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Hospital Veterinário de Guimarães: Um projeto de família que quer ser uma referência para tutores e profissionais

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O Hospital Veterinário de Guimarães foi pensado para ser um projeto “diferenciador e inovador” na resposta às necessidades de tutores e animais de companhia e ser um centro clínico capaz de receber casos clínicos referenciados pelos centros de atendimento médico-veterinários da região.

O Hospital Veterinário de Guimarães começou por ser um sonho de menina e acabou por se tornar num verdadeiro projeto de família. Esta frase pode resumir a história desta unidade, que abriu portas na cidade berço no dia 29 de novembro de 2024, Dia das Festas Nicolinas, em honra de São Nicolau, muito tradicionais na região. Uma espécie de bênção que tem bastante significado para quem tem raízes profundas no Minho.

 

A menina desta história é Inês Garcia, médica veterinária formada na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, com várias formações avançadas em Medicina Interna, Estomatologia e gestão. Desde pequena que era uma apaixonada por animais, “tinha sempre mais do que um em casa”, o que já deixava antever o futuro que desejava para si quando crescesse, mesmo que fugisse um pouco à história familiar. “A minha família está ligada ao setor da construção civil, temos uma empresa de construção há quatro gerações, mas eu decidi seguir um caminho um bocadinho diferente e acabei por abraçar a medicina veterinária”, conta à VETERINÁRIA ATUAL.

“Sou natural de Guimarães e desde sempre identifiquei a necessidade de um serviço que garantisse um atendimento veterinário 24 horas na minha região” – Inês Garcia, diretora geral Hospital Veterinário de Guimarães

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Depois de concluída a formação académica, Inês Garcia passou por alguns centros de atendimento médico-veterinários (CAMV) no Norte do País para ganhar experiência, mas sempre teve em mente o sonho de ter a sua própria clínica. “Sou natural de Guimarães e desde sempre identifiquei a necessidade de um serviço que garantisse um atendimento veterinário 24 horas na minha região”, pois, explica, olhava para outras cidades das redondezas, como Braga, Trofa ou Santo Tirso e “percebia que existia uma lacuna significativa no atendimento [permanente] de animais de companhia região de Guimarães”.

Foi, então, que se começou a conjugar a experiência de uma empresa familiar com longo historial no setor da construção civil com a vontade de Inês Garcia de fazer nascer o recém-inaugurado Hospital Veterinário de Guimarães, localizado num espaço que ascende aos 4 000 m2, com 1 100 m2 de implantação, sendo que, desses, 800 m2 são destinados ao hospital e os restantes para a resposta complementar à comunidade (ver caixa). “Para dar um contexto, construímos o edifício de raiz e temos uma localização ótima. Estivemos quase um ano à procura do melhor local e conseguimos um sítio com boa visibilidade, com bons acessos, onde construímos uma unidade pensada para garantir todas as comodidades para o tutor e para ao animal, nomeadamente um parque de estacionamento e bons acessos para que as pessoas se sintam confortáveis e consigam chegar rapidamente até nós, sobretudo em situações de urgência”, refere a médica veterinária.

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Os desafios de construir um projeto de raiz

Dessa implantação resulta um hospital veterinário que a responsável garante ser “diferenciador e inovador” na região, com uma planta distribuída apenas por um piso para facilitar o trabalho dos profissionais e a movimentação dos clientes e seus animais de companhia dentro do perímetro hospitalar.

 

O desenho foi pensado ao pormenor. “Temos duas salas de espera com entradas distintas – uma para cães, outra para gatos – que estão divididas com expositores de rações para tapar a visibilidade e, assim, diminuir a ansiedade dos pacientes felinos”, explica Inês Garcia, acrescentando de seguida que os quatro consultórios também estão divididos por espécie – dois para gatos e dois para cães – e o objetivo é trabalhar para receber o selo cat friendly. Os circuitos são sempre diferenciados entre as duas espécies, são os profissionais que se deslocam para o local da consulta e não os animais que andam a percorrer os corredores e a cruzarem olhares e odores passíveis de aumentar os níveis de stress e ansiedade. Hoje em dia, esta atenção à especificidade de cada espécie é bastante valorizada pelos tutores, mas é, igualmente, uma ajuda preciosa para os profissionais de saúde animal, pois “é mais difícil avaliar o próprio animal quando este está mais ansioso até porque, às vezes, essa a ansiedade manifesta-se em maior agressividade, o que torna as coisas mais delicadas de gerir. Mas sentimos que, com a disposição que temos atualmente, e como as distâncias na sala de espera são consideravelmente grandes, os gatos conseguem ficar tranquilos [nas visitas ao hospital]”, assegura Inês Garcia.

