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Animais Selvagens

Associação Portuguesa de Resgate de Animais Exóticos: Projeto que tem no resgate e na adoção responsável a sua missão

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Foi a paixão por animais exóticos que levou uma bióloga especializada em comportamento animal e uma médica (não veterinária, mas de humanos) a fundarem, em finais de 2023, a Associação Portuguesa de Resgate de Animais Exóticos (APRAE), que atua em Lisboa, Porto e Coimbra. Neste projeto sem fins lucrativos, Marta Mendes e Sónia Rodrigues dedicam-se a resgatar espécies – sobretudo mamíferos exóticos domésticos, lagomorfos e roedoresvítimas de criação descontrolada/ilegal, abandono ou maus tratos. Após a recolha, os animais são reabilitados, tratados e entregues para adoção a famílias responsáveis.

“A primeira e única associação de animais exóticos domésticos em Portugal”. É desta forma que as fundadoras da APRAE, Marta Mendes e Sónia Rodrigues, descrevem aquele que é o mais recente projeto de bem-estar animal a nível nacional, especialmente dedicado a espécies domésticas exóticas.

 

Trata-se de uma associação sem fins lucrativos que faz resgate de animais exóticos vítima de abandono, criação ilegal ou maus tratos. Não possui um espaço físico, funcionando com base em famílias de acolhimento temporário (FAT) em Lisboa, Porto e Coimbra, mas com possibilidade de acolher animais oriundos de todo o País. A APRAE foca-se essencialmente em mamíferos exóticos domésticos, lagomorfos e roedores e funciona com donativos de particulares, sem apoios estatais.

“Após a recolha dos animais, reabilitamos, cuidamos e entregamos para adoção a famílias responsáveis. Fomentamos também a divulgação de medidas de bem-estar animal, dos cuidados com cada espécie, controlo de venda de animais e criação ilegal e do reconhecimento dos exóticos como animais de companhia”, explica Sónia Rodrigues à VETERINÁRIA ATUAL.

 

Até ao momento, a recém-criada associação já resgatou cerca de meia centena de animais, na grande maioria coelhos, chinchilas, hamsters e porquinhos-da-índia que, explica Marta Mendes, viviam em gaiolas pequenas, nunca foram ao veterinário e eram vistos pelos anteriores tutores como “espécies de pouca manutenção”, uma ideia bastante afastada da realidade.

Direitos reservados | Marta Mendes

Em 2019, a médica iniciou-se em resgate de animais exóticos de forma informal, após ter adquirido uma chinchila numa loja de animais e ter percebido a enorme falta de informação e a informação incorreta que grassa em Portugal acerca destas espécies. “A partir de 2021, com a chegada e a ajuda da Marta, fomos crescendo e ajudando cada vez mais animais, recolhendo e compilando informação de veterinários experientes e de pessoas individuais que faziam resgates de espécies específicas, ao mesmo tempo que fomos procurando centralizar essa informação no que é hoje a APRAE”, esclarece, acrescentando que a APRAE “colabora a nível nacional com outras associações, com veterinários de exóticos, lojas de animais, centros de recuperação de animais silvestres e com câmaras municipais, juntas de freguesia e outros organismos, de forma a podermos chegar aos que mais precisam de nós”.

 

Exóticos são tendência crescente nos lares portugueses

Com a esmagadora maioria das pessoas a residir em apartamentos em centros urbanos, e também com as espécies “da moda” a aparecerem nas redes sociais, a procura por animais mais invulgares tem crescido muito a nível nacional. De acordo com as fundadoras da APRAE, “o animal mais procurado pelos nossos adotantes é o coelho”.

 

Relativamente a este animal em concreto, “os candidatos a adoção que nos procuram são cada vez mais bem informados, sabendo que um coelho pode e deve viver solto em casa como um gato, que é possível educar para utilizar a ‘caixinha’ como estes, que necessita de vacinação e de esterilização feita por um veterinário de animais exóticos, e que a alimentação principal é feno”, refere Sónia Rodrigues. Porém, no caso das chinchilas, “temos muita procura mas ainda é difícil que os adotantes prospetivos aceitem que são animais que não vão querer estar sempre no colo e que precisam de ar condicionado para as manter a temperaturas de cerca de 22 graus”, destaca. Apesar da esperança de vida de uma chinchila rondar os 20 anos, estima-se que em Portugal cerca de 80% não sobreviva ao primeiro verão por falta de controlo térmico.

“Todos [os casos de resgate] nos marcam, mas os mais ‘especiais’ são aqueles que ninguém quer e que acabam por ficar connosco em regime de santuário. Habitualmente, são animais que precisam de cuidados de saúde específicos, os órfãos ou aqueles aos quais resta pouco tempo de vida.” – Marta Mendes e Sónia Rodrigues, APRAE

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“Sentimos que ainda há muita falta de conhecimento sobre espécies exóticas, além de existirem muitos casos de abandonos e vendas ilegais nas redes sociais e parece que as autoridades competentes não dão importância ao assunto”, lamentam as responsáveis da APRAE.

Até ao momento, a recém-criada associação já resgatou cerca de meia centena de animais, na grande maioria coelhos, chinchilas, hamsters e porquinhos-da-índia que, explica Marta Mendes, viviam em gaiolas pequenas, nunca foram ao veterinário e eram vistos pelos anteriores donos como “espécies de pouca manutenção”, uma ideia bastante afastada da realidade.

