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Pequenos passos para tornar um CAMV amigo do ambiente

Pequenos passos para tornar um CAMV amigo do ambiente

Podem ser pequenos passos, mas que, em conjunto, conseguem dar um contributo significativo para diminuir a pegada ecológica das clínicas veterinárias. Apresentamos três exemplos de como a alteração das práticas diárias instituídas há muito na medicina veterinária podem reduzir a emissão de gases anestésicos poluidores da atmosfera, otimizar a prescrição de fármacos e reaproveitar o desperdício de plástico para lhe dar nova vida e novas funções. É fácil? Talvez não, exige empenho das equipas, mas compensa a longo prazo na saúde do planeta.

Foi em 2020, quando praticava mergulho de profundidade, que o médico veterinário Bruno Tavares despertou de forma mais consciente para a realidade das alterações climáticas e do aquecimento global. Num dia em que desceu até aos 30 metros de profundidade no mar Bruno percebeu que a temperatura da água “era de 20º C, o que não é normal, a essa profundidade deve estar abaixo dos 10º C”, conta à VETERINÁRIA ATUAL.

 

É certo que são muitas as notícias sobre eventos extremos no clima ou o aumento da temperatura no planeta, mas, às vezes, é necessário um momento, o chamado “clique”, para a consciencialização sobre uma realidade concreta. Aquele foi o dia em que o também diretor clínico da Clínica Veterinária Boa Nova, em Leça da Palmeira, Porto, decidiu que, enquanto profissional, estava na hora de fazer alguma coisa pelo planeta, até porque “a temperatura (do ambiente) está muito influenciada pelas práticas dos vários setores da sociedade” e a veterinária não é exceção.

O primeiro passo foi tentar perceber qual era o impacto ambiental de uma estrutura veterinária de pequena dimensão. Na clínica que dirige, com uma equipa de sete pessoas entre médicos e auxiliares, fez um estudo piloto que consistiu em separar e contabilizar resíduos durante semanas e, através de modelos matemáticos, calcular o impacto da atividade clínica no ambiente se mantivesse os procedimentos atuais. Afinal, por mais pequeno que seja o Centro de Atendimento Médico-Veterinário (CAMV), o desperdício de materiais hospitalares descartáveis é uma constante, a par do impacto da utilização de gases anestésicos nas salas de cirurgia na qualidade do ar da atmosfera (ver caixa).

 

E esse impacto da atividade de um CAMV no ambiente ficou claro nas conclusões desse estudo que Bruto Tavares apresentou em outubro do ano passado no XVII Congresso Internacional Veterinário Montenegro. “Só na sala de cirurgia com a anestesia, se mantivéssemos este ritmo, num ano tínhamos a produção de 130 kg de plástico, à volta de 50 kg de papel e biológicos, o vidro com valores inferiores e os metais são o que menos se gasta”, contabilizou o veterinário.

Depois, foi agarrar nestes números, extrapolar com modelos matemáticos, e perceber que até 2050 – a data da meta de neutralidade carbónica NET Zero – uma clínica veterinária de pequena dimensão como a que Bruno Tavares dirige pode produzir cerca de 3800 kg de resíduos plásticos.

 

No estudo foi ainda possível projetar o impacto ambiental de estruturas maiores, como um hospital veterinário, que se mantiver os atuais modelos de funcionamento “até 2050, pode fazer muito facilmente 38 mil toneladas só de plástico, isto não incluindo o crescimento da estrutura, que influencia o aumento da contaminação de plástico do ambiente, e também não incluído uma política de redução deste desperdício, porque isso é possível”.

Mas essa também era uma parte importante da investigação: perceber o que era possível fazer para diminuir o impacto ambiental do setor da veterinária. Teoricamente, o modelo utilizado mostrou que um pequeno CAMV como a Clínica Veterinária Boa Nova “mesmo com um crescimento de 5% ao ano da estrutura, implementando uma política de redução de 20% dos nossos desperdícios hospitalares, consegue passar de 3800 kg para cerca de 3200 kg, o que já é uma redução significativa”, reconhece Bruno Tavares.

