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Antibióticos

O que vai acontecer quando os antibióticos deixarem de funcionar?

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Os antibióticos são frequentemente utilizados na produção de animais para manter a sua saúde e produtividade, mas este tipo de práticas tem contribuído para o incremento da resistência de patogénicos a determinados fármacos, quer em animais de produção, como em humanos.

Um artigo recentemente publicado pela Bloomberg traça um retrato negro do problema: dois dos antibióticos cuja utilização já foi banida nos Estados Unidos da América, Canadá, União Europeia e Austrália são utilizados na pecuária na Índia, onde a sua utilização carece ainda de regulação e onde a maioria dos antibióticos podem ser comprados sem uma receita médica.

Em todo o mundo, de acordo com a Bloomberg, os animais de produção consomem mais antibióticos do que os humanos e vários estudos calculam que esse consumo cresça 67% até 2030, sobretudo por força das práticas de países em desenvolvimento, como a Índia e o Brasil, e devido à cada vez maior procura por proteína animal.

A comunidade científica tem vindo também a lançar outro alerta: é que a falta de uma solução para a crescente resistência aos antibióticos poderá gerar 10 milhões de mortes adicionais por ano e custos de 100 triliões de dólares até 2050. Os números foram avançados num estudo de fevereiro deste ano encomendado pelo primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron.

A banalização da utilização deste tipo de fármacos começou nos países desenvolvidos, promovida por uma demanda pela melhoria da saúde pública, mas em alguns países estes químicos estão a ser utilizados como substituto à implementação de medidas higiénicas e sanitárias.

Outro problema, sugere o artigo, é que alguns destes antibióticos estão rotulados, na Índia, como ‘suplementos alimentares para animais’. É conhecido há muitos anos que existe este tipo de utilização de antibióticos, como aceleradores do crescimento dos animais de produção, que está inclusive reconhecida por organizações como a American Veterinary Medical Association e a Animal Health Institute. De acordo com estas organizações, “estes fármacos ajudam a eliminar bactérias para que os animais consigam absorver melhor os nutrientes, de forma mais eficiente, e com recurso a menos alimentos.”

A consciencialização para este tipo de práticas e para as suas consequências levou a que, em 2013, a FDA tivesse pedido às farmacêuticas para pararem de vender antibióticos para promoverem o crescimento dos animais. Contudo, o regulador do país continua a permitir que estes sejam usados na prevenção de infeções, o que levou entretanto à adoção de outro tipo de medidas, que colocam o poder na mão dos médicos veterinários.

Lance Price, epidemiologista da Universidade George Washington, defendeu na altura que “se não fizermos leis para travar isto, como é que podemos pedir a países como a China e a Índia para cortarem a utilização de antibióticos? Os medicamentos que usávamos há sete ou oito anos já não funcionam, o que tem levado os produtores a pedir fármacos novos e mais poderosos. Mas o que é que vai acontecer quando esses deixarem de funcionar também? Não haverá nada!”

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