O crescente fosso entre competências oferecidas e procuradas é um problema grave e galopante para os nossos negócios. Formar e desenvolver comportamentos tornou-se uma questão central e um investimento prioritário, se queremos atingir resultados que nos permitam ter futuro sustentado.
Paradoxalmente temos, por um lado, um desemprego jovem e/ou trabalho dito precário, mas temos também muitos CAMV que procuram novos funcionários. O défice de competências é um dos motivos pelo qual as organizações têm mais dificuldade em encontrar os candidatos com o conhecimento, competências e habilidades necessárias para as posições em aberto. Mais do que estes gaps de competências técnicas específicas, os empregadores estão preocupados com a profunda falta de competências críticas – as soft skills – tais como a comunicação, colaboração, criatividade, pensamento crítico, espírito de equipa e empatia. De acordo com a Universidade de Harvard, a Fundação Carnegie e Centro de Pesquisa de Stanford, 85% do sucesso no trabalho provém de soft skills bem desenvolvidas e apenas 15% vem do conhecimento e competências técnicas (hard skills).
Esta valorização cada vez maior da participação dos colaboradores na gestão da empresa fez surgir o jargão: “VESTIR A CAMISOLA DA EMPRESA”. Os colaboradores que vestem a camisola trabalham, planeiam as suas ações e realizam as suas tarefas pensando no que é importante para os resultados e a imagem do negócio. Têm um interesse genuíno e emoção naquilo que fazem. Da minha experiência pessoal enquanto recrutadora e de tudo o que venho auscultando dos donos de clínicas e hospitais com quem colaboro, podemos realçar 7 competências essenciais num colaborador “que veste a camisola”:
- COMPROMISSO
Compromisso com o seu trabalho individual e com a empresa. O colaborador deve ter a vontade de atingir metas e objectivos e, especialmente em tempos difíceis, valorizam-se colaboradores que procuram soluções em vez de gastarem o seu tempo a culpar os outros pelo seu insucesso (como vemos com frequência). Aconselho-vos a conhecer os indicadores do negócio e do vosso desempenho e contribuírem com ideias para majorar esses indicadores.
- VERSATILIDADE
As nossas pequenas empresas não têm espaço para pessoas que só querem fazer o seu trabalho. Enquanto gestores, valorizamos aqueles com “ganas” para fazer o que tem que ser feito e não apenas o que vem na sua job description. Afirmações como “isso não faz parte das minhas funções” deixaram de ser toleradas. Tudo é função de todos, se todos estivermos a trabalhar para o mesmo, a mesma missão. Eu posso não ser funcionária da limpeza, mas se vir sangue na sala de espera, não devo deixar para o próximo limpar.
- ATITUDE POSITIVA
Não é uma competência negociável, tem que estar presente. A atitude certa conduz ao sucesso e todos queremos pessoas positivas ao nosso redor porque é contagiante.
- CAPACIDADE DE TOMAR E ASSUMIR DECISÕES
A maior parte dos nossos líderes odeia fazer micromanagement (ou pelo menos assim o diz) das suas equipas, mas muitas vezes são forçados a fazê-lo porque os seus colaboradores não demonstram competências para desenvolver pensamento crítico (o chamado bom senso) e tomar decisões.
Tomar decisões e assumi-las não é tarefa simples. É preciso saber, saber fazer e querer fazer. Diariamente vejo colaboradores a fugir ao ónus da responsabilidade sobrecarregando colegas e chefias com perguntas simples. Se queremos ter direitos, tomar as rédeas do nosso trabalho e responsabilizarmo-nos por ele, é o primeiro dos nossos deveres. Se sentirem não ter as competências e/ou conhecimento para dar as respostas certas, falem com os vossos diretores e reforcem essas fragilidades.
- CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO
É um fator crítico no nosso negócio. Um artigo recente da In Pratice, refere que uma grande parte dos erros detectados nos CAMV se devem a defeitos na comunicação dentro da equipa. A nossa realidade nacional não é diferente e sabemos bem que uma boa comunicação é fundamental para a organização do trabalho, resolução dos problemas, apresentação das soluções ao cliente e até para o equilíbrio e felicidade da equipa.
Uma boa comunicação desenvolve-se. Existem regras e processos que devem ser desenhados e treinam-se técnicas de comunicação.
- DAR O EXTRA MILE
Pode parecer uma missão impossível porque há dias em que corremos tanto para realizar as tarefas que vão surgindo, que contribuir com mais parece estar fora do nosso alcance. A verdade é que colaboradores que têm a capacidade de se organizar, gerir eficazmente o seu tempo e agarram projetos seus, crescem profissionalmente e expandem uma série de competências pessoais (liderança, trabalho em equipa, comunicação, etc.)
- PAIXÃO
A diferença que faria se todos os colaboradores fossem tão apaixonados pelos seus trabalhos como os seus líderes! Quando um colaborador acredita fortemente na missão da empresa onde trabalha, sente-se mais conectado e consequentemente trabalha melhor e com muito mais impacto, deixando a sua marca. Quando não há motivação parece que nada vale a pena e o trabalho fica cansativo. Se já não vê mais razões para se empenhar pelas causas da sua empresa e nada mais parece ter valor, repense a sua posição, a sua carreira e seu papel na empresa. Talvez seja o momento de mudar. Às vezes isso não implica trocar de emprego, implica a análise do que pode ser feito para que se sinta mais motivado.
Finalizo com uma pequena conversa que um dia tive com um colaborador a propósito da motivação e da paixão pelo seu trabalho. “Maria, gostava de falar contigo sobre o teu desempenho aqui no hospital, a tua atitude e a maneira como te relacionas com os clientes e colegas. Sinto que não estás feliz porque raramente te vejo sorrir e em diversas situações (que enumerei) senti que não arredavas pé do problema.” A resposta que obtive, muito seca e curta foi: “Está enganada Dra. Já recebi várias propostas de emprego que me dariam oportunidade de sair daqui, mas nunca aceitei porque me sinto realizada neste trabalho”. E com esta meti a viola no saco, convicta que esta pessoa se tentava enganar a ela própria. Quando existe paixão no trabalho, é impossível esconder: todo o nosso corpo transparece sinais de conforto, de motivação, de gozo em solucionar problemas. Há dias duros? Há. Também os tenho. Mas nunca esqueçam que a nossa atitude é o nosso cartão-de-visita.