 

Teoricamente, o modelo utilizado mostrou que um pequeno CAMV como a Clínica Veterinária Boa Nova “mesmo com um crescimento de 5% ao ano da estrutura, implementando uma política de redução de 20% dos nossos desperdícios hospitalares, consegue passar de 3800 kg para cerca de 3200 kg, o que já é uma redução significativa” − Bruno Tavares, diretor clínico da Clínica Veterinária Boa Nova

Antecipar, preparar e reutilizar são o segredo da sustentabilidade

Se o modelo matemático mostrava as possibilidades teóricas de diminuição dos desperdícios na atividade da clínica, o veterinário e a equipa decidiram pôr mãos à obra e provar na prática que é possível, com algumas medidas e ajustes, praticar uma medicina veterinária mais sustentável, nomeadamente no campo da anestesia. “Sendo a sala de cirurgia um grande contaminante do ambiente, e sendo a saúde o 5º emissor de carbono no planeta, existem 40% de materiais na sala de cirurgia que podem ser potencialmente recicláveis”, revela.

O ponto de partida para ter uma clínica mais sustentável passou por atribuir a cada animal que vai ser alvo de uma intervenção um plano cirúrgico que, antecipadamente, estabelece as necessidades do procedimento. A preparação e a organização são elementos-chave do plano que inclui pré-preparar as seringas para que não haja desperdício de fármacos, preparar antecipadamente cateteres e incluiu uma transição da anestesia volátil gasosa para uma anestesia TIVA, totalmente intravenosa, “conseguindo, assim, manter o controlo [anestésico], mas reduzindo os gases que são quase o maior contaminante da sala de cirurgia, paralelamente ao plástico”, conta o médico veterinário, que acrescenta: “Começámos sobretudo a utilizar fluxos de gases muito mais baixos, fazemos uma anestesia target control, utilizamos a tecnologia índice bispectral para usarmos mesmo a quantidade [de fármaco] necessária, nem doses a mais, nem a menos, apenas aquilo que é mesmo necessário”.

A clínica também deixou de usar batas descartáveis nas cirurgias e passou a preferir as batas cirúrgicas reutilizáveis, que podem ser lavadas até 70 vezes sem aumento das taxas de infeção nos animais intervencionados. E sim, a lavagem dos equipamentos consome energia elétrica, mas, assegura o veterinário, comparando o impacto da reutilização destes materiais com o impacto gerado pela produção de uma nova bata, que além de energia necessita de matéria-prima e de ser transportada desde o produtor até ao consumidor, a balança é claramente favorável à reutilização.

Neste caminho para uma maior sustentabilidade, interessa também atuar fora da sala de cirurgia e, por isso, desde 2018 que a clínica é totalmente digital, o que resultou numa redução expressiva na utilização de papel e numa melhoria de todo o processo de acompanhamento do animal e tem permitido até uma aposta na inteligência artificial para antever as necessidades e adaptar os planos farmacológicos à doença, ao doente e às expectativas do tutor.

Uma longa estrada a percorrer para a sustentabilidade

O plano delineado por Bruno Tavares ainda está no início e assenta na ideia de que “somos um grão de areia, mas se com uma estrutura pequena conseguimos ter este impacto, o que será possível alcançar em estruturas de maior dimensão em termos de impacto ambiental”, com a redução do desperdício, não só material, mas também financeiro. Cada consultório, cada clínica, cada hospital pode dar o contributo, por mais pequeno que seja, mas em conjunto terão um impacto substancial na redução do desperdício hospitalar, na reutilização de materiais e, em última instância, na redução do impacto da medicina veterinária no ambiente.

Contudo, os obstáculos existem e alguns implicam uma mudança de mentalidades tanto dos veterinários, como da indústria farmacêutica. Segundo Bruno Tavares, a comercialização de fármacos segundo o princípio da quantidade versus preço é o que tem conduzido ao atual desperdício de fármacos, numa altura em que se vive uma crise de produção de medicamentos devido à escassez de matéria-prima, como foi notório no ano passado com as vacinas para os animais de companhia.

Na opinião do médico veterinário, comprar grandes quantidades nem sempre sai mais barato e sobretudo, nem sempre é melhor para o ambiente devido ao desperdício. A solução passaria pela criação, por parte das farmacêuticas, “de embalagens para consumos superiores, mas também adaptarem-se e criarem embalagens para consumos menores e mesmo consumos planeados”, que permitiriam uma melhor gestão e uma diminuição do desperdício. E, sendo um recurso bastante finito, é urgente conseguir esta otimização no uso de fármacos não só com embalagens mais pequenas, mas também apostando na inteligência artificial para o diagnóstico preditivo, sobretudo na oncologia veterinária.

