A British Veterinary Association (BVA) pediu este mês aos médicos veterinários, auxiliares e produtores que tomassem medidas para minimizar os riscos de segurança depois de um inquérito revelar que mais de seis em cada dez veterinários de animais de produção no Reino Unido (61%) sofreram algum tipo de lesão ao longo de um período de um ano.
De acordo com a associação de veterinários britânica, 65% dos médicos veterinários de equinos e 66% dos veterinários de pequenos e grandes animais (mixed practice) também foram feridos por animais durante o exercício da sua função.
O inquérito Voice of the Veterinary Profession da BVA, de outono de 2018, revelou ainda que um em cada cinco veterinários de animais de produção classificou as suas lesões como “muito graves” ou “bastante graves”. Os ferimentos mais comuns, de acordo com a entidade, foram os hematomas causados por coices, relatados por 81% dos profissionais que responderam ao inquérito, mas também houve queixas de pisadelas, lacerações, arranhões e mordidas. Dos veterinários lesados, 19% ficaram sem trabalhar durante alguns dias como resultado dos ferimentos mais severos.
Apesar de ressalvar que não tem um conhecimento profundo sobre este assunto pelo que só pode dar uma opinião pessoal, George Stilwell, médico veterinário e docente na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, afirma: “Não creio que a percentagem de lesões (moderadas ou graves) seja tão alta em Portugal ou, pelo menos, entre os casos reportados e alvo de estatística.”
O veterinário, que exerceu clínica e cirurgia de espécies pecuárias durante 15 anos, diz que nunca sofreu qualquer traumatismo que o impedisse de trabalhar enquanto lidou com animais de grande porte, “se excetuarmos doenças infeciosas, como a brucelose”.
“Não consigo pensar em razões válidas que justifiquem esta (eventual) diferença, já que as instalações e condições de trabalho não devem diferir assim tanto daquilo que acontece na Grã-Bretanha. Os animais e sistemas de produção são também muito idênticos”, disse George Stilwell à VETERINÁRIA ATUAL.
Para o professor universitário e membro do conselho diretivo da Ordem dos Médicos Veterinários (OMV), é provável que os requisitos para o que é considerado uma lesão sejam diferentes no Reino Unido. “Por isso, alguns colegas deixarão de trabalhar e acionarão os seguros por motivos menores. Será que todos os veterinários ingleses têm bons seguros profissionais que cobrem estas lesões e, por isso, tornam-nas oficiais, entrando para as estatísticas? Será que os nossos veterinários ‘precisam’ de continuar a trabalhar mesmo com lesões pequenas/moderadas?”, questionou.
A diferença também poderá residir na dimensão das empresas, explicou Stilwell, frisando que muitos veterinários de animais de produção em Portugal “trabalham sozinhos ou em pequenos grupos” e, por isso, não têm ninguém que os substitua em caso de lesão.
“Eu lembro-me de ter sofrido alguns pequenos acidentes (pisadelas, etc.), mas ter de continuar a trabalhar porque não existia ninguém para me substituir e o trabalho tinha de ser feito. Se uma vaca está em trabalho de parto não é fácil dizer que não podemos ajudar porque temos uma unha negra”, notou.