Maggie, Calimero, Caio e Abelha Maia. Foram estes os animais que nos apresentaram no Centro Veterinário de Exóticos do Porto (CVEP). E sim, nenhum era propriamente um cão fofinho. Exóticos. Animais exóticos. A Maggie é uma cobra, o Calimero e a Abelha Maia são coelhos e o Caio um Gecko Leopardo. Espécies que fazem as delícias de Joel Ferraz, o médico veterinário que em março de 2009 abriu aquele que se tornaria no primeiro centro exclusivamente dedicado a animais exóticos do Norte do país.
Alguns meses após a abertura, entrevistamos Joel Ferraz que nos explicou ter juntado o útil ao agradável. Ou seja, juntou a sua paixão pela veterinária e pelos animais exóticos a uma oportunidade de negócio. No seu entender já se justificava uma clínica no Porto exclusivamente dedicada a este tipo de animais. Nascia assim o Centro Veterinário de Exótico do Porto que, além servir os seus próprios pacientes, pretendia funcionar como apoio a outros centros veterinários. Hoje, passados seis anos, confirmamos a profecia de Joel Ferraz. “O negócio tem crescido, apesar de uma forma relativamente lenta. No início é verdade que tivemos um boom bastante acentuado e senti um aumento considerável de negócio relativamente a quando trabalhava em sistema de freelancer e me deslocava às clínicas. Depois abrandou. Crescemos todos os anos, e isso é muito importante, mas de forma lenta”.
“Hoje somos mais referenciados”
Também em termos de notoriedade o nível tem vindo a aumentar, nomeadamente através da referenciação por parte de outras clínicas que não abraçam esta área da veterinária. “Aliás, os nossos maiores clientes acabam mesmo por ser as clínicas que nos referenciam os casos. Isso tem crescido bastante. Na maioria das vezes não se justifica ter esta área nas clínicas, só os grandes hospitais é que o fazem. E mesmo essas unidades maiores acabam inevitavelmente por se focar no cão e no gato, tendo um profissional que vai lá atender às necessidades”. Ou seja, mesmo as grandes unidades acabam por recorrer ao CVEP quando falamos de internamento e cirurgia. “Aqui temos uma equipa 24 horas dedicada a este tipo de animais”.
Passados seis anos, quisemos saber se de alguma forma, e nomeadamente por contingências do próprio mercado, se houve necessidade de alterar a estratégia inicial. “Um dos objetivos que tenho traçado e que ainda não consegui concretizar como gostaria é subdividir a parte dos exóticos. Ou seja, a minha ideia inicial – e que ainda não desisti dela – é um de nós dedicar-se aos répteis e outro às aves porque são tantas as anatomias e patologias diferentes que é difícil ser muito bom e especializado quando temos de tratar de todos. Isso ainda não consegui concretizar, tem a ver com o mercado, para garantir os turnos seria muito complicado, mas é uma ideia que tenho para o futuro.”
De resto há cada vez mais pessoas a querem ter um exótico como animal de estimação. Joel Ferraz acredita que há um maior conhecimento por parte da população, que começa a interessar-se por novas espécies. O exemplo mais recente é o furão. “São animais muito simpáticos. Há pessoas que gostam de ter animais diferentes, ou porque é giro, ou porque não têm disponibilidade, por exemplo, para terem um cão, que obriga a ir à rua. Os animais mais pequenos, dentro dos exóticos, são por vezes mais fáceis de se ter”. No entanto, Joel Ferraz alerta que não se deve generalizar. Há animais e animais. E alguns, mesmo de pequeno porte, não quer dizer que deem menos trabalho. “É claro que depois também ajuda as pessoas saberem que existem veterinários para fazerem tratamentos e assistência veterinária aos seus animais. Porque sempre houve pessoas a terem animais exóticos. Só que hoje acredito haver mais comprometimento, mais dedicação. Sempre houve pessoas com canários, com periquitos, com hamsters. Mas não iam ao veterinário.” Na verdade, e apesar de hoje ser um pouco diferente, ainda há um pouco a mentalidade do “por esse preço compro outro hamster”.
Novo mamografo vai marcar a diferença
Ainda não está em funcionamento, mas já o vimos. A Clínica adquiriu recentemente um mamógrafo – usado na medicina humana – para conseguirem ter mais definição de imagem nos pequenos animais. “Muitas vezes o RX normal, ou mesmo o digital – que em cão e gato até funciona –, quando falamos num animal muito pequenino não resulta muito bem. É um pouco como na fotografia, parece que nos dá muitas opções, mas depois ampliamos e não tem definição suficiente. É a mesma coisa quando falamos, por exemplo, num RX digital de um canário. Conseguimos mexer na imagem, mas depois ampliamos e vemos que não temos definição. Na mamografia sim, vou conseguir obter a qualidade que pretendo”.
Mas que não se pense que pela clínica só passam animais de pequeno porte. Cangurus e tigres, neste caso de circo, são visitas do centro de exóticos. “E aparecem também aves de rapina ou tarântulas”. Aos seis anos, a filha de Joel Ferraz tem como animal de estimação uma cobra. Precisamente a Maggie, que tinha ido visitar o centro por um problema de pele. Como se cria afetividade com um destes animais? “Não tem de ser uma ligação no sentido de ternura ou de interligação, como há com um cão ou gato. Podemos comprar mais a ter um aquário de peixes”. Ou seja, há pessoas que têm um réptil, ou um anfíbio, e que não desenvolvendo propriamente um tipo de carinho, gostam de reproduzir o que se passa na natureza. “Há pessoas que são fascinadas com isso. Que gostam de ter uma cobra e admiram o momento em que vão colocar um ratinho vivo e assistem à cena de caça, como se fosse o National Geographic”.
Na verdade Joel Ferraz diz não haver um cliente-tipo. “Tenho vários clientes-tipo. O cliente de um coelho não é um cliente de uma cobra. E mesmo dentro dos clientes do coelho há quem venha muitas vezes, mas com coelhos diferentes porque são criadores e depois há quem tenha no coelho o melhor amigo e que faz de tudo para o salvar”. De qualquer forma, também aqui, tal como com o cão ou gato, o médico veterinário diz sentir um maior investimento dos donos na saúde do animal. “Tem crescido, sim. Mas somos sempre o parente pobre da medicina veterinária. Porque há pessoas que dão tudo pelo seu animal, mas há quem não tenha vergonha em dizer que não vale a pena investir. Ou que se for para dar muito trabalho a levar e a trazer, se calhar já não vale a pena. Ou pelo dinheiro, pela disponibilidade ou pela paciência somos o parente pobre. Eles dizem mesmo: se ainda fosse o meu cão, ou o meu gato”…