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Opinião

Quais as principais tendências na Veterinária para 2018?

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Ano novo rima com novas modas e novas tendências e o universo da medicina veterinária não é diferente. O que nos espera em 2018? Quais as áreas que vão estar em destaque? Não temos uma bola de cristal para adivinhar o futuro, mas uma análise ao mercado interno e externo permite adivinhar o que vai estar em destaque.

Pedimos à médica veterinária Elisabete Capitão para nos dar uma ajuda. Eis as suas 7 tendências.

  1. As expectativas dos tutores continuarão a aumentar

Em todos os sectores e a veterinária não é exceção vivemos numa cultura allways on: os pet owner esperam de nós um serviço disponível 24/7, tecnologia e técnicas médicas highttech a preços competitivos e on top um serviço personalizado. Quando conseguem tudo isto, estes pet owner falarão de nós nas redes sociais, mas quando se sentem desapontados rapidamente postam feedback negativo.

Sempre considerámos o word of mouth o pão com manteiga das clínicas veterinárias, barato e com um efeito fenomenal na captação de novos clientes. Hoje em dia as experiências começam on-line com uma procura num motor de busca, especialmente nos consumidores com menos de 45 anos, que confiam nas novas tecnologias para lhes mostrar qualquer tipo de produto ou serviço que imaginam ou procuram, serviços veterinários incluídos. A pressão competitiva aumenta com a partilha de experiências on-line destes tutores.

Este word of mouth amplificado é muito mais rápido que no passado e fará um push no sentido da melhoria da qualidade dos serviços que o sector disponibiliza. Os negócios veterinários com maior probabilidade de serem bem-sucedidos são aqueles que vão conseguir ir ao encontro destas expectativas, tirando todas as vantagens destas novas oportunidades: presença forte na web, desenvolvimento de novas rotas de mercado para estes consumidores on-line, etc.

  1. Os negócios veterinários estão a crescer em tamanho

Tem havido transformações muito significativas iniciadas nos EUA e UK no que respeita à organização do mercado: as clinicas veterinárias estão a agrupar-se debaixo do chapéu de grandes corporações ou fundos de capital de risco. Atualmente cerca de 30% das clinicas veterinárias no UK fazem parte de grandes grupos, espera-se que até ao final de 2018 cresça até aos 50% e imagina-se que em cinco anos se aproxime dos 70%. Espanha e Portugal seguem a mesma tendência, embora a velocidades distintas: falamos por exemplo do OneVet Group da Inter-risco e do Fundo de Capital de Risco Collins, com sede em Barcelona, que no início do ano entrou no capital do ARS em Barcelona e entra agora no capital do quinto hospital de referência em Espanha – Vetsia, em Madrid. Com isto, os tutores muito em breve vão estar a ir com os seus animais a estas cadeias em vez de pequenos negócios independentes. Esta mudança trará imensos benefícios de economia de escala, eficiencia dos protocolos, standartização dos serviços, mas qui ça menos liberdade clinica para os veterinários, mais controlo de gestão nos acontecimentos diários da clínica e um foco mais marcado nos “profits”.

  1. Aumento de veterinários especialistas

Desde cirurgiões oncológicos, dermatologistas ou oftalmologistas, temos vindo a observar um aumento do número de veterinários que continuam a sua formação desenvolvendo a sua “expertise” e a obter qualificações para exercer em áreas de nicho. Confiantes que aumentarão os casos referenciados desde os clínicos gerais, buscam a satisfação profissional de quem leva a cabo uma missão ao mais alto nível do conhecimento e competências técnicas que se conhecem. A integração destes colegas nas equipas de trabalho é todo um caminho novo a percorrer e quero acreditar que o mercado lhes vá possibilitando a casuística suficiente para que possam robustecer o seu know-how e distanciar-se daqueles que, até agora, apelidámos de “veterinário com área de interesse”.

