Um estudo, que entrevistou online 833 profissionais de veterinária em Portugal, revelou que 3,5% dos participantes tentaram suicídio durante a vida e 17,2% experimentaram depressão extremamente grave e ideação suicida no último mês, enquanto 18,5% da amostra idealizou suicídio, pelo menos, duas vezes no ano passado.
A análise também revelou que 11,8% dos profissionais veterinários relataram planear suicídio, pelo menos, uma vez na vida, com 1,6% a relatar que “queriam muito morrer”.
Já 17,8% e 27% sentiram stress extremo e ansiedade severa, respetivamente, e 27,4% e 27,7% relataram ter experienciado esgotamento e ‘fadiga por compaixão’, respetivamente.
As conclusões são do estudo “Suicide Risk in Veterinary Professionals in Portugal: Prevalence of Psychological Symptoms, Burnout, and Compassion Fatigue”, da autoria da psicóloga Maria Manuela Peixoto, que concluiu também que profissionais com histórico de doença mental, com sintomas clínicos atuais de depressão, ansiedade e stress, que trabalhem mais de 40 horas por semana, experimentaram um maior nível de esgotamento, ‘fadiga por compaixão’ e pensamentos suicidas.
De acordo com o estudo, outras variáveis, nomeadamente ser mulher, ser assistente veterinária e discordar dos motivos da eutanásia, também são razões apontadas para alguns problemas de saúde mental.
A investigação também concluiu que os assistentes veterinários, com graus académicos inferiores e salários mais baixos do que os veterinários e enfermeiros, podem ser mais propícios à existência de um maior risco de suicídio.
“Os problemas de saúde mental nos profissionais veterinários portugueses são uma grande preocupação. Estes profissionais correm um maior risco no que toca a suicídio e implicações clínicas”, lê-se no estudo.
“Na verdade, as taxas e tentativas de suicídio são significativamente prevalentes entre profissionais veterinários” e “dada a ausência de estudos entre amostras portuguesas e a necessidade de avaliar a situação para a criação de recomendações de saúde, é fundamental descrever as taxas de problemas psicológicos deste risco entre profissionais veterinários que trabalham em Portugal”, enfatiza a análise.
A investigação questionou 443 veterinários, 287 enfermeiros e 103 assistentes da área, entre dezembro de 2022 e março de 2023, através do preenchimento de questionários.
De acordo com a investigação, no geral, as principais conclusões do estudo são consistentes com trabalhos empíricos anteriores realizados nos Estados Unidos da América (EUA), Canadá e Reino Unido mostrando níveis significativos e aumentados de esgotamento, ‘fadiga por compaixão’ e pensamentos suicidas.
No entanto, refere a análise, os dados obtidos por outras investigações em outros países incluem apenas veterinários, ao contrário do presente estudo, que englobou assistentes e enfermeiros do setor, “permitindo que as descobertas sejam alargadas a profissões veterinárias que não sejam apenas médicos”.