O grupo Jerónimo Martins (Pingo Doce, Feira Nova e Recheio) optou por avisar esta indústria para a necessidade de se tomarem medidas contra os preços indicados na Bolsa do Porco, que dizem ser «a par com a Alemanha, os mais altos da Europa».
«Não temos clientes com o poder de compra da Alemanha ou de Espanha, como tal não podemos comprar ao mesmo preço, ou mais caro», lê-se nas duas cartas enviadas em Julho, a que o “Jornal de Notícias” teve acesso, onde deixa o alerta de que «ou os senhores produtores entendem isto de uma vez por todas ou vamos ter graves problemas».
Estas duas missivas enviadas ao sector podem encontrar explicação na forma como funciona o mercado: os produtores vendem a retalhistas, mas sobretudo à indústria, e é esta que tem os contratos com as grandes superfícies – contratos que, muitas vezes, estabelecem preços a médio prazo, para determinadas quantidades e que são continuamente renegociados.
Neste sentido, poder-se-ia entender que esta seria uma forma de influenciar os preços a definir em bolsa. Contudo, o grupo Jerónimo Martins apresenta outra explicação.
Tratou-se de um «alerta, que teve (como tem sempre) por objectivo salvaguardar o interesse dos consumidores, de forma a manter os preços da carne de porco estáveis e mais acessíveis», contou ao “JN” fonte oficial do Pingo Doce.
A mesma fonte acrescentou que «cerca de 98% da carne suína vendida nas lojas Pingo Doce é proveniente do mercado português», sendo que o alerta surgiu pelo facto «dos preços praticados no mercado estarem mais elevados do que na generalidade dos países europeus».
Com uma opinião diferente, a Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores (FPAS), ao tomar conhecimento das cartas enviadas à indústria, já solicitou uma reunião com a administração do grupo Jerónimo Martins para que esclarecer o sucedido.
«Até à concretização dessa reunião não queremos tecer comentários sobre o que entendemos e, queremos mesmo acreditar ser uma infelicidade na redacção do texto e, por isso, queremos um total esclarecimento desse equívoco», avançou o vice-presidente da FPAS, Joaquim Dias.
O “JN” tentou obter esclarecimentos da Associação Portuguesa da Indústria da Carne (APIC), mas em vão.
Em relação à Bolsa do Porco, responsáveis garantiram que as duas cartas não influenciaram, até ao momento, a definição dos preços indicadores.
Os preços que têm sido alcançados pela carne de porco não são defendidos pelos produtores, que dizem estar a vender muito abaixo do preço de custo. «Sobrevivemos à custa das fábricas de rações, e estamos a abrir um buraco à nossa frente», contou Joaquim Dias, da FPAS.
O responsável afirmou ainda que não há possibilidade «de armazenamento, existe um ciclo a ser cumprido que não se pode alterar», adiantando que actualmente «já só produzimos 50% do que consumimos, mas em breve passaremos para os 20%».
Carne suína: Preços geram polémica no sector
Face à guerra dos preços da carne de porco ter como novo parceiro os hipermercados, o grupo Jerónimo Martins já avisou a indústria para os possíveis problemas futuros, caso os preços se mantenham como até agora.