A planta inclui, perto dos consultórios, uma zona de exames complementares – sala de ecografia, raio X, TAC – e de farmácia e na parte mais interior do edifício situam-se os internamentos. Esta zona foi desenhada para funcionar com um open-space no centro onde ficam as bancadas de trabalho para tratamentos e ao redor das quais estão os diversos internamentos – para gatos, para cães e para doenças infecciosas, também dividido por espécie – que podem ser monitorizados pelos profissionais através das paredes envidraçadas.

Existe ainda uma zona de cuidados intensivos para os animais em estado crítico, um laboratório para avaliação analítica e uma zona cirúrgica. Aqui, há uma sala de preparação cirúrgica do animal, uma sala de lavagem e esterilização de material cirúrgico e duas salas de cirurgia: uma para os procedimentos mais comuns e outra para endoscopias e para intervenções relacionadas com medicina dentária.

A planta inclui ainda instalações direcionadas apenas para os colaboradores, como uma working station, balneários e uma copa.

Chegar até este desenho final “foi um desafio”, reconhece a médica veterinária. Apesar de contar com o conhecimento e experiência da empresa da família no ramo da construção civil, até à data o foco desse negócio familiar tinha sido a construção de edificado industrial, por isso “fazer um hospital veterinário foi completamente fora do que estavam habituados”. Nessa medida, explicar as necessidades específicas de umas instalações hospitalares para animais exigiu muitas reuniões, muitos retoques ao projeto inicial e muitas conversas em família, até porque, refere Inês Garcia com graça, “o departamento de arquitetura da empresa até é gerido pela minha mãe”. “Foi exigente e fizemos várias visitas a hospitais veterinários para perceber o funcionamento, avaliar quais são as exigências e como é que deve ser o layout [de uma unidade de medicina veterinária hospitalar]. Ou seja, foram necessárias muitas reuniões, muitas visitas de reconhecimento, alguns vídeos, para a equipa perceber como é que as coisas se passam dentro do hospital. A planta teve quatro reajustes até à versão final”, conta.

Não obstante, do processo trabalhoso nasceu num espaço prático, funcional, que permite a otimização de processos e com atenção aos pormenores que, numa primeira análise, até podem parecer secundários, mas são particularmente relevantes. Por exemplo, a presença de luz natural era absolutamente vital para a responsável, daí que os consultórios tenham janelas por onde entra a  luminosidade, o que faz “toda à diferença. Já experienciei, quando trabalhei noutros sítios, o que é só conseguir ver a luz do dia quando nos dirigimos à receção. Só nessa altura é que tinha a perceção do que acontecia lá fora e percebia a falta que faz apanhar um bocadinho de sol durante a altura da refeição ou quando se faz uma consulta. Faz mesmo a diferença e não haver luz natural pode comprometer o bem-estar dos próprios colaboradores”.

Depois de cerca de 11 meses de obra – de início de 2024 até à inauguração em novembro – o resultado, assegura, não podia ser mais satisfatório. “Foi muito gratificante, depois, ver o resultado. Ficou, sem dúvida, um projeto diferente e inovador e estamos mesmo muito contentes com as nossas instalações”, assegura.

“O que queremos é trabalhar para estabelecer uma relação sólida, de confiança e sinérgica com os CAMV da região, pois o nosso objetivo é funcionar como apoio para qualquer necessidade e que os colegas nos vejam como um aliado” – Inês Garcia, diretora geral Hospital Veterinário de Guimarães

Aposta na diferenciação de cuidados

Outra empreitada, se assim se pode chamar, é construir uma equipa para dar vida às instalações ainda a cheirar a fresco. Não foi fácil, admite Inês Garcia, já que contratar no ramo da veterinária “é um problema que, neste momento, está a afetar o nosso país, porque há uma dificuldade geral em contratar médicos veterinários” e restantes membros de uma equipa veterinária. Ainda assim, “por ser um projeto novo não sentimos muitas dificuldades em formar a equipa”, comparativamente com o que se vai ouvindo no mercado.

