Quantcast
Eventos

IX Congresso de Medicina Felina GIEFEL dedica encontro às doenças respiratórias e cardiovasculares

Investigação concluiu que esterilizar gatos antes da adolescência não aumenta risco de obesidade iStock

As doenças respiratórias e cardiovasculares foram o destaque do IX Congresso de Medicina Felina da Associação Portuguesa de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia (APMVEAC). Tomás Magalhães reconheceu serem patologias que “têm um peso significativo” no quotidiano dos centros de atendimento médico-veterinário.

“Este é o Congresso que reúne e concentra mais cat vets por metro quadrado”, foram as palavras bem-dispostas que Tomás Magalhães usou para abrir os trabalhos do IX Congresso de Medicina Felina, organizado pelo Grupo de Interesse Especial em Medicina Felina (GIEFEL) da APMVEAC. O presidente do grupo de interesse deu, desta forma, as boas-vindas aos participantes de mais uma edição deste encontro que decorreu em Lisboa a 15 e 16 de novembro e foi dedicado ao tema “Maneio das principais doenças cardiovasculares e respiratórias no gato”.

 

Nas palavras de Joana Sousa, tesoureira do Conselho Diretivo da APMVEAC, durante a sessão de abertura (ver caixa), este Congresso constituiu “uma oportunidade excelente para estarmos com oradores de luxo e podermos contar com a sua experiência” para ficar a par do state of the art da prática clínica nos temas escolhidos para o programa deste ano. A vertente das doenças respiratórias esteve entregue a Martha Cannon – especialista em medicina felina reconhecida pelo Royal College of Veterinary Surgeons e médica veterinária na Oxford Cat Clinic, no Reino Unido, um centro médico veterinário especializado em medicina felina – enquanto as doenças cardiovasculares estiveram entregues aos clínicos Rui Máximo, médico veterinário no AniCura Atlântico Hospital Veterinário com certificado em Cardiologia pelo Royal College Veterinary Surgeons, e Manuel Monzo, também do AniCura Atlântico Hospital Veterinário e que se dedica em exclusivo à Cardiologia desde 2017.

Patologias são muito prevalentes e merecem toda a atenção

 

A VETERINÁRIA ATUAL conversou com Tomás Magalhães à margem do IX Congresso do GIEFEL e o responsável explicou a escolha dos temas para esta edição. “Procuramos todos os anos encontrar tópicos que sejam eminentemente práticos, ou seja, que os conhecimentos aqui transmitidos pelos nossos oradores possam ser aplicados depois no dia-a-dia clínico”, avançou, acabando por reconhecer que a escolha das doenças do foro respiratório como tema aconteceu pois “têm um peso significativo” no quotidiano dos centros de atendimento médico-veterinário.

Assim sendo, o programa do encontro incluiu na manhã de sábado palestras sobre o complexo coriza – onde o herpesvírus e o calicivírus estiveram em destaque – uma condição particularmente prevalente em animais mais jovens, sobretudo os que não têm o protocolo vacinal atualizado, e nas populações residentes em centros de recolha oficial ou em associações de resgate animal, onde existe grande densidade populacional.

 

“Procuramos todos os anos encontrar tópicos que sejam eminentemente práticos, ou seja, que os conhecimentos aqui transmitidos pelos nossos oradores possam ser aplicados depois no dia-a-dia clínico” – Tomás Magalhães, presidente do GIEFEL

Ainda na manhã de sábado, o programa contemplou o diagnóstico e maneio da asma nos gatos “uma doença que tem também uma prevalência significativa junto da população felina doméstica e que implica alguns desafios para o tutor”, admitiu o médico veterinário. Lidar com a administração de fármacos de forma crónica, atender às necessidades geradas pela agudização do quadro clínico, manejar as máscaras inalatórias para administrar os corticosteroides e os broncodilatadores são situações que podem assustar os detentores de felinos com asma e, por esse motivo, o presidente do GIEFEL destaca a importância da “comunicação e da educação dos tutores para que a terapêutica seja cumprida adequadamente em casa”. E nesta questão da educação do tutor, Tomás Magalhães considera que pode ser benéfico “fazer o paralelismo com a patologia humana. Ou seja, quando abordamos a questão da asma felina, eventualmente o tutor terá alguém da família ou algum amigo com asma e, desta forma, conseguimos alcançar uma maior proximidade, pois ele terá alguma noção dos cuidados que essa doença implica”.

