Qual a relevância de um estudo com esta abrangência, ou seja, que decorreu durante um largo período de tempo e envolveu um grande número de animais?
Muito importante! O grupo de investigação independente sobre bioagressão, epidemiologia e análise de risco do INRA / ENVN (École Nationale Veterinaire de Nantes) completou esta pesquisa única, recentemente tornada pública. Foram incluídos neste estudo 698 bovinos, selecionados aleatoriamente de 51 unidades de engorda. Estes foram acompanhados durante seis semanas após a chegada, ao longo de um período de 20 meses (dois invernos consecutivos). As explorações envolvidas na pesquisa situam-se em Paysde-Loire, uma região na zona oeste de França com uma longa tradição no que respeita à produção de carne (animais desmamados comprados em áreas de reprodução da raça charolês, aquitane e limousine).
Quais as principais conclusões do estudo?
A doença respiratória bovina (DRB) é muito frequente em animais de engorda, especialmente durante as primeiras três semanas após a chegada às unidades de engorda. De acordo com o apurado, 55% dos casos de DRB aparecem na primeira semana após a chegada. Contudo foi ainda verificado que 20% de novos casos ocorrem durante a terceira semana.
Quais são os principais fatores de risco de DRB em unidades de engorda?
Alguns fatores desempenham um papel importante no aparecimento da DRB, enquanto outros que se julgava que tinham influência… nem por isso. Entre os fatores-chave encontram-se a junção de animais provenientes de várias explorações (quanto mais se juntar animais oriundos de unidades diferentes numa determinada exploração de engorda, um maior número deles poderá vir a adoecer); a mistura de animais mais jovens com outros mais velhos; e a ausência de vacinação viral (vírus sincicial respiratório – RSV) e bacterial (Pasteurella agora chamado Mannheimia). Sendo este último fator o mais importante e o estatisticamente mais significativo. Quanto àquelas circunstâncias que não têm grande influência no surgimento de DRB, pode-se citar a mistura de animais com diferentes pesos, o que é uma surpresa, já que se pensava que este poderia ser um fator predisponente; a presença ou ausência de Mycoplasma bovis (que não afetou a ocorrência de DRB) e a raça.
Como é que se pode tratar a doença respiratória bovina?
Mais do que preconizar formas de tratamento, este estudo deixou bem claro que a prevenção através da vacinação (nomeadamente RSV e Mannheima) pode reduzir a ocorrência de DRB. As questões de maneio também desempenham um papel fundamental, designadamente limitar a mistura de animais de diferentes origens, embora isto seja, por vezes, complexo de conseguir. As opções de tratamento são numerosas, mas as que privilegiam um antibiótico de grande difusão (para os pulmões) e o uso de um anti-inflamatório provou ser o melhor retorno sobre o investimento. Também a deteção precoce de casos pelo produtor mostrou-se uma questão importante para maximizar o resultado do tratamento.
Leia a entrevista na íntegra na próxima edição da VETERINÁRIA ATUAL