O primeiro passo, e que a diretora geral considera mesmo dos mais importantes, foi a escolha da direção clínica, que ficou a cargo da médica veterinária Carolina Torres. Ao todo, são agora 14 elementos: sete veterinários, quatro enfermeiros e três auxiliares, com a curiosidade de serem todas mulheres. Na perspetiva da responsável, “esta equipa é capaz de satisfazer as necessidades de um hospital que está a arrancar, garantido o serviço 24 horas, inclusive durante a noite sempre com um médico, um enfermeiro e um auxiliar em permanência”.

Em termos de diferenciação, Carolina Torres, pela formação já realizada, assume as rédeas da Medicina Interna, endoscopia e ecografia abdominal, além de ser a responsável pelo internamento. Depois a equipa de médicos veterinários tem diferenciação em Medicina Interna e Estomatologia – as duas áreas de especial interesse de Inês Garcia – Cardiologia, Imagiologia e Cirurgia, enquanto a equipa de enfermagem tem formação avançada com especial foco em Anestesia, importante para garantir a segurança nos procedimentos de imagiologia, restantes meios complementares de diagnóstico e procedimentos cirúrgicos.

A responsável avançou na conversa com a VETERINÁRIA ATUAL que estaria já acordada a integração de mais um médico veterinário no início do mês de maio que, a título de curiosidade, será o primeiro do género masculino a integrar a equipa.

Nestes primeiros meses de atividade, o Hospital Veterinário de Guimarães tem também assegurado resposta noutras especialidades através da prestação de serviços “de colegas de renome” com diferenciação nas áreas da Oftalmologia, Ortopedia, Dermatologia, Neurologia e animais exóticos, pois, admite a responsável, “nos dias de hoje já há uma constante procura por consultas especializadas na medicina veterinária”. Todavia, uma unidade hospitalar que está a iniciar a atividade tem alguma dificuldade em assegurar permanentemente todo o cardápio de especialidades, daí que, nestes primeiros tempos “tenhamos optado por um registo de prestação de serviços clínicos de forma a garantir à mesma essas especialidades”.

A ideia é, futuramente, conseguir integrar grande parte dessas respostas especializadas na equipa interna da casa, mesmo tendo em conta as dificuldades já mencionadas de recrutamento de recursos humanos. Apesar de os cursos de medicina veterinária terem muitos alunos que poderiam entrar no mercado de trabalho e preencher as lacunas existentes, Inês Garcia reconhece que a emigração e outras vertentes da profissão que não a clínica de animais de companhia – como a indústria farmacêutica – começam a representar um mercado concorrencial de peso no recrutamento de recursos humanos, sobretudo pelos valores das remunerações que são oferecidas. É uma balança difícil de equilibrar entre a exigência dos tutores por serviços de medicina veterinária cada vez mais especializados, o que, efetivamente, querem pagar por esses serviços e as expectativas – salariais e não só – de profissionais cada vez com maior diferenciação. “Uma coisa não acompanha a outra. Cada vez está mais a difícil satisfazer as necessidades salariais dos profissionais. É um bocadinho o que sinto. Mas, com os preços que se praticam no setor, torna-se difícil conseguir aumentar os salários dos profissionais”, admite a gestora do Hospital Veterinário de Guimarães.

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Uma porta aberta para referenciação dos CAMV

Quando pensaram em criar o Hospital Veterinário de Guimarães, Inês Garcia e a família decidiram “também criar um projeto que não só beneficiasse os animais e as pessoas, mas também que promovesse algum apoio aos CAMV da região”, explica a diretora geral da unidade. A ideia era aproveitar todas as valências que o um hospital possui – nomeadamente a especialização, os meios complementares de diagnóstico e o internamento – para “operar numa lógica de complementaridade com a comunidade veterinária local”. Nesse sentido, nos meses anteriores à inauguração das instalações, a responsável contactou pessoalmente os colegas da região de Guimarães e das localidades vizinhas para apresentar o projeto e organizou aquilo a que chamou “um soft opening”, convidando os colegas para conhecerem as instalações e a equipa.

