Ainda há um longo caminho a percorrer na prevenção da leishmaniose canina, um caminho que precisa ser trilhado com informação, nomeadamente no que toca à importância da vacinação. Em nome da saúde animal, mas também da saúde humana. É nesse sentido que aponta o mais recente estudo da LETI Pharma em Espanha e Portugal.
A vacinação é a principal forma de prevenção da leishmaniose canina: no entanto, a maioria dos tutores desconhece os riscos da infeção, quer para a saúde do animal, quer para a saúde humana, o que faz com que não valorizem a profilaxia. Esta é uma das principais conclusões do “Estudo de mercado sobre o conhecimento da leishmaniose em Espanha e Portugal 2024, promovido pela LETI Pharma.
Tendo envolvido uma amostra de 2010 pessoas, nos dois países (1.607 em Espanha e 403 em Portugal), procurou analisar a evolução da perceção sobre a doença face ao estudo anterior, em 2022. No que toca à amostra propriamente dita, o que se verifica é uma homogeneidade entre os dois países, quer no perfil dos tutores – mais mulheres do que homens, com as idades entre os 30 e os 59 anos –, quer no perfil dos animais – de pequeno e médio porte, e em idade adulta, sendo que, em Portugal, há uma tendência ligeiramente superior para possuir mais do que um cão.
Não há igualmente disparidade no que concerne os hábitos sanitários, com os tutores portugueses e os espanhóis a privilegiarem duas visitas anuais ao veterinário, verificando-se que, em ambos os casos, a vacinação está implantada e que a esmagadora maioria (na ordem dos 93%) prefere o regime anual.
Uma das conclusões que emerge é o elevado grau de desconhecimento relativamente à leishmaniose, à semelhança do que acontecera em 2022. Quase 70% dos entrevistados não a identifica como uma doença infeciosa relevante para o animal. No cômputo dos dois países, quando convidados a indicar, espontaneamente, uma infeção, apenas 32,8% dos tutores nomeou a leishmaniose, valor que desce para cerca de 28% entre os portugueses. Embora a variação não seja significativa, os proprietários de cães espanhóis parecem ter um conhecimento maior do que os portugueses.
A vacinação é a principal forma de prevenção da leishmaniose canina: no entanto, a maioria dos tutores desconhece os riscos da infeção, quer para a saúde do animal, quer para a saúde humana, o que faz com que não valorizem a profilaxia.
O cenário muda quando é feita menção direta a doenças infeciosas: questionados sobre a leishmaniose, 85,2 dos entrevistados (nos dois países) manifestaram ter conhecimento, com as respostas dos portugueses a situarem-se abaixo dos resultados totais (na ordem dos 75%).
Ainda neste domínio, o nível de conhecimento de casos de proximidade é muito baixo nos dois países: foi o que responderam mais de 63% dos inquiridos, com esse valor a subir para mais de 75% entre os portugueses, o que não traduz evolução face ao estudo anterior. No entanto, a perceção da gravidade da doença é elevada: assim é para 85,8% da amostra (84,3%, analisando apenas Portugal).
Leishmaniose canina – números a reter
- 70% dos tutores não sabem que a leishmaniose é uma doença infeciosa grave
- Apenas 28% dos portugueses a mencionam espontaneamente
- 85% dos tutores reconhecem a gravidade da doença
- 45% mencionam a vacina como prevenção espontaneamente
- 75% reconhecem-na quando apresentada como opção
- 56% vacinam os seus cães
- 18% vacinariam se soubessem do risco
- 36% acreditam que coleiras e pipetas são suficientes
- 34% citam o preço como barreira
- 15% minimizam a gravidade da doença
Falta informação
O desconhecimento prevalece quando o tema é a profilaxia: quando convidados a elencar espontaneamente os métodos de prevenção da leishmaniose, menos de metade referiu a vacina – 45,8%, mostrando que há um caminho a percorrer na divulgação. Contudo, quando a imunoterapia é colocada como uma opção, aumenta o conhecimento: a vacina colhe 75,8% das respostas nos dois países, seguindo-se as coleiras com ação repelente (64,7%) e as pipetas com ação repelente (62,6% em Espanha). Olhando apenas para Portugal os números são muito similares.
Subjacente está a ausência de informação sobre a prevenção da leishmaniose: 43,7% dos tutores disse não dispor desse conhecimento, valor que sobe para os 58% em Portugal. Tendo em conta que, nos dois países, o veterinário é o canal de referência para receber informação sobre a doença, com mais de 95% das respostas, a análise destes dados aponta para uma insuficiente valorização desta infeção pelos profissionais, o que se reflete na falta de perceção dos tutores sobre a sua gravidade. Há, pois, margem para a sensibilização de uns e de outros.
Obstáculos à vacinação
Aumentar o conhecimento sobre a patologia emerge como um potenciador da vacinação nos dois países. Não conhecendo a possibilidade de contágio aos humanos, a percentagem de tutores dos dois países que vacinam os seus animais é elevada, na ordem dos 56%, com cerca de 18% a dizer que estaria disposto a vacinar se tivesse essa informação. Ainda assim, há 8,6% que conhece o risco, mas opta por não vacinar. Em Portugal, os números não fogem a esta regra ibérica.
E conhecendo o risco? O cenário muda, com a propensão para a vacinação a subir dez pontos percentuais em ambos os países, o que significa que a informação é, claramente, uma ferramenta preventiva.
Analisando os motivos que levam os tutores a não vacinar, emergem duas realidades. Assim, não sabendo do risco de contágio humano, a doença não é vista como suficientemente grave para justificar a vacinação, com 36,3% da amostra a considerar que as coleiras e as pipetas repelentes são o bastante. Aliás, 15% responde não acreditar que a leishmaniose “seja assim tão grave”. Relevante é o fator preço, que surge em segundo lugar (34,3%). E é a primeira das razões mesmo quando os tutores estão informados sobre a possível transmissão humana, obtendo 20,4% das respostas. Contudo, a escassa ou inexistente probabilidade de infeção do animal é elencada logo a seguir, correspondendo a 13,6% das respostas.
Em Portugal, o preço constitui a principal barreira em ambas as situações: no desconhecimento do risco de contágio humano, foi apontado por cerca de 55% dos inquiridos, incidência que desce para 35% quando os inquiridos sabem dessa possibilidade. Ainda assim, num e noutro cenário, rondam os 10% aqueles que consideram que há pouca probabilidade de transmissão. A nível ibérico, a falta de prescrição pelos veterinários está, igualmente, entre os motivos para a não vacinação.
Conclusões e oportunidades
A leitura dos dados permite retirar um conjunto de conclusões que constituem, em si mesmas, janelas de oportunidade para uma maior sensibilização para a importância da doença e, em particular, da prevenção:
- A leishmaniose não é considerada, pelos tutores, como um risco para os seus animais, não tendo a perceção do risco de contágio. Significa isto que não se previne uma doença que não se conhece.
- Quando o tutor percebe que pode ser infetado, a sua propensão para vacinar o animal é mais elevada.
- O veterinário constitui a principal porta para a disseminação da informação com vista à prescrição da vacina.
- A dose anual de imunoterapia é a mais valorizada pelos tutores.
- O preço é apontado como o principal obstáculo à vacinação, devido à ausência de conhecimento: o que não se valoriza tende a ser percecionado como mais caro.