nacional, Polo de Inovação da Fonte Boa, em Santarém – e irá debater o papel do veterinário como protagonista na cadeia de valor do bem-estar animal.
O papel do veterinário é decisivo na aplicação das regras de bem-estar animal e pode ser o principal aliado para o sucesso da implementação destas práticas nas explorações. Como atua o médico veterinário neste circuito?
O médico-veterinário é uma peça fundamental na garantia do bem-estar de todos os animais e muito particularmente dos animais de produção. Este é simultaneamente um professor, um tradutor e um verificador. Professor porque garante que todos os envolvidos na produção animal são conhecedores do que é bem-estar animal e de quais são as boas-práticas necessárias para o garantir; tradutor, porque é aquele mais habilitado a perceber o que os animais nos estão a dizer (indicadores baseados nos animais) acerca do seu bem-estar; e verificador porque no seu contacto constante e permanente com toda a cadeia de produção permite detetar os problemas de bem-estar de forma a se aplicarem as correções. Este último papel também se aplica nas auditorias e certificações das explorações, sendo que o médico veterinário será sempre o mais capacitado para o fazer de forma competente.
“Esta conduta no sentido da garantia e promoção do bem-estar animal é um dever ético e deontológico de qualquer médico veterinário. Este dever deve sobrepor-se a qualquer interesse económico ou comercial, sempre que haja aparente conflito.”
 
Resta dizer que esta conduta no sentido da garantia e promoção do bem-estar animal é um dever ético e deontológico de qualquer médico veterinário. Este dever deve sobrepor-se a qualquer interesse económico ou comercial, sempre que haja aparente conflito.
Como é a rotina de um médico veterinário dedicado à pecuária − como auditor de boas práticas de bem-estar nas explorações?
O papel do médico-veterinário ligado à produção animal é multifacetado. A sua atuação pode ser a de um clínico, de um sanitarista, nutricionista ou mesmo de um gestor em áreas tão diversas como a qualidade do leite, a reprodução, o melhoramento animal etc.
Quase sempre o médico veterinário acumula várias destas funções dependendo da espécie, do produto (leite ou carne), do sistema de produção ou da dimensão da exploração. No caso da atividade clínica − a função mais comum até porque é exclusiva −, o veterinário está sempre de serviço e, normalmente, atua em todas as áreas e especialidades, incluindo em todos os ramos da clínica tradicional, na obstetrícia e reprodução, na cirurgia, na sanidade e muito mais.
Este profissional, na sua atividade normal e rotineira, é um protagonista, mas também um atento observador das práticas de maneio. Com a sua competência e experiência consegue identificar situações que comprometem o bem-estar animal e, em diálogo com o produtor ou tratador, deve procurar implementar medidas corretivas ou mitigadoras.
Desta preocupação crescente com o bem-estar animal, que deve caracterizar a produção moderna, está a nascer uma nova oportunidade de atividade para os médicos-veterinários ligados à produção animal – a de auditores de bem-estar animal. Esta intervenção pode ser como auditor interno (alguém dentro da exploração que procura detetar os problemas e implementar as soluções) ou como auditor externo, alguém imparcial e isento que avalia e certifica as explorações de pecuária.
“O médico veterinário, na sua atividade normal e rotineira, é um protagonista, mas também um atento observador das práticas de maneio.”
Quais os maiores desafios face à realidade atual das explorações?
Há, por vezes, uma tentativa de associar a aplicação das regras de bem-estar animal a mais dificuldade para a produção. No fundo, dizer que as dificuldades económicas impedem a introdução de melhores práticas ou melhorias nas condições de bem-estar. Esta é obviamente uma falsa questão. A melhoria das condições de bem-estar quase sempre se associam a melhores produções e a produtos de maior qualidade. Mesmo que não fosse assim (mas é!), os deveres éticos e a própria imagem do setor obrigaria a aderir e a implementar as regras básicas de bem-estar.
As dificuldades na produção animal são múltiplas e graves – desde a seca até ao aumento brutal e repentino dos fatores de produção –, mas não será através da manutenção de más-práticas que afetem o bem-estar animal que se irão resolver. Aliás, a manutenção ou mesmo aumento do número de consumidores e do valor que estão preparados a pagar por produtos de elevada qualidade, depende muito da imagem do setor em termos de sustentabilidade e adesão a valores éticos.
Aceda ao programa completo das Conferências Vida Rural: Bem-estar Animal aqui.
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*Leia a entrevista na íntegra na edição 171, de maio, da VETERINÁRIA ATUAL.