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VetOeiras cria e disponibiliza Consulta de Medicina da Dor

É a mais recente novidade do Hospital Veterinário de Oeiras (VetOeiras) e dedica-se ao tratamento da dor aguda e, especialmente, dor crónica. Com o apoio de uma equipa multidisciplinar, este serviço inovador tem a mais-valia de propor um tratamento personalizado a cada paciente para garantir a melhoria da sua qualidade de vida.

É sobejamente conhecido o interesse do médico veterinário Diogo dos Santos pela área da dor no Hospital Veterinário de Oeiras (VetOeiras), mas também por parte de outros colegas nacionais e internacionais devido à sua aposta na formação contínua na área de anestesia e de analgesia. Também é um facto que o aumento da longevidade dos animais trouxe consigo novos desafios, entre os quais, a gestão da dor crónica. “Na nossa classe, mais recentemente, começámos a ter maior cuidado com a doença osteoarticular e as farmacêuticas também passaram a desenvolver alguns produtos para essa área”, explica o responsável pelo Departamento de Analgesia e Anestesia no VetOeiras.

 

Aos poucos, aliado à prática clínica, a equipa começou a perceber que há muito a fazer pelos animais e sentiu a necessidade de alertar os tutores que “não é pelo facto de os animais serem mais velhos que é suposto e normal não andarem e não fazerem determinado tipo de atividades como antes”. O também responsável da consulta de Medicina da Dor no mesmo hospital explica que as pessoas estão mais recetivas para proporcionar maior qualidade de vida aos seus animais, independentemente da idade, desde que lhes sejam apresentadas soluções. “Tentamos proporcionar maior conforto seja em animais jovens que têm dor e que, por algum motivo, não podemos tratar de forma convencional ou cirurgicamente, ou ainda, em animais que estão em processo paliativo.”

Numa formação específica que Diogo dos Santos fez fora do país percebeu que aquilo que os profissionais associam à dor crónica “é apenas a ponta do icebergue porque existem imensas causas sobretudo se se fizer o analogismo com o que acontece em medicina humana”. Embora o médico veterinário e a sua equipa já tentassem aumentar o conforto dos pacientes e diminuir a dor, o VetOeiras formalizou recentemente a Consulta da Medicina da Dor. “Numa primeira fase, o que estou a tentar fazer é tentar sensibilizar os colegas do hospital e os de outros CAMV, mas também, os clientes.” A recetividade tem sido boa, garante.

 

“É preciso diagnosticar correta e previamente, proceder à avaliação das opções e traçar um plano terapêutico personalizado” – Diogo dos Santos

 

Esta novidade tem sido antecipada por todo um trabalho prévio da equipa ao longo dos últimos anos. “Recebia animais sem andar há três anos e os tutores, não raras vezes, associavam esse sinal à idade e ao envelhecimento. Mas essa não é a única causa.” Diogo dos Santos defende que só com um diagnóstico adequado é possível perceber a origem. “Se a opção não for cirúrgica, há que avaliar as abordagens que podem ser feitas, como infiltrações ou bloqueios regionais.” Não existe um tratamento definitivo. “É preciso diagnosticar correta e previamente, proceder à avaliação das opções e traçar um plano terapêutico personalizado”, acrescenta Diogo dos Santos.

Em cães e gatos, os sinais mais frequentes são a claudificação e a dificuldade em levantarem-se, mas pode manifestar-se ainda pela dificuldade na mobilidade (passeios, corridas, subida e descidas de escadas ou sofá); redução da atividade em geral e alterações do comportamento).

 

A participação de uma equipa multidisciplinar não é exceção nesta consulta e “é essencial em todo o processo”. A área de anestesia é apoiada pela ortopedia, neurologia, oncologia e reabilitação. “É difícil isolar a técnica de analgesia e anestesia que desenvolvo para comprovar a eficácia e também não acredito que esta seja a solução para tudo.” O responsável por esta consulta defende que esta técnica funciona, sim, como adjuvante de outras terapias para obter o resultado com sucesso. “Defendo que devemos enquadrar a informação sobre o animal e interligar as várias especialidades no tratamento”, sublinha.

