Um estudo do Royal Veterinary College (RVC), no Reino Unido, apelou a uma abordagem mais robusta e unificada do setor para instruir o público sobre raças braquicefálicas, após publicar uma investigação que concluiu que os médicos veterinários estão a experienciar um conflito moral sobre esta questão.
O RVC entrevistou vários médicos veterinários cirurgiões de animais de companhia no Reino Unido, de forma a averiguar a sua experiência no que toca a consultas pré-compra de cães braquicefálicos.
O estudo revelou existirem várias barreiras em fornecer aos tutores uma consultoria e conselhos eficazes sobre estas raças.
Essas barreiras incluíram tempo e recursos limitados, concorrência pela disponibilidade de consultas, a perceção de que os veterinários estão lá apenas para resolver problemas, desconfiança do público em relação aos cirurgiões veterinários (muitas vezes relacionada a dinheiro) e medo de prejudicar o relacionamento entre veterinários e clientes.
Muitos dos médicos veterinários cirurgiões que participaram na investigação revelaram sentir que tinham pouco ou nenhum poder para ultrapassar estas barreiras, salientando que são “altamente intratáveis” quando o tema é abordado apenas por um veterinário.
De acordo com o estudo, os veterinários expressaram viver um conflito moral resultante das suas responsabilidades éticas e morais para com o bem-estar animal e as necessidades e desejos dos tutores e empresas. Neste sentido, o conflito moral foi referido como estando a comprometer a integridade profissional e autonomia.
Deste modo, o estudo apresentou quatro recomendações:
– Fortalecer a liderança veterinária entre organizações para desenvolver soluções abrangentes que superem as barreiras identificadas;
– Estabelecer um consenso conjunto, coerente e público entre essas organizações sobre a aceitabilidade percebida pela profissão em relação à criação e/ou aquisição de cães braquicefálicos, a fim de evitar depender de opiniões e ações individuais;
– Exercer maior pressão sobre outros intervenientes que perpetuam a crise dos cães braquicefálicos, a fim de promover mudanças sociais;
– Recursos práticos e soluções tecnológicas para facilitar consultas pré-compra, incluindo consultas online conduzidas por enfermeiros veterinários.
De acordo com Rowena Packer, professora de comportamento e ciência do bem-estar de animais de companhia no RVC e principal autora do estudo, “esta é a primeira vez que o impacto da braquicefalia no cirurgião veterinário praticante foi explorado”. E continua: “os nossos resultados são preocupantes e destacam a importância de reconhecer que a crise braquicefálica não está apenas a impactar negativamente os animais, mas também o bem-estar humano”.
A principal autora da investigação salientou que “à medida que a crise braquicefálica continua a prevalecer, o apoio das principais organizações veterinárias é vital para fornecer uma voz unida relativamente aos danos conhecidos da braquicefalia, assim como apoiar a facilitação de consultas pré-compra para garantir que os veterinários estejam protegidos e que os potenciais tutores estejam totalmente informados quando se precisam de tomar decisões”.
Para Dan O’Neill, coautor do estudo, “a mensagem aqui é clara. Todos precisamos de parar e pensar antes de comprar um cão braquicefálico”.