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Enfermeiros Veterinários

A voz que faltava aos enfermeiros veterinários portugueses

Presidente da Associação de Enfermeiros Veterinários Portugueses

Tornou-se sócia da Associação de Enfermeiros Veterinários Portugueses (AEVP) em 2009 e, no final do ano passado, vê a lista que representava ganhar as eleições, tornando-se, assim, presidente a exercer durante um mandato de dois anos. Defensora acérrima da causa animal, desde cedo percebeu qual era o seu caminho. Como representante dos enfermeiros veterinários quer continuar a ter voz ativa na luta pela valorização e regulamentação da profissão.

Isabel Oliveira da Cunha tem 31 anos, nasceu em Matosinhos, e reconhece que a sua ligação ao mundo animal surgiu logo em pequena. Aos 14 anos começou a fazer voluntariado em associações de defesa animal e a trabalhar como voluntária em clínicas veterinárias. Aliou a paixão à necessidade de conhecimento e ingressou, em 2008, no curso de Enfermagem Veterinária na Escola Superior Agrária de Ponte de Lima.

 

Trabalhou numa clínica veterinária de pequenos animais durante um ano e, nessa altura, sentiu algumas dificuldades em definir uma posição no ambiente de clínica. “A meu ver as clínicas veterinárias não estavam ainda preparadas nem ‘sensibilizadas’ para o trabalho que um enfermeiro veterinário poderia fazer. A definição de equipa multidisciplinar nunca existiu e senti que as funções que exercia não eram adequadas às minhas competências e acabei por não renovar o meu contrato”, revela.

Mais tarde concorreu ao Passaporte do Empreendedorismo, tendo conseguido financiamento para a criação do Centro Bem Estar Animal – Patinhas de Sabão em Matosinhos, projeto que continua a dar frutos desde 2014. Isabel Oliveira da Cunha tem tido um papel interventivo na luta pela causa animal e pela valorização da enfermagem veterinária em Portugal. Mas o seu percurso não se fica por aqui. Em dezembro de 2020 foi eleita presidente da Associação de Enfermeiros Veterinários Portugueses (AEVP). Na seguinte entrevista conta-nos como tudo começou e revela o que a nova direção traz de novo.

Como é que surgiu o interesse pela enfermagem veterinária?
 

O que me fascina é sem dúvida a gratidão! Por mais pacientes que nos possam passar pelas mãos acho que só quem trabalha com animais tem real noção da gratidão que pode existir no olhar de um animal ‘aliviado e confortável’. E isso paga tudo!

Como é que chegou à AEVP?

Desde o I Congresso de Enfermagem Veterinária, em 2009, que me senti com vontade de pertencer à Associação e foi nesse mesmo congresso que me tornei a sócia promessa número 33, ainda no mandato da Catherine Fernandes (a fundadora da AEVP). Contudo, e como já havia elementos a reger a associação, limitei-me a acompanhá-los. Estes desenvolveram bastantes projetos no que diz respeito à formação de enfermeiros veterinários, tanto em formações técnicas como também em softskills. Depois, em 2016, o Adérito Ortelá encabeçou a AEVP onde, em paralelo com a vertente formativa, começou a dar pequenos passos na formação de um código de conduta que regesse os enfermeiros veterinários. Após o término do seu mandato não houve novas candidaturas e a Associação foi ficando adormecida.

É a primeira vez que assume um cargo de direção ao serviço da sua profissão?
 

Como aluna sempre me considerei ‘reivindicativa’. Fui representante de curso e fiz questão de expor sempre as minhas opiniões – positivas e negativas – que encontrei ao longo da minha formação.

Palestras na Escola Superior Agrária de Ponte de Lima

Como surgiu a hipótese de ser presidente da AEVP e o que a levou a aceitar o cargo?

Apesar de já ponderar há bastante tempo a possibilidade de reabilitar a Associação foi com a chegada da pandemia, e a obrigatoriedade de estar em casa, que ganhei o tempo que precisava para perceber o que era necessário para a sua reestruturação. Entrei em contacto com o Adérito em setembro, que prontamente se disponibilizou a ajudar, e mostrou a sua vontade em voltar a definir um rumo para a profissão através da Associação. Para isso, e como não existiam sócios ativos, foi necessária a criação de uma comissão interina, que foi composta no dia 5 de outubro por mim, pela Melanie Santos e pela Mariana Ferreira. Com esta comissão interina conseguimos, até agora, cerca de 60 associados, valor que apesar de pequeno é dos maiores números de sócios ativos desde a criação da Associação. Após a existência de sócios realizámos o ato eleitoral, que aconteceu no passado dia 12 de dezembro. A Lista C saiu vitoriosa, já estava pensada há muito tempo e todos os elementos foram escolhidos a dedo. Esta lista é composta por mim e por uma equipa de dez enfermeiros veterinários com formação em diferentes escolas do país, com diferentes áreas de trabalho e a exercerem funções em diversas partes do mundo. O objetivo é que possamos abraçar o máximo de realidades possíveis no nosso núcleo de trabalho.

 

Como aluna sempre me considerei ‘reivindicativa’. Fui representante de curso e fiz questão de expor sempre as minhas opiniões – positivas e negativas – que encontrei ao longo da minha formação.


Calculo que agora a Associação esteja mais forte e focada que nunca. O que traz de diferente esta nova direção?

O trabalho que tem vindo a ser feito por cada enfermeiro veterinário deste País tem sido crucial no desenvolvimento da nossa profissão, contudo considero que será benéfico para todos o associativismo. Já temos inúmeros projetos em andamento, mas posso adiantar os cinco grandes objetivos de trabalho: dinamizar a interação entre colegas; criar proximidade com os diferentes mercados de trabalho; regulamentar a enfermagem veterinária; divulgar a profissão ao público em geral; e elaborar regulamentos que aproximem a AEVP aos requisitos para uma Associação Pública Profissional (Ordem).

O trabalho que tem vindo a ser feito por cada enfermeiro veterinário deste País tem sido crucial no desenvolvimento da nossa profissão, contudo considero que será benéfico para todos o associativismo.

A criação desta Lista C resulta da necessidade imperiosa de proteção, reconhecimento e comunicação eficaz de projetos envolventes, para uma profissão que, em Portugal, apesar de já ter dado muitos passos necessita imperativamente de uma definição e conduta legal. Para executar tudo aquilo a que nos propomos contamos com a colaboração de todos aqueles que se possam tornar sócios e connosco acreditarem onde podemos chegar. Para isso existe muito trabalho de pesquisa e adequação à realidade atual da profissão no nosso país.

A nosso favor e em plena pandemia temos as redes sociais e as plataformas digitais que possibilitam o difundir da mensagem e a comunicação entre todos mais facilmente.

Em que estado se encontra a enfermagem veterinária em Portugal?

As funções de um enfermeiro veterinário são tão específicas, diversas e abrangentes, que deram origem a muitos ´mitos’ de ousadia absurda, mas também abusos que nos prejudicaram e prejudicam desde sempre.

Uma das tarefas a que nos propomos como Associação passa também pelo estudo da realidade da enfermagem veterinária no País, que apesar de pequeno encara variadas e muito dispares verdades.

Por isso, não posso dar como totalmente real a minha vertente da profissão porque ainda não me sinto na capacidade total de conhecimento para responder em boa verdade. Espero em breve poder fazê-lo, respeitando e representando a opinião de todos. Desejamos representar todos os enfermeiros veterinários, seremos a voz de todos, sem exceção.

Queremos o melhor para o futuro desta profissão no nosso País.

 

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