Para a realização de um diagnóstico concreto, o médico veterinário utiliza questionários direcionados ao proprietário para que ele próprio possa entender o quão afetado está o animal. “Por exemplo, é preciso perceber em que alturas do dia é que o animal tem dor e que tipo de atividades é que deixou de conseguir fazer. Pedimos ao proprietário que identifique estas situações classificando-as de 1 a 10.” A ideia é que os proprietários respondam a estes inquéritos em casa com calma e sem a pressão do momento da consulta para que a avaliação seja o mais objetiva possível e as respostas não tenham a influência dos médicos veterinários.

O que se segue?

As condições responsáveis pela dor crónica podem ser diversas, desde hérnias, osteoartrose, alterações musculares ou neurológicas, dor pós-operatória e tumorais. Na grande maioria dos casos, são sempre progressivas e debilitantes.

Dependendo do tratamento é expectável que haja uma reavaliação nas primeiras três semanas para perceber se foi eficaz ou não. Nos primeiros dias e até ao final da primeira semana de tratamento, Diogo dos Santos faz um contacto telefónico ao(s) tutores(s) para perceber se já estão a identificar algum efeito. “Agendo uma consulta presencial três semanas a um mês depois. Dependendo da resposta do animal, vamos espaçando o intervalo entre consultas”, explica.

Ainda que a maioria dos animais tenha medicação regular para doenças crónicas, a consulta da Medicina da Dor também permite ir ajustando a dosagem terapêutica. “Em todo o processo, tenho mostrado bastante disponibilidade para ajudar, quer por telefone, quer presencialmente caso o animal tenha uma agudização ou alguma recidiva.” É preciso identificar as zonas dolorosas se não estiverem a responder aos tratamentos convencionais. “Fazemos a administração de anti-inflamatórios e de anestésicos locais nos nervos que são responsáveis pela enervação da zona dolorosa para que o animal consiga manter a função do membro e ter uma vida normal.” Com esta técnica, é possível reduzir a sensibilidade dolorosa, diminuir a inflamação e o desconforto.

“Que eu tenha conhecimento, não existe outra consulta da dor em Portugal e são poucas as pessoas dedicadas à analgesia e à anestesia, mas já começa a ser demonstrado algum interesse por esta área”, explica Diogo dos Santos

Os resultados dos casos acompanhados têm sido variáveis. “Temos alguns animais que ficam bem durante sete meses, por exemplo, com redução significativa de medicação sistémica e, outros, que precisam de manter a toma de fármacos, mas que não estavam bem e melhoraram bastante com este tratamento.”

O objetivo será aumentar o conforto e a atividade do animal. “Ter uma resposta com a duração de três meses seria o mais banal, mas os casos que acompanhamos são muito diversificados.” Durante o processo, as novas tecnologias acabam por ser uma mais-valia e uma “ótima ferramenta de trabalho” pois ajudam na avaliação que o médico veterinário pode fazer. “Isto foi algo que aprendi com o Dr. Luís Chambel [diretor clínico do VetOeiras] e que consiste em pedir aos tutores para filmarem os seus animais a subir e descer escadas antes de fazermos o tratamento e durante a avaliação para perceber como é que se movimentam e compararmos mais tarde relativamente ao resultado do tratamento.” A vertente visual é também essencial nas várias fases e reavaliações.

Conforme a consulta for crescendo e com as respostas que a equipa vai tendo será possível divulgar esta resposta e tornar este recurso mais conhecido dos colegas. “Que eu tenha conhecimento, não existe outra consulta da dor em Portugal e são poucas as pessoas dedicadas à analgesia e à anestesia, mas já começa a ser demonstrado algum interesse por esta área”, explica Diogo dos Santos.

Em jeito de resumo, o médico veterinário descreve a consulta da Medicina da Dor. “A ideia desta consulta é tentar trabalhar em conjunto com os colegas do VetOeiras para dar àquele animal o que é melhor tendo em conta as necessidades, desde a perda de peso, ao reforço muscular, avaliando se precisa de cirurgia, se beneficia ou não de infiltração e quais os melhores fármacos que para aquele momento. Decidimos ainda durante quanto tempo é importante fazer reavaliações regulares”, remata.

* Artigo publicado na edição 166, dezembro, da revista VETERINÁRIA ATUAL.

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