A afirmação é da médica veterinária Ana Oliveira, no âmbito das Conferências Kimipharma sobre o conceito One Health, que decorreram no passado mês de outubro. A oradora trouxe ao evento a temática da multirresistência antimicrobiana e, em entrevista exclusiva à VETERINÁRIA ATUAL, fala sobre a mais-valia do mel como antibacteriano.
A multirresistência aos antimicrobianos, tal como acontece com os humanos, também já é um problema na medicina veterinária…
A multirresistência aos antimicrobianos já acontece em bastantes casos de animais de companhia. Por exemplo, o Staphylococcus adquire genes de resistência não só a uma classe de antibióticos, mas a várias. Acontece com esta bactéria, mas com outras esse mecanismo de resistência também é amplamente conhecido, amplamente provado e bem documentado com estudos genéticos.
O mel, usado há milénios, poderá também ser usado de forma profilática como forma de prevenir o aparecimento de novas resistências antimicrobianas?
Sim, quando se tem uma ferida pode ser usado como tratamento tópico. Não temos de estar à espera de situações de resistência aos antimicrobianos para usar o mel, podemos usar logo no primeiro dia, independentemente do tipo de infeção.
Como é um antibacteriano, eventualmente estamos a fazer com que não seja necessário usar um antibiótico ou então que tenhamos um efeito mais rápido que permita usar antibioterapia durante menos tempo, o que ajuda a diminuir a possibilidade do surgimento de resistências.
O que falta então para que seja um procedimento comum da prática clínica veterinária?
Faltam estudos clínicos em determinadas situações. Tal como na medicina humana é preciso haver estudos de prova de eficácia.
E às vezes também falta um pouco de hábito que, gradualmente, vai sendo inserido, de certeza absoluta.
Na medicina humana já temos vários produtos à base de mel nas farmácias para o tratamento de feridas.
Atendendo às várias utilizações do mel e à importância que a abelha tem nos ecossistemas, este inseto quase poderia ser o embaixador da abordagem One Health?
Sem dúvida, porque este movimento não passa só pela saúde humana e pela saúde animal, passa também pelo ambiente e a abelha está posicionada como a polinizadora por excelência. Essa polinização é essencial para manutenção dos ecossistemas natural e para a manutenção do equilíbrio do meio ambiente.