Um estudo usou uma nova abordagem, baseada em dados de registos eletrónicos de saúde em larga escala de laboratórios de diagnóstico e práticas veterinárias, para fornecer novos insights sobre as mais recentes tendências relativamente à infeção por Leishmania em cães do Reino Unido.
A análise, publicada na Veterinary Parasitology, utilizou dados recolhidos pela Rede de Vigilância Veterinária de Pequenos Animais (SAVSNET) entre 2010 e 2022 sobre leishmaniose em cães e gatos de cinco laboratórios nacionais de diagnóstico veterinário e 251 consultórios veterinários.
Dos laboratórios de diagnóstico, um total de 25.327 amostras foram analisadas: 20.517 soros testados por ELISA (Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay) ou IFAT (Immunofluorescent Antibody Test) e 4.810 por PCR.
Os anticorpos contra Leishmania infantum foram detetados em 39,7% das amostras de cães – em 41% das amostras testadas por ELISA e 37% das amostras por IFAT – enquanto o ADN de leishmania foi detetado por PCR em apenas 12% das amostras testadas.
A seropositividade aumentou nas amostras de 2013 a 2022, ao mesmo tempo, em que se registou uma diminuição ligeira na proporção de amostras positivas para PCR de 2005 a 2022.
O estudo refere ainda que, a partir das narrativas clínicas dos dados da prática veterinária, foram identificados 368 cães com leishmaniose canina. Os fatores associados a um aumento significativo do risco de leishmaniose foram a esterilização em comparação com a não esterilização; cães de raça e cruzados em comparação com cães Retrievers; e cães com idades entre 3 e 6 anos em comparação com cães com 2 anos ou menos.
A maioria dos casos foram registados no sudeste de Inglaterra (34%), tendo-se verificado um aumento do risco de casos registados de 2017 a 2022, em comparação com 2014.
Dos cães com leishmania, metade (51%) foram resgatados, importados ou visitaram o exterior, predominantemente Espanha, Grécia, Chipre e outros países do sul da Europa.
Para os restantes casos, nenhum histórico de viagens foi registado, embora nenhum especificasse que o cão não havia viajado, portanto, esses casos não poderiam ser considerados resultado de infeção autóctone, explicam os investigadores.
Quando apresentados para consulta, metade (50%) dos cães estavam doentes, sendo os distúrbios cutâneos, seguidos de mau estado geral e linfadenopatia, distúrbios oculares, articulares e da função renal os sinais clínicos mais comuns relatados.
O tratamento mais comum foi o alopurinol (75%) ou em combinação com miltefosina (16%), antimónio pentavalente (3%) ou domperidona (4%).
Os investigadores avançaram ainda que, uma vez que não tiveram acesso a todos os dados, o total de casos de leishmaniose canina será mais elevado.
Desta forma, o estudo concluiu que os cães esterilizados, cães de raça cruzada; cães de 3 a 6 anos e cães no sudeste da Inglaterra estão mais predispostos a desenvolver leishmaniose.
Por fim, o estudo aponta ainda a necessidade de testar cães clinicamente saudáveis que viajem de ou para áreas endémicas, uma vez que foi detetada disseminação da leishmaniose canina por meio de cães viajantes.