Em dezembro último, a Câmara Municipal de Tavira (CMT) inaugurou oficialmente a Unidade de Bem-Estar, Saúde e Sanidade Animal (UBESSA), anteriormente conhecida como Canil e Gatil Municipal. Em entrevista exclusiva à VETERINÁRIA ATUAL, a presidente da autarquia algarvia, Ana Paula Martins, ressalva que este projeto – que reflete o compromisso do município com a proteção e melhoria das condições de vida dos animais – assenta não só em novas instalações, “mais adequadas, modernas e funcionais”, mas também em “programas de informação, sensibilização e capacitação da população”, com incentivo à “adoção responsável e consciente”.
A história da UBESSA de Tavira remonta a 30 de setembro de 2022, dia em que o Plano Municipal para Bem-Estar e Proteção Animal (PMBEPA) foi aprovado em Assembleia Municipal. Com 49 ações previstas em várias áreas – sensibilização e educação da população para o bem-estar dos animais, controlo reprodutivo, prevenção do abandono de animais de companhia, controlo da população de animais errantes, combate aos maus-tratos dos animais e proteção dos animais em fogos rurais, entre outras –, o PMBEPA permitiu o investimento no novo Centro Municipal de Bem-Estar Animal (CMBEA), com a aquisição do espaço e dos imóveis pertencentes à antiga Sociedade Protetora de Animais (SPA), em Fonte Salgada, no valor de 500 mil euros. O município de Tavira procedeu, então, à primeira fase da sua reabilitação e, entretanto, foram feitas algumas intervenções, num investimento que “está em curso e a ser feito de forma progressiva”, esclarece a autarquia.
O objetivo é oferecer condições “modernas e funcionais”, assegurando o funcionamento do CMBEA, onde também passam a funcionar os serviços da recente UBESSA, que integra a Divisão Municipal do Ambiente. “O projeto reflete o compromisso do município com a proteção e melhoria das condições de vida dos animais e reforça ainda o seu compromisso com a responsabilidade social na construção de uma sociedade mais justa, informada e consciente”, frisou a autarquia em comunicado, aquando da inauguração do novo espaço.
A UBESSA de Tavira é, assim, um espaço da responsabilidade que visa a recolha e o alojamento de animais de companhia que se encontrem vadios, errantes ou abandonados na via pública. Não pode funcionar como local de reprodução, venda, hospedagem ou prestação de serviços clínicos não oficiais, pode ler-se no website desta Unidade.
“As instalações representam um marco essencial para consolidar Tavira como um espaço de referência nesta área, oferecendo condições adequadas para acolher e cuidar de animais abandonados ou vítimas de maus-tratos”, explica a presidente do município, Ana Paula Martins.
Novo espaço para uma melhor resposta
Muito anterior à aprovação do PMBEPA, na história da UBESSA de Tavira, já existia a necessidade e a vontade de dotar o concelho de melhores condições em termos de bem-estar animal, seguindo a evidência e recomendações mais atuais das entidades competentes na matéria, bem como a legislação e a tendência de evolução social neste contexto. Ana Paula Martins não esconde a ambição de tornar Tavira num “município de referência em questões de bem-estar animal”.
“As instalações representam um marco essencial para consolidar Tavira como um espaço de referência nesta área, oferecendo condições adequadas para acolher e cuidar de animais abandonados ou vítimas de maus-tratos” – Ana Paula Martins, presidente da Câmara Municipal de Tavira
No antigo espaço (Canil e Gatil Municipal), situado na cidade, “nem sequer podíamos ter um centro de recolha”, recorda a presidente da CMT, adiantando que as novas instalações representam uma melhoria significativa em termos de condições de bem-estar animal, mas também de trabalho para os próprios colaboradores. O reforço da equipa com mais recursos humanos é imprescindível para melhorar ainda mais a resposta da UBESSA às necessidades identificadas. Porém, o recrutamento é sempre um processo desafiante, reconhece a autarca socialista, admitindo que este já está em curso no âmbito do PMBEPA.
O voluntariado (na forma de passeadores de cães ou de famílias de acolhimento, por exemplo) e as parcerias com associações de proteção animal e clínicas veterinárias são formas de contornar este e outros desafios no terreno, destaca a responsável. Desta forma, a autarquia do sotavento algarvio é capaz de desenvolver programas de Captura-Esterilização-Devolução (CED), apoiar na esterilização/vacinação dos animais de companhia dos seus munícipes com maiores dificuldades económicas e responder a intervenções de urgência de que os animais recolhidos possam necessitar. Além disso, destacam-se ainda outras iniciativas levadas a cabo pela UBESSA, tais como campanhas e ações de informação, sensibilização (nomeadamente contra o abandono) e capacitação em escolas e junto da população e “cãominhadas”, fortalecendo desta forma o envolvimento ativo da comunidade na causa animal e promovendo o voluntariado.
“A casa está construída… Agora, faltam os acabamentos”
Além de recolher, resgatar, acolher e tratar os animais, o município de Tavira incentiva a “adoção responsável e consciente”, sublinha Ana Paula Martins, promovendo o encaminhamento destes animais para processos de “adoção responsável” e garantindo-lhes assim uma “nova oportunidade de vida com dignidade e proteção”.
Esta aposta forte no bem-estar animal, “com um novo espaço mais adequado também às visitas de quem pretende adotar, é uma grande mais-valia neste sentido da adoção responsável e os números de 2024 falam por si (ver caixa)”, sustenta a presidente da CMT.
O reforço da presença da UBESSA nas redes sociais também é uma das estratégias para garantir a sustentabilidade da Unidade e a concretização dos objetivos do município de Tavira em termos de bem-estar animal e social. No futuro próximo, neste contexto, a autarquia liderada por Ana Paula Martins pretende dar continuidade às medidas previstas no PMBEPA. “Para já, a estrutura da casa está terminada… Ficam a faltar os acabamentos”, avança a autarca, lembrando que este plano tem um horizonte temporal e vários eixos de implementação no terreno. A descentralização da sede de concelho, com um maior envolvimento das freguesias, é um dos desideratos neste âmbito. No plano da sensibilização da população para as questões do abandono e dos maus-tratos, entre outras, Tavira conta ainda com a figura do provedor do animal para a mudança de comportamentos e de mentalidades: aquela que é “a mais árdua e morosa tarefa”, sublinha a presidente da CMT.