A resistência antimicrobiana (RAM) é já considerada uma das principais ameaças globais à saúde pública, responsável por cerca de cinco milhões de mortes por ano em todo o mundo. Para enfrentar este desafio, o consórcio português SMARTgNOSTICS desenvolveu um dispositivo inovador capaz de identificar, em tempo real, bactérias responsáveis por infeções e a sua resistência a antibióticos.
A tecnologia será testada ainda este ano em contexto hospitalar, no Hospital CUF, e em ambiente veterinário, através do Grupo Lusiaves, numa fase piloto inédita em Portugal.
Segundo os responsáveis do projeto, o dispositivo tem potencial para revolucionar o diagnóstico rápido, permitindo respostas mais eficazes e seguras tanto na medicina humana como na medicina veterinária. “Só com testes rápidos e acessíveis poderemos dar uma resposta eficaz à resistência antimicrobiana, sobretudo em países de baixo e médio rendimento”, sublinhou Manuela Caniça, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
Um problema crescente
A RAM resulta, em grande parte, do uso excessivo de antibióticos em humanos, animais de produção e aquicultura, comprometendo a eficácia dos tratamentos. Na União Europeia, estima-se que cause anualmente 33 mil mortes e custos superiores a 1,5 mil milhões de euros em saúde.
Para a médica Joana Lemos, do Grupo CUF, a aposta em diagnóstico rápido é decisiva: “A resistência antimicrobiana já é uma das principais causas de morte a nível mundial. É urgente investir na literacia da população, no uso racional de antibióticos e em tecnologias inovadoras para travar este fenómeno.”
Cooperação internacional e inovação
O avanço tecnológico português surge num momento em que a União Europeia e a ONU reforçam a urgência de investir em diagnóstico, vacinas e alternativas aos antibióticos, numa abordagem integrada One Health, que considera o impacto na saúde humana, animal e ambiental.
Durante o evento “Inovação no Controlo da Resistência Antimicrobiana”, a realizar-se em Viseu, especialistas nacionais e internacionais irão debater estratégias conjuntas. Entre os temas em destaque estão o uso de bacteriófagos, apontados pelo investigador Sílvio Santos (Universidade do Minho) como uma solução promissora contra infeções multirresistentes.
Metas até 2030
A União Europeia traçou como objetivo a redução das infeções hospitalares resistentes a antibióticos, como as causadas por MRSA, E. coli e K. pneumoniae. A vigilância contínua do consumo de antibióticos e da RAM será essencial para alcançar estas metas.
Com o início dos testes do dispositivo SMARTgNOSTICS, Portugal coloca-se na linha da frente do combate mundial à resistência antimicrobiana, combinando inovação tecnológica, cooperação científica e compromisso com a saúde pública.