Um novo estudo conduzido pelo Royal Veterinary College (RVC), no Reino Unido, revelou que ratos podem apresentar comportamentos semelhantes ao tédio humano quando expostos a tarefas repetitivas com pouca variedade sensorial.
A pesquisa, liderada por Charlotte Burn, Professora Associada em Bem-Estar Animal e Ciência do Comportamento, destaca a importância da estimulação mental para o bem-estar animal e levanta implicações relevantes para o treino, maneio e cuidados veterinários de várias espécies, incluindo animais de companhia.
A investigação procurou entender como os sinais de tédio se manifestam durante a execução de tarefas monótonas, mesmo quando os animais estão num ambiente fisicamente enriquecido. Embora estudos anteriores tenham explorado o tédio em animais confinados em ambientes pobres, esta é uma das primeiras investigações a avaliar esse fenómeno durante uma atividade ativa e estruturada.
Os investigadores testaram 20 ratos em duas versões de uma tarefa que implicava procurar alimento: uma repetitiva e monótona e outra rica em variedade sensorial. Em ambas, os animais procuravam comida escondida em recipientes com diferentes materiais de escavação. Na versão monótona, todos os elementos – como sabor do alimento, textura e cheiro – eram mantidos constantes. Já na versão variada, havia mudanças frequentes nesses estímulos, mantendo-se o valor nutricional e o desafio físico.
Os resultados mostraram que, durante a tarefa monótona, os ratos tentaram sair do espaço de teste com mais frequência, demonstrando comportamento de “fuga” associado ao tédio, como aproximação da plataforma de saída. No entanto, não foram registadas diferenças significativas em sinais de sonolência ou desinteresse, o que sugere que a duração do teste pode ter sido curta para provocar os efeitos mais profundos do tédio contínuo.
Segundo Charlotte Burn, estes dados confirmam que os ratos não apenas apreciam tarefas como forragear, mas também procuram evitar a monotonia, tal como os humanos:
“Esta investigação confirma a complexidade das necessidades animais. [Os ratos] procuram escapar da monotonia, o que sugere que esta compromete o seu bem-estar, assim como nós em situações tediosas. Para quem cria ratos ou outros animais, estas descobertas servem como um lembrete para oferecer ambientes e oportunidades interessantes. (…) estes podem realmente se beneficiar da oportunidade de aprender uma tarefa gratificante ou de brincar com brinquedos novos, seguros e variados. Afinal, a variedade é o tempero da vida.”