 

Não obstante, é fundamental alertar para o facto de, tratando-se de uma doença crónica, existe o perigo das agudizações clínicas se não for feito o maneio correto, não só com a administração da terapêutica farmacológica, mas também se não forem observados os corretos cuidados no ambiente residencial do felino. “É importante tentarmos reduzir ao máximo os alergénios presentes no ambiente”, alertou o médico veterinário, lembrando que a escolha da areia mais apropriada assume particular destaque pois, não raras vezes, este é o foco desencadeador da crise asmática. “Não nos adianta introduzirmos uma terapêutica se não estamos a resolver os fatores desencadeadores desse tipo de patologia”, explicou o responsável.

Ainda no campo das doenças respiratórias, o programa incluiu ainda palestras de Martha Cannon sobre o recurso à lavagem broncoalveolar, sobre as doenças pulmonares infecciosas e sobre o diagnóstico e maneio das patologias da nasofaringe.

Patologia cardíaca: diagnosticar, tratar e referenciar

Os oradores nacionais Rui Máximo e Manuel Monzo abordaram as patologias cardiovasculares na população felina, condições que Tomás Magalhães também identificou como sendo frequentes na prática clínica. Afinal, lembrou o médico veterinário, “a esperança média de vida da população felina doméstica é cada vez maior, ou seja, temos um espaço temporal mais distendido para este tipo de patologias se desenvolverem. Algumas delas serão congénitas – quando estamos a falar de patologias detetadas em gatinhos – mas, ao longo da vida do animal podem desenvolver-se uma série de patologias cardíacas, nomeadamente cardiomiopatias hipertróficas”.

A escolha desta temática está também diretamente relacionada com o facto de “sentirmos, junto da classe que ainda existem algumas dúvidas que levam os colegas a socorrerem-se a profissionais dedicados que fazem consulta de especialidade”, admitiu o responsável. A falta de formação e de experiência leva, não raras vezes, a que os médicos veterinários mais generalistas se socorram de serviços externos de consultoria, nomeadamente de ecocardiografia. Ainda assim, sendo a auscultação cardíaca um dos pilares do exame físico, nomeadamente para despiste de doenças cardíacas e respiratórias, é fundamental dar ferramentas aos profissionais de saúde animal para interpretarem os sinais clínicos encontrados e também para avaliar quando, como e em que situações o animal deve ser reencaminhado para profissionais que se dedicam à especialidade de Cardiologia. Os temas em destaque neste fim de semana foram a identificação e maneio de um sopro cardíaco, a realização de ecocardiografias na população felina, a hipertensão sistémica nos gatos, a cardiomiopatia hipertrófica e o tromboembolismo aórtico felino.

Tomás Magalhães acrescentou que  “existe alguma predisposição, principalmente em certas raças puras, nomeadamente para a cardiomiopatia hipertrófica”, mas qualquer animal pode estar sujeito a situações mais desafiantes na medicina veterinária, como seja um  tromboembolismo aórtico felino “que é algo bastante agudo, com uma apresentação bastante grave e, por isso, importa capacitarmos os nossos colegas para abordarem nessas situações. Muitas vezes, em situações de urgência, temos ali uma pequena janela temporal para atuar”.

No final do encontro, foi já avançada a data do próximo Congresso de Medicina Felina que decorrerá em Lisboa a 7 e 8 novembro de 2026. O tema chapéu, adiantou o responsável, será a geriatria e os cuidados paliativos na população felina, sendo que o GIEFEL irá definir nos próximos meses os temas das palestras e os oradores a serem convidados.

Dermatologia e Imagiologia na agenda para 2026

Joana Sousa aproveitou a sessão de abertura do Congresso do GIEFEL para dar a conhecer os eventos já marcados na agenda da APMVEAC para o próximo ano. Logo em março, nos dias 6 e 7, Lisboa vai receber o II Congresso Ibérico de Diagnóstico por Imagem, numa organização que junta o Grupo de Interesse Especial em Diagnóstico por Imagem (GIEDI) da APMVEAC e o Grupo de Especialidad en Diagnóstico por Imagen (GEDI) da Asociación de Veterinarios Españoles Especialistas en Pequeños Animales (AVEPA). Esse encontro terá como oradores Raquel Salgueiro, Frederica Rossi, Ana Rita Furtado e Rui Lemos Ferreira.

Em maio será a vez de o Porto receber, entre o dia 7 e o dia 9, o 33rd European Veterinary Dental Forum. “Vai ser uma excelente oportunidade para todos os colegas que têm um interesse especial na parte dentária”, reconheceu a dirigente, adiantando que a APMVEAC colaboradora não só na coorganização geral do evento, como também está a preparar a realização de um workshop durante o encontro dirigido aos profissionais que se dedicam à odontologia.

Este site oferece conteúdo especializado. É profissional de saúde animal?