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Investigação

Resistência antimicrobiana no ambiente continua a ser negligenciada, alertou estudo

Resistência antimicrobiana no ambiente continua a ser negligenciada, alertou estudo iStock

A resistência antimicrobiana (RAM) no ambiente tem recebido uma “atenção assustadoramente reduzida” por parte da comunidade científica, concluiu um estudo internacional liderado pela Universidade de Surrey, no Reino Unido, em colaboração com a Royal (Dick) School of Veterinary Studies e a Universidade de Galway.

A equipa de investigação, composta por mais de 50 cientistas, analisou 13.367 estudos publicados entre 1990 e 2021, tendo concluído que apenas 738 (5,4%) abordavam a resistência a antibióticos em ambientes naturais, como cursos de água, pastagens e atmosfera.

 

Apesar do crescente número de investigações em medicina humana e veterinária, o relatório evidenciou lacunas significativas relativamente às zonas rurais e a ambientes de baixos recursos.

“Apesar de existir cada vez mais investigação, o nosso estudo confirma que sabemos assustadoramente pouco sobre como a resistência aos antibióticos se comporta em certas regiões e contextos ambientais”, afirmou Brian Gardner, investigador na Escola de Medicina Veterinária da Universidade de Surrey.

 

E continua: “esta é uma emergência silenciosa e, a menos que a comunidade científica atue rapidamente para colmatar esta falha, corremos o risco de deixar a resistência antimicrobiana propagar-se sem controlo em locais que não estão a ser devidamente monitorizados”.

A maioria dos trabalhos de investigação concentrou-se em países desenvolvidos e em águas doces, deixando os ambientes marinhos e as regiões com um baixo rendimento económico em segundo plano.

 

Cerca de 33,8% dos estudos dos analisados foram realizados na China, mais do que o dobro dos conduzidos nos Estados Unidos da América (14,2%). Contudo, menos de 1% foram liderados por cientistas de países com um baixo rendimento económico, como o Afeganistão, Etiópia, Mali e Uganda, locais onde, segundo os autores, o impacto da RAM poderá ser maior para a saúde pública.

Os cientistas enfatizam ainda que questões emergentes, como a relação entre resistência antimicrobiana, alterações climáticas e microplásticos, permanecem também pouco exploradas pela ciência.

 

Apesar de um aumento recente no interesse pelo tema, uma vez que quase metade dos estudos analisados foram publicados entre 2019 e 2021, os investigadores alertaram para os desequilíbrios geográficos e temáticos que podem comprometer a capacidade global de resposta.

Segundo Iñaki Deza-Cruz, docente de saúde pública veterinária na Royal (Dick) School of Veterinary Studies, “para compreender o desenvolvimento da resistência antimicrobiana no ambiente, é fundamental estudá-la de forma abrangente, em diferentes circunstâncias e contextos socioeconómicos. Este desafio complexo e urgente precisa de ser entendido, assim como deve ser percebido o seu impacto na saúde das pessoas, nos animais e no próprio ambiente, para que as medidas de mitigação possam ser eficazes”.

 

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