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CAMV

Opinião: Mais um recorde para os CAMV

Dilen Ratanji Site e

O volume de negócios dos Centro de Atendimento Médico-Veterinário (CAMV) em Portugal ascendeu aos 215 milhões de euros em 2019, mais um recorde histórico. Mantém-se a tendência de crescimento, ainda que num contexto de pandemia. Os meses de março e abril registaram quebras significativas no setor, fruto do confinamento, mas nos dois meses seguintes alcançaram-se cifras históricas de faturação em dezenas de CAMV espalhados pelo País. Entende-se, assim, que se verificou um mero diferimento de receitas, tendo o setor veterinário sido dos menos afetados no tecido empresarial português.

Realizando um cruzamento e análise da informação obtida através da Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e da Ordem Dos Médicos Veterinários (OMV), conclui-se que existem aproximadamente 1 400 CAMV no País e que cada um faturou, em média, cerca de 153,5 mil euros em 2019. Há 6,7 milhões de animais de estimação no nosso País, segundo a GfK, aproximando-se destemidamente do número total da população nacional. Segundo a mesma fonte, 58% das famílias portuguesas têm pelo menos um animal de estimação, percentagem superior aos 54% que têm filhos. As prioridades mudaram, indubitavelmente, com o tempo.

 

Apresento alguns indicadores económico-financeiros (médias) mais relevantes do sector veterinário. Reportar-me-ei ao ano de 2019, uma vez que os dados de 2020 apenas estarão disponíveis em meados de 2021. (Os valores apresentados não incluem IVA)

  • Em média, cada CAMV tem um prazo médio de pagamentos de 49 dias, abaixo dos 55 dias do ano anterior (2018);
  • O EBITDA médio por CAMV é aproximadamente 25,6 mil euros (vs. 24,2 m€ de 2018). Este indicador representa quanto uma empresa gera de recursos através das suas atividades operacionais, sem contar com impostos e depreciações;
  • O número médio de colaboradores por CAMV aumentou para 4,2. Não se incluem neste valor os colaboradores que estejam em regime de prestação de serviços. O custo médio por colaborador é de 16 798€ anuais, que representa um aumento de 6,2% face ao ano anterior. Recordo que no ano passado o aumento tinha sido de 4,7%;
  • A média dos custos com pessoal sobre o total da faturação é de aproximadamente 35,9% (vs. 34,4% em 2018), estando dentro do intervalo de referência segundo as boas práticas de gestão veterinária. Um rácio acima dos 40% poderá ser sinónimo de improdutividade da equipa ou má gestão de outros recursos internos. Não obstante, e face às eficiências fiscais que são adotadas nas rubricas dos gastos com pessoal, a análise a este rácio deverá ser realizada com a devida reserva. Pela experiência da VetBizz Consulting, o rácio real (médio) intervala entre os 37% e 45%, sendo que os valores mais elevados são mais característicos de estruturas de maior dimensão;
  • O ativo total é de aproximadamente 182,6 m€, o que representa um crescimento de 3,2% face ao ano anterior;
  • Por força dos melhores resultados operacionais nos CAMV, o capital próprio apresentou novamente em 2019 uma variação positiva face a 2018: 78,2 m€ vs. 73,9 m€, o que traduz um crescimento de 5,8%;
  • O passivo (os valores que a empresa deve a terceiros como, por exemplo, os financiamentos bancários) ronda os 104,5 m€ (acréscimo de apenas 1 500€ em relação ao ano anterior);
  • O resultado líquido (lucro) médio num CAMV continua baixo e é de 10,5 m€ (vs. 10,4 m€ em 2018);
  • Os fornecimentos e serviços externos (FSE), que incluem as rendas, telecomunicações, energia, deslocações, estadas, entre muitas outras rubricas, têm um peso percentual relativo de 22,0% face aos 23,7% do ano anterior, posicionando-se no intervalo de referência considerado aceitável (entre 20% e 25%);
  • O saldo médio dos depósitos bancários é de 40,2 m€ (aumento substancial de 23,8% em relação ao ano anterior);
  • A dívida corrente média dos clientes é de 11,0 m€ (vs. 12 m€ de 2018);
  • A rentabilidade dos capitais próprios decresceu para os 13,4% (vs. 14,1% em 2018), enquanto que a solvabilidade (quociente entre o capital próprio e o passivo) melhorou o desempenho com 74,8% (acima dos 71,7% registados em 2018), ou seja, se uma empresa tiver que solver as suas obrigações, consegue-o fazer em quase 75% com os seus próprios capitais;
  • O rácio de autonomia financeira (quociente entre os capitais próprios e o ativo) superou novamente a fasquia dos 40% (42,8% vs. 41,8% de 2018), acima dos 30% recomendados;
  • O valor médio de faturação anual por colaborador é de 46 736€. Fica a dica de que, segundo boas práticas de gestão veterinária, um médico veterinário para ser produtivo deverá faturar pelo menos quatro vezes o seu custo efetivo para a empresa (base, subsídios, extras e impostos);
  • O resultado líquido médio anual é de apenas 2 478€ por colaborador;
  • A rentabilidade das vendas e serviços prestados (que comummente as empresas designam de “rentabilidade do negócio”) é de apenas 5,3%, ou seja, por cada 1 000€ faturados, o lucro líquido do CAMV é de 53 euros.

O setor mantém a sua enorme vitalidade, apresentando crescimentos ano após ano, ainda que com níveis de rentabilidade “curtos” e abaixo do merecido. Isso significa que a missão veterinária é muito mais forte que os números, é sobre paixão, amor e dedicação pela causa.

 

Continua a ser um enorme prazer servir esta classe, única no panorama nacional.

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