A mudança de paradigma no funcionamento do CAMV ainda está numa fase inicial e Bruno Tavares sabe que há áreas que ficaram, nesta primeira fase, de fora, mas serão de abordar no futuro. O veterinário já aponta os consumos de energia e de água como os próximos passos nesta caminhada para um menor impacto da medicina veterinária no ambiente e está também a pensar em formas de monitorização da contaminação da água pelos resíduos farmacológicos.

O que fazer com os funis inutilizados?

Esta era uma das perguntas que inquietavam Vasco Machado. Médico veterinário em Alvor, no Algarve, o responsável pela clínica SuperVet sabe bem que esta é uma região com uma alta prevalência de doenças crónicas de pele em animais de companhia e daí a utilização recorrente de colares que permitam fazer os tratamentos dermatológicos, à qual se junta o recurso constante a este acessório para o recobro das cirurgias.

Só que os comuns funis são feitos de plástico e como lembra em conversa com a VETERINÁRIA ATUAL, “facilmente um cão de 30 kg ou 40 kg estraga dois ou três funis durante um tratamento”. Inutilizados, o que fazer com eles?

A resposta mais habitual seria colocá-los na reciclagem, mas esse foi um dos problemas identificados na utilização de plástico na clínica que levou Vasco Machado a considerar, em janeiro deste ano, que estava na altura de agir em prol de uma política de maior sustentabilidade. “Começámos a pensar como poderíamos ser mais ecológicos, mais verdes, não apenas com a reciclagem que entregamos a empresas de resíduos e depois não conhecemos o destino final dos produtos”, conta.

O veterinário teve então a ideia de recolher todos os resíduos de plástico não contaminado da clínica – como os colares e as gamelas – e entregá-los a empresas especializadas que, com esses resíduos de plástico, depois vão produzir materiais que podem ser novamente utilizados no dia-a-dia pelo CAMV. Quem sabe transformá-los em novos funis, novas gamelas, novas caixas para arrumação ou para usar durante as cirurgias, ou seja, colocar verdadeiramente em prática o conceito de economia circular.

O responsável pela clínica SuperVet, Vasco Machado, teve a ideia de recolher todos os resíduos de plástico não contaminado da clínica – como os colares e as gamelas – e entregá-los a empresas especializadas que, com esses resíduos de plástico, depois vão produzir materiais que podem ser novamente utilizados no dia-a-dia pelo CAMV.

A equipa da SuperVet da esquerda para direita: os médicos veterinários Margarida Martins e Vasco Machado e a enfermeira Joana Baptista.

Os contactos com empresas especializadas neste modelo de reciclagem já começaram e Vasco Machado espera que, a prazo, possa ser possível tornar a clínica “autossuficiente” em matéria de plásticos e, se houver matéria-prima suficiente, até pondera comercializar os materiais reciclados a outros CAMV.

“Se nós que somos uma clínica pequena conseguimos fazer uma coisa boa com pouca quantidade, imaginemos um hospital com muita casuística, por isso, a ideia é divulgar o projeto e os resultados a todas as clínicas e hospitais para eles também o possam fazer”, refere Vasco Machado. O veterinário acredita que com o potencial lucro, ou de menos prejuízo, desta iniciativa para a atividade das clínicas “vai ser fácil convencer os colegas a aderirem a esta chamada de atenção ao pensamento verde das clínicas”.

Começar com pequenos passos, mas seguros

A equipa da SuperVet é pequena – dois médicos veterinários e uma enfermeira – mas está muito motivada neste projeto. Aliás, há muito que sentiam necessidade de fazer algo em prol do ambiente e da reciclagem. “Tentamos sempre ser mais verdes porque temos noção que o desperdício (em CAMV) é mesmo muito e vemos isso até quando chega uma encomenda na qual a quantidade de papel e de plástico utilizada (no embalamento) é ridícula”, reconhece o veterinário.

Começam agora este projeto do plástico, porque, diz Vasco Machado, “com pouco queremos fazer muito” e com passos pequenos e bem estruturados alcançar o objetivo da autossuficiência.

Mas ideias não faltam para tornar a atividade da clínica mais amiga do ambiente.

O próximo objetivo talvez passe pelo consumo e transformação do papel e, a prazo, está a ser equacionada a mudança de veículo. O médico veterinário pondera trocar a carrinha com que começou a fazer domicílios há sete anos, antes de abrir a cínica há três, por uma viatura mais amiga do ambiente. Contudo, o mercado dos veículos elétricos ainda “é um pouco limitado ao nível de preços e de modelos e para o estilo de domicílio que faço, com uma carrinha com uma jaula lá atrás, não consigo ter uma grande