A Aqualife Services, empresa especializada na administração de vacinas a peixes, lançou um novo serviço de saúde e bem-estar para peixes que estará sedeado em Portugal e centrado no médico veterinário com interesse por peixes, Nuno Ribeiro, que se juntou à empresa em junho deste ano. Em entrevista à VETERINÁRIA ATUAL, o médico veterinário português pós-graduado/mestre em Aquatic Veterinary Studies pelo Institute of Aquaculture, da Universidade de Stirling, explica que existe “grande potencial para a medicina de peixes”, sobretudo agora que a aquacultura está “em franco crescimento”.
O serviço lançado pela Aqualife Services em Portugal pretende colocar à disposição dos produtores piscícolas os serviços de administração de vacinas. De acordo com Nuno Ribeiro, “um programa profilático em si não é eficaz sem a existência de uma estratégia produtiva que promova o bem-estar animal e a saúde dos peixes. Assim, apresentamos o primeiro serviço de apoio veterinário para produtores piscícolas e aquariofilistas em Portugal. É um serviço pioneiro que pretende ajudar os aquacultores desde o desenho de planos de saúde, passando pelo acompanhamento do efetivo, e inevitavelmente pelo diagnóstico e interpretação de análises laboratoriais, que levarão à aplicação de medidas corretivas.”
Com o lançamento do serviço em Portugal, a empresa pretende também chegar a outros mercados do Sul da Europa, nomeadamente com serviços veterinários. Segundo o médico veterinário, a aquacultura é uma área “em franco crescimento a nível mundial e é sem dúvida a área da produção animal que tem maior potencial de expansão. Isto acontece porque 70% da terra é ocupada por oceanos, mas também porque a proteína de peixe é das mais ambientalmente sustentáveis dentro da produção animal. Como em qualquer sistema, com a intensificação surgem também os problemas de saúde, e daí o grande potencial para a medicina de peixes.”
Uma área recente
Na opinião de Nuno Ribeiro, os aquariofilistas estão já mais “consciencializados para o bem-estar dos seus animais e que consultar um veterinário é uma opção lógica, evitando o célebre ‘se adoecer, compra-se outro’, que tantas vezes se ouve em animais de baixo valor económico.” Ainda assim, a medicina de peixes é ainda uma área de especialização muito recente dentro da Medicina Veterinária.
“Para se ter uma noção, apenas em 2014 foi constituído o European College of Aquatic Animal Health. É uma área fascinante, onde a possibilidade de encontrar novas patologias/agentes infeciosos em cada visita a uma exploração ou numa consulta é bem real. É também uma área em que a audácia de médico veterinário é constantemente colocada à prova, uma vez que em muitas situações não existem protocolos terapêuticos pré-definidos e temos de nos guiar pelo engenho e pelo que se conhece de outras espécies de animais”, explica.
“Quem é que se lembra que um peixe também precisa de um Veterinário?!”
Sobre o mercado em Portugal, refere que “tem a particularidade de ser escasso em médicos veterinários interessados em medicina de peixes, nomeadamente na vertente comercial. Existem alguns portugueses com formação específica, mas na sua maioria a trabalhar no estrangeiro. A formação em saúde e patologia de peixes é algo que é difícil de se obter em Portugal, sendo necessário sair do país para fazer formação e obter experiência. Isto, aliado ao desconhecimento em geral da área em si – quem é que se lembra que um peixe também precisa de um Veterinário?! – leva a um desinteresse geral da classe. Felizmente essa mentalidade tem vindo a mudar ao longo dos últimos anos, em virtude do esforço feito pelas universidades para incluir alguns conteúdos relacionados com a aquacultura nos seus programas de curso. Ainda assim, dada a singularidade destes animais, a formação específica posterior ao curso é fundamental para iniciar atividade clínica na área.”
O médico veterinário diz também que existe “um desconhecimento geral da parte do público. E mesmo por parte dos aquacultores mais tradicionais. A sociedade tem evoluído muito ao longo dos últimos anos no que concerne matérias de bem-estar animal. A mudança de mentalidades demora, mas penso que o estigma de levar um animal exótico ao veterinário em Portugal já se está a diluir, nomeadamente pela criação de Centros de Atendimento Médico Veterinário especializados nos mesmos. Relativamente aos peixes, ir ao encontro dos potenciais interessados e mostrar que ter um veterinário com formação na área é vantajoso na resolução dos problemas que surgem, será certamente o caminho a seguir.”
Nuno Ribeiro defende também que a produção animal “só é viável quando o foco da mesma é o bem-estar animal e a saúde dos animais” e refere que “o envolvimento de um médico veterinário no planeamento da própria produção poderá ser uma das maiores vantagens a nível de prevenção de problemas. Os peixes, como qualquer outro animal, quando necessitam de algum tratamento, este deverá ser prescrito por um médico veterinário. Diagnosticar corretamente um problema é a base para um bom tratamento. E para fazer uma decisão acertada acerca da necessidade do tratamento e de qual o fármaco a utilizar, um médico veterinário necessita de perceber bem todo o sistema de produção, patologia e epidemiologia das doenças em questão e quais as possíveis consequências da utilização de um fármaco. A falta destes conhecimentos fundamentais poderá levar a más decisões, que terão impactos óbvios na economia das explorações e no bem-estar animal.”