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Animais de companhia

Projeto Cãosigo inaugura pavilhão em Alvalade

Pavilhão Cãosigo

A iniciativa da terapeuta Daniela Custódio foi fundada há quase dez anos e recebeu agora um pavilhão próprio para acolher as suas atividades de terapia de intervenção assistida por animais.

Foi um grande dia para Luna, uma labrador retriever cor de chocolate, mas a cadela de sete meses assistiu a tudo, impassível, enquanto roía o snack de osso que lhe tinha sido dado pela sua treinadora, Daniela Custódio. A sua quietude, pontuada por momentos de impetuosidade característicos da idade, revela a seriedade da sua função.

 

Luna é uma das três cadelas de Daniela, terapeuta de intervenção assistida por animais, que começou por trabalhar como educadora de acolhimento há 20 anos e introduziu os animais nas suas atividades em 2010, criando assim o projeto Cãosigo. A sua primeira cadela foi Zoya, uma golden retriever já reformada com 13 anos, à qual se seguiu a ‘rafeira’ Djadja, com dez. Luna é a mais recente adição a esta equipa, que ajuda crianças e jovens com surdo-cegueira, autistas ou com outros problemas de desenvolvimento a promoverem as suas competências sociais, a fomentarem competências de comunicação e a sua capacidade sensorial e a aumentarem a sua autonomia, entre muitos outros benefícios. Ontem, dia 3 de dezembro, Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, Luna tinha bons motivos para estar quieta, mas atenta: após quase dez anos em funcionamento, o projeto Cãosigo inaugurou o seu pavilhão no Centro de Educação e Desenvolvimento (CED) António Aurélio da Costa Ferreira, em Alvalade, Lisboa.

Para a sua treinadora e cuidadora, Daniela Custódio, que realiza atividades no âmbito deste projeto com 33 crianças e jovens deste e outros CED da Casa Pia de Lisboa, ver um espaço destinado à sua iniciativa foi “uma emoção”.

Daniela Custódio discursa (com um casaco cor-de-rosa) na inauguração do Cãosigo. À esquerda, José António Borges, presidente da JF Alvalade, e Carlos Manuel de Castro, vereador da CM Lisboa

 

“São estes pequenos projetos que marcam a vida das pessoas”, disse Carlos Manuel de Castro, vereador da Câmara Municipal de Lisboa e responsável pelos pelouros do Desporto, Higiene Urbana, Proteção Civil e Regimento de Sapadores Bombeiros, que substituiu na cerimónia de inauguração o presidente da CM Lisboa, Fernando Medina, entretanto chamado a dar as boas-vindas à ativista sueca Greta Thunberg.
“Na comunidade, os animais têm um papel valioso. Estamos a procurar fazer um trabalho de valorização dos animais em Lisboa, mas que isso também possa contribuir para a comunidade. Os animais são grandes aliados no nosso bem-estar”, acrescentou o vereador, que foi acompanhado na inauguração pelo presidente da Junta de Freguesia de Alvalade, José António Borges, e pela vice-presidente da Casa Pia de Lisboa, Joaquina Franco.

Um dos cantos de brinquedos do novo pavilhão

O cão como terapia
Depois de uma formação intensiva em Madrid, Daniela Custódio criou o projeto Cãosigo em 2010. Inicialmente, continuou as suas funções como educadora de acolhimento, realizando em paralelo as atividades como terapeuta de intervenção assistida por animais na companhia de Zoya. A escolha destes animais, incluindo a sua raça, não é feita ao acaso: “Adquiri uma golden porque dava diferentes experiências sensoriais [referindo-se ao pelo da cadela] a estes educandos.” O projeto começou no CED de Alvalade, mas acabou por se estender a outros colégios da Casa Pia, nos quais Daniela e Zoya procuravam desenvolver as competências de crianças em situações de risco, com problemas de consumo ou até já com um historial com a Justiça.

 

“O projeto foi crescendo de tal forma que tive de deixar o acolhimento. Tive uma proposta da direção porque já não conseguia dar resposta a tanta procura. Neste momento, não trabalho mais porque não tenho horário, há muitas candidaturas a chegar”, conta a terapeuta. As novas instalações, no recém-inaugurado contentor no CED António Aurélio da Costa Ferreira, permitem a Daniela e às suas cadelas receber pais e crianças com conforto e num ambiente tranquilo.
“Também se trabalha muito as emoções, proporcionamos um tempo para estar com o animal, calmamente, só a senti-los, a sentir aquele afeto que podem ter pelo animal. Está provado que libertamos uma hormona responsável pela felicidade, que é a oxitocina, quando acariciamos animais. Só o contacto por si só com o cão é uma grande ajuda para estas crianças, nomeadamente na surdo-cegueira.”

No espaço, há recantos próprios para sentar e deitar com os cães, vários brinquedos e fotografias ilustrativas das muitas atividades ali promovidas, em que se veem cães e jovens lado a lado. Como explica a terapeuta, este é um trabalho que “envolve grande criatividade na adaptação de materiais de trabalho à participação do cão e aos objetivos que são desenvolvidos pela equipa multidisciplinar”. E sublinha: “Nas intervenções, todos trabalhamos com reforço positivo.”

 

Para Daniela, o bem-estar de todos é fundamental. Embora já reformada, Zoya continua muitas vezes a acompanhar a sua cuidadora no trabalho para não estar o dia todo sozinha em casa. A sua substituta, Luna, começou a ser treinada aos dois meses de idade. “Teoricamente, o cão estaria pronto com um ano de idade, mas depende da maturidade do animal, do treino que o cuidador lhe conseguiu dar. Só se coloca um animal destes com os utentes quando se vê que ele está realmente preparado para todas as situações, quer de risco para ele próprio, porque são confrontados com situações que podem ser desconfortáveis para eles e stressantes, mas também preparados no plano da obediência, habilidades para executar a atividade desenhada pelo técnico e maturidade.”

No futuro, Daniela admite que possam ser integrados mais um ou dois animais no projeto. Por enquanto, Luna vai continuar a observar e a aprender. Terminado o seu treino, não terá tanto tempo para roer o seu osso com impassividade: há muito trabalho pela frente.

 

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