A Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Lusófona está a transformar o paradigma do ensino em Medicina Veterinária em Portugal. Com o recém-criado Centro de Simulação Avançada, a instituição torna-se uma das poucas a nível mundial a integrar tecnologia de ponta, realidade virtual e modelos tridimensionais no treino clínico e cirúrgico de estudantes e profissionais veterinários. O objetivo? Aliar excelência académica, segurança no treino e bem-estar animal.
O Centro de Simulação Avançada é uma unidade dedicada ao treino prático e repetitivo, com equipamentos de realidade virtual e modelos físicos de elevada fidelidade. A sua implementação pretende contribuir para que os estudantes desenvolvam competências cirúrgicas, anestésicas e imagiológicas com maior segurança, confiança e precisão, antes de se confrontarem com situações clínicas reais.
“O nosso foco é claro: ensinar bem, com inovação e segurança, respeitando sempre o bem-estar animal”, afirma Laurentina Pedroso, Diretora da Faculdade de Medicina Veterinária e do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária da Universidade Lusófona. “Estamos a mudar o paradigma de ensino”, garante a médica veterinária, explicando que, assim, “os alunos deixam de praticar diretamente em animais vivos ou cadáveres – o que não é ideal – para aprenderem num ambiente controlado, simulado e ajustado à realidade clínica”.
Além da componente técnica, o projeto também pretende responder a preocupações relacionadas com o burnout, que se prendem com as exigências emocionais da profissão. Por vezes, os erros ou situações mal geridas em início de carreira acumulam-se e geram desgaste. Neste sentido, estas metodologias, pretendem promover a saúde mental do clínico, porque permitem o treino antes do erro, criando confiança desde cedo.
  “Os alunos que passaram por estas formações relatam melhorias claras na abordagem clínica e, sobretudo, na confiança com que enfrentam casos reais” – Daiana Cardoso, responsável pelo desenvolvimento do Centro de Simulação Avançada
Uma mudança pedagógica estrutural
Além dos estudantes do Mestrado Integrado, o Centro serve também de base prática para um conjunto alargado de novas pós-graduações e mestrados profissionalizantes.
Para o efeito, estão a ser lançadas quatro novas pós-graduações em setembro, focadas em áreas como cirurgia de animais de companhia, imagiologia, anestesia loco-regional e clínica de equinos e todas integram estas tecnologias. O ensino é híbrido: as aulas teóricas decorrem online às sextas-feiras à tarde e os momentos práticos concentram-se em fins de semana presenciais. “Tudo isto foi pensado para profissionais em exercício, que precisam de flexibilidade e exigem qualidade”, explica Laurentina.
A diretora sublinha ainda a diferença entre o mestrado tradicional e o profissionalizante, sendo que este último tem a duração de um ano e meio e o último semestre pode ser feito em contexto de trabalho, com projetos práticos e aplicados. “Isto aproxima o ensino da realidade profissional e torna a aprendizagem mais eficaz e útil para o dia a dia clínico, remata”.
“Em Portugal, somos pioneiros. E queremos continuar a liderar esta revolução” – Laurentina Pedroso, diretora da Faculdade de Medicina Veterinária da FMV-ULusófona
Da teoria à prática – com feedback em tempo real
Daiana Cardoso, responsável pelo desenvolvimento do Centro de Simulação Avançada, reforça a importância da prática assistida por tecnologia. “O nosso objetivo é que os alunos possam simular, errar e repetir. Temos módulos mecânicos e virtuais. Desde o quarto ano, os estudantes começam a treinar com estes equipamentos, passando de simulações básicas a procedimentos complexos, como os de mínima invasão.”
De acordo com a médica veterinária, a tecnologia permite feedback objetivo e imediato. “O próprio software analisa o desempenho do aluno: indica se demorou mais ou menos tempo, se melhorou de uma tentativa para outra e se deve treinar em determinada espécie.”
As simulações abrangem a componente de cirurgia, anestesia e até procedimentos imagiológicos, sendo também utilizadas em aulas de anatomia para demonstrações práticas. E o impacto já é visível. “Os alunos que passaram por estas formações relatam melhorias claras na abordagem clínica e, sobretudo, na confiança com que enfrentam casos reais”, destaca Daiana Cardoso.
“Na medicina veterinária, muito poucas faculdades têm acesso a estas ferramentas”
A integração destas tecnologias posiciona a Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Lusófona entre as instituições que apostam na inovação no ensino veterinário. A diretora da faculdade, reconhece esse avanço: “Na medicina humana, este tipo de tecnologia já está mais consolidado, mas na medicina veterinária, muito poucas faculdades têm acesso a estas ferramentas. Em Portugal, somos pioneiros. E queremos continuar a liderar esta revolução.”
Além do impacto na formação inicial, o modelo responde a uma lacuna de longa data: a formação contínua dos profissionais já no ativo. Muitos clínicos, por falta de tempo ou receio de errar, evitam explorar áreas como a cirurgia minimamente invasiva. “Agora têm um ambiente seguro para treinar. Podem errar, corrigir e voltar a tentar – tudo antes de aplicarem no contexto clínico real”, sublinha Laurentina Pedroso.
Ensino com foco no bem-estar e confiança
Em todos os momentos da entrevista, a diretora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Lusófona reforça um princípio que considera central: o bem-estar animal e do profissional. Na sua perspetiva, “a prática clínica segura só se conquista com treino e a prática adquire-se. Os nossos alunos e profissionais precisam de saber exatamente o que fazer, quando fazer e como fazer. Esta confiança só vem com uma formação repetida, supervisionada e altamente técnica.”
O impacto desta metodologia poderá estender-se para além do desenvolvimento de competências técnicas, influenciando também o bem-estar dos estudantes e profissionais, assim como a qualidade da prática clínica e a segurança dos animais. “Acreditamos que estamos a formar médicos veterinários mais preparados, mais conscientes e com maior confiança. E isso pode refletir-se positivamente na saúde animal”, conclui Laurentina Pedroso.