  1. A tecnologia já é uma realidade

O uso da tecnologia no nosso dia-a-dia tem crescido a uma velocidade alucinante e de forma disruptiva, possibilitando avanços no diagnóstico, na monitorização dos pacientes e na terapêutica. Tentamos resistir, mas a telemedicina está a ter um impacto brutal na forma como nos relacionamos com os tutores dos animais e todas a wearable technology (smartphones, apps, smartwatchs, leitores de actividade, etc) nos estão a permitir recolher informação que nos ajudará a contruir big data e assim monitorizar melhor a saúde dos nossos animais e criar novas necessidades, bem como conhecer profundamente o comportamento dos nossos consumidores e melhorar a eficiência dos nossos serviços.

  1. A sustentabilidade dos seguros pode estar em causa

Todas estas melhorias tecnologicas, a que os veterinários não conseguem resistir, têm um preço (um equipamento de ressonância state of the art, equipamento laboratorial de ponta, novas ferramentas cirúrgicas, um equipamento de video-endoscópio 3D – El Diablo®) e inevitavelmente o preço dos nossos serviços terá de subir. Em países em que cerca de 30% dos animais têm seguros de saúde já se pergunta como irão os outros 70%, que não têm seguros, pagar por esta medicina state of the art. Esta pressão competitiva poderá levar-nos a repensar a estratégia e oferecer uma medicina mais acessível?! Por outro lado, as companhias de seguros ao vislumbrar este panorama crescente do escalar dos custos do sector veterinário, já o veem como insustentável. Pergunto-me: a qualidade dos serviços é indubitavelmente melhor, mas será acessível, mesmo para animais com seguro de saúde?

  1. Golden Age para os Planos de Saúde

Sabemos que a medicina preventiva tem custos menores e resulta num aumento da esperança média de vida e num aumento da qualidade dos anos vividos. Afirmação transversal tanto para tutores, como para os seus animais de estimação, ou devo dizer “novos filhos peludos”, que procuram soluções e experiências para os seus animais que quadrem com as suas próprias crenças e necessidades: falamos dos cuidados com a alimentação & wellbeing, a sustentabilidade e origem das materias primas, a conveniência, etc. A implementação de planos de saúde nas nossas clínicas é sem dúvida um caminho que há muito andamos a adiar por um ou outro motivo, mas que é uma ferramenta poderosa de fidelização e que além de aumentar a frequência de visitas, potencia em 2 a 3 vezes a cesta média. Por outro lado, animais que cumpram planos de saúde são candidatos de risco menor aquando da contratação de seguros de saúde e isto poderá ser uma lufada de ar fresco para o futuro dos seguros. Vale a pena pensar nisto.

  1. Melhor equilíbrio entre trabalho e vida pessoal

Recordo-me que quando comecei a trabalhar era normal fazer os turnos noturnos e fins-de-semana que fossem necessários. Aliás, até gostávamos do conceito de “estar on call”, estar de prevenção fazia-nos sentir importantes. Hoje em dia, as equipas mais jovens já não entendem o conceito de estaron call”, ou estás no teu turno ou não estás. Com uma das taxas de burnout e suicídio mais altas, as nossas equipas começam a reconhecer a necessidade e importância do equilíbrio entre as horas de trabalho e o tempo disponível para a vida pessoal, exigindo horários mais justos e flexiveis que não comprometam o tempo de folga. Acredito que isto não faça deles preguiçosos ou narcisistas, mas pessoas com a capacidade de verbalizar aquilo que querem e acreditam.

A velha veterinária, como alguns de nós a conheceu, mudou. E este novo mundo é excitante, incerto e complexo, mas cheio de possibilidades para trabalharmos naquilo que mais gostamos: ajudar animais e a quem vê nos animais a sua companhia ou família. A todos vós, parabéns por mais um ano de trabalho, investimento e dedicação. 2018 é uma carta fechada, mas acredito que um bom balanço e algum planeamento do vosso negócio, com uma atitude proativa relativamente ao que se avizinha, serão os ingredientes chave para o sucesso.

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