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Médicos Veterinários

Repensar a saúde pública com uma abordagem Uma Só Saúde

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Depois de se ter identificado em Sevilha, Espanha, um surto de febre do Nilo Ocidental, Ricard Parés, vice-presidente do Colégio de Veterinários de Barcelona, defendeu o papel dos veterinários na saúde pública global e apelou a uma abordagem de Uma Só Saúde (One Health).

Anteontem, na sequência deste surto, a Câmara Municipal de Morón de la Frontera, na província de Sevilha, procedeu à confirmação oficial da morte de um cavalo numa quinta da localidade. Na região de Sevilha, houve registo de 38 pessoas infetadas com o vírus e duas mortes.

 

Em sequência do anúncio, o Colégio Oficial de Veterinários de Barcelona (COVB) exigiu que se “repensasse” a saúde pública e que haja abordagem de Uma Só Saúde que inclua também os médicos veterinários e as zoonoses.

Em declarações à publicação Animal’s Health, Ricard Parés explicou que o aparecimento de zoonoses, como a doença causada pelo vírus do Nilo Ocidental e pela febre hemorrágica Crimeia-Congo, no sul da Península Ibérica, “demonstram a importância de coordenar a profissão médica e veterinária no que tem sido chamado Uma Só Saúde na Europa”.

 

Em Portugal, no ano passado, de acordo com o jornal Público, foram notificados três casos de cavalos doentes no Algarve e, atualmente, o mais recente mapa da distribuição do vírus na Europa identifica um surto na região de Castelo Branco.

O vírus da febre do Nilo Ocidental afeta principalmente as aves, mas, como é transmitido por um mosquito, pode também afetar os cavalos e os seres humanos. Do mesmo modo, a doença da Crimeia-Congo só é transmitida por picadas de carraças.

 

O vice-presidente do COVB salienta que algumas destas zoonoses estão a registar uma incidência crescente.

“[Doenças] como a leishmaniose, embora apareçam em percentagens muito baixas na população humana, estão a ter uma incidência crescente”, explica Parés, destacando que a Organização Mundial da Saúde (OMS) pretende erradicar a raiva até 2030, através da vacinação de cães.

O importante papel dos médicos veterinários na saúde pública

 

Os veterinários espanhóis recordaram que as oito doenças consideradas pela OMS como sendo a maior ameaça à saúde pública provêm dos animais. Como defensores da One Health, os médicos veterinários reconhecem que a saúde ambiental, humana e animal estão relacionadas e que as mudanças ambientais negativas acabarão por ser prejudicais para nós e para os animais que se encontram aos nossos cuidados.

Perante esta incidência crescente de zoonoses, Parés salienta “a importância da profissão veterinária na manutenção da saúde pública global, e a importância da sua integração em todo o sistema”.

“Demasiadas vezes o papel do veterinário está associado apenas à saúde animal, mas a sua tarefa vai muito além disso. No caso de doenças transmitidas diretamente pelos animais, o profissional veterinário pode determinar a origem de um surto, fornecer rastreabilidade e implementar medidas para evitar a sua propagação”, explicou.

Por isso, o controlo veterinário é “fundamental” na monitorização sanitária de todo o processo de produção alimentar.

A OMS tem vindo a trabalhar com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação e com a Organização Mundial da Saúde Animal, por forma a desenvolver respostas multissetoriais aos riscos de segurança alimentar e outras ameaças à saúde pública.

One Heath e a covid-19

Em fevereiro de 2020, Luís Montenegro, médico veterinário e diretor clínico do Hospital Veterinário de Referência Montenegro, explicava que “a prática generalizada da One Health [Uma Só Saúde] teria sido suficiente para evitar a crise que estamos a viver com a covid-19 ou, pelo menos, teria evitado que este coronavírus tivesse um impacto tão grande”.

“É fundamental, como desafia a Organização Mundial da Saúde, criar uma abordagem que nos permita projetar e implementar programas, políticas, legislação e pesquisa nas quais as várias disciplinas comunicam e trabalham em conjunto para alcançar melhores resultados de saúde pública”, acrescentou.

Alguns estudos mostraram que o SARS-CoV-2 pode ter origem em morcegos, tendo-se propagado aos seres humanos a partir de um outro hospedeiro intermediário.

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