Os objetivos desta relação passam, claramente, por trabalhar uma “relação de sinergia com os CAMV locais, ter uma relação de confiança com eles e, sobretudo, funcionar como um centro de referência local para as clínicas”, explica a médica veterinária.

Nestes meses de porta aberta, o modelo de referenciação que os CAMV mais têm procurado passa muito pela realização de meios complementares de diagnóstico, para o apoio a casos clínicos que exigem avaliação mais especializada e para o atendimento em situações de urgência. “A recetividade tem sido boa. A referenciação é um tema que tem de ser sempre bem trabalhado porque é muito fácil surgirem constrangimentos, às vezes por falta de comunicação”, admite a responsável que, nas visitas realizadas aos colegas da região e na apresentação prévia que fez das instalações da unidade, ouviu da parte da comunidade veterinária algumas queixas relativamente à falta de comunicação entre hospitais veterinários e clínicas referenciadoras. Daí que tenha sido criada “uma linha de contacto específica para facilitar a comunicação com os CAMV e no nosso site temos um formulário de referenciação, em que os CAMV conseguem fazer o upload de todos os exames complementares para conseguirmos agilizar a comunicação e, depois, da mesma forma conseguirmos retornar a informação [da equipa hospitalar]”. E reforça a responsável: “O que queremos é trabalhar para estabelecer uma relação sólida, de confiança e sinérgica com os CAMV da região, pois o nosso objetivo é funcionar como apoio para qualquer necessidade e que os colegas nos vejam como um aliado”.

Mas, Inês Garcia quer ainda mais. “O Hospital Veterinário de Guimarães tem uma missão que, para mim, é clara: ser um pilar para toda a comunidade. Um pilar para os profissionais da área, para os animais e tutores e ainda queremos ter um papel ativo na comunidade no Município de Guimarães. Nesse sentido, já estabelecemos uma parceria com o Centro de Recolha Oficial  de Guimarães para ajudar no que for preciso”, acrescenta.

Da agenda de trabalhos também já fez parte a organização de uma “cãominhada” com tutores e cães, ações de recolha de alimentos e formações de primeiros socorros animais para tutores, iniciativas que são para repetir, assegura a responsável.

Um pacote completo de serviços para animais de companhia

A extensa área de implantação do edifício permite aquilo a que Inês Garcia diz ser um “fechar de ciclo na vida dos animais”. “Queremos satisfazer não só as necessidades que dizem respeito ao bem-estar e à saúde dos animais, mas também o que está relacionado com o lazer e a educação”, explica a responsável.

Sendo assim, para além da parte hospitalar, o edificado integra também um espaço, explorado pela Train your Dog, onde funciona um hotel para animais, um daycare (creche) e uma escola de educação canina.

Em primeiro lugar, o facto de “o hospital estar no mesmo espaço que o hotel deixa as pessoas mais confortáveis para deixar o animal”, assegura a responsável, admitindo que este tem sido um serviço sempre com procura crescente, tal como acontece com o espaço de daycare. “Hoje em dia, a equipa conta com cerca de 10, 12 cães em creche diariamente e acabam por proporcionar um serviço completo em animais que precisam ser estimulados,  trabalhados, animais com muita energia que ficam cá para não ficarem sozinhos durante o período em que os tutores vêm trabalhar”.

Relativamente à educação canina, os programas de acompanhamento são individualizados e “têm várias modalidades, desde casos simples, até ao internamento para animais com problemas mais sérios de comportamento”, explica.

O hospital possui ainda o serviço de Pet Taxi, “uma carrinha para fazer o transporte de animais quando os tutores não o podem fazer” Seja para os irem buscar para uma estadia no hospital ou para frequentarem a creche. O veículo é também utilizado para realizar os serviços domiciliários.

Artigo publicado na edição 193, de maio, da VETERINÁRIA ATUAL

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