Antes de adotar seja que animal for, “aconselhamos os futuros tutores a pesquisarem sobre a espécie que querem ter e a falarem com associações”, sublinha a bióloga, mais conhecida pela “menina dos coelhos”, lembrando que a APRAE está sempre disponível para tirar dúvidas e ajudar as pessoas a tomarem uma decisão informada.

Casos marcantes

Questionadas sobre os casos de resgate mais marcantes neste quase meio ano de atividade da APRAE, Sónia Rodrigues e Marta Mendes afinam pelo mesmo diapasão: “Todos nos marcam, mas os mais ‘especiais’ são aqueles que ninguém quer e que acabam por ficar connosco em regime de santuário. Habitualmente, são animais que precisam de cuidados de saúde específicos, os órfãos ou aqueles aos quais resta pouco tempo de vida”, dizem.

Em termos de dimensão, houve um caso de resgate recente que marcou a atividade da APRAE: “mais de 30 porquinhos-da-índia, encontrados por um senhorio num galinheiro de um quintal, cheios de sarna e apenas com côdeas de pão para se alimentarem…”, recordam as fundadoras da associação. Tratava-se de um criador ilegal que residia naquela moradia e que, ao mudar de casa, abandonou os animais. O grande desafio, destacam, “foi conseguirmos famílias de acolhimento e posteriormente de adoção para todos”. Uma missão complexa, mas não impossível.

Em termos de maus tratos e de negligência humana, a coelha Uva é o exemplo mais pungente até agora. “Era uma coelha de criação para consumo que tinha sido espancada por um humano. Fez uma fratura da coluna lombar que a deixou paraplégica”. Sónia Rodrigues acolheu-a, na medida em que a esperança de vida do animal era curta e é muito complicado ter quem adote animais doentes. “A Uva era a coelha mais agradecida e com mais vontade de viver, apesar de o dia a dia dela ser fisioterapia, esvaziamentos vesicais, lavagens genitais e dos membros posteriores para evitar escaras. Durou apenas uns meses connosco, mas gostamos de pensar que foi feliz”, recorda a médica.

Estreita articulação com a medicina veterinária

Os resgates da APRAE são feitos por voluntários que entregam os animais a FAT. Estes tutores levam-nos ao veterinário para serem vacinados e esterilizados e só depois disto, os animais são colocados para adoção através das redes sociais da associação.

É também através das redes sociais que a APRAE desenvolve uma vertente de educação dos tutores, com a desconstrução de mitos relativos ao cuidado às várias espécies exóticas domésticas e a divulgação de informações úteis e importantes para quem tem destes animais de companhia em casa.

A articulação com a medicina veterinária é uma condição incontornável no trabalho desenvolvido pela APRAE. De acordo com Sónia Rodrigues, “a associação é frequentemente contactada por veterinários que presenciam situações de maus tratos, ou de tutores que pretendem eutanásia para animais que ainda podem viver uma vida feliz apesar de com algumas limitações”. A este respeito, a responsável recorda que “a APRAE está sempre disponível para receber animais com problemas de saúde. Temos também muitos veterinários que nos dão como referência aos tutores para local onde adotar animais, em alternativa à compra”. Além disso, adianta, “os nossos animais são sempre entregues com avaliação médica, desparasitação, e vacinação/esterilização consoante a espécie.  Temos também guias de bem-estar para cada espécie que os médicos veterinários podem consultar e disponibilizar aos tutores”.

“Estas espécies são cada vez mais comuns nas casas das famílias portuguesas, mas continuam a ser considerados animais de segunda categoria à luz da lei atual.” – Marta Mendes e Sónia Rodrigues, APRAE

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Esta articulação tem fomentado, igualmente, a investigação e o conhecimento em torno destas espécies, destaca Marta Mendes, na medida em que os problemas menos comuns que estes animais – já de si menos estudados – apresentam, motivam a procura de soluções “inovadoras” e o desenvolvimento em áreas de especialidade (como a ortopedia, por exemplo), abrindo caminho à construção de evidência neste domínio.

Medidas prioritárias e projetos na calha

Em termos de lacunas legislativas a nível nacional, no que respeita aos animais exóticos domésticos, as fundadoras da APRAE defendem como prioritária a integração destas espécies na legislação referente aos animais de companhia.

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“Estas espécies são cada vez mais comuns nas casas das famílias portuguesas, mas continuam a ser considerados animais de segunda categoria à luz da lei atual”, alegam as responsáveis. “Estamos a falar de seres vivos que são marginalizados quando estão para venda, em parte porque não existem diretivas que lhes proporcionem bem-estar”, lamentam.

Ainda que muito recente, a APRAE já tem alguns projetos ambiciosos na calha, conforme explica Marta Mendes à nossa revista: “Aquilo que eu ambiciono, também enquanto bióloga, era podermos expandir-nos para uma sede física e termos a possibilidade e capacidade de trabalharmos a sério num santuário para acolher os animais que não conseguimos recuperar”.

A APRAE em números

50 animais resgatados em cerca de 6 meses

10 famílias de acolhimento temporário

16 padrinhos

Parcerias com 4 veterinários, 6 lojas online, 1 petsitter

*Artigo publicado na edição 180, de março, da VETERINÁRIA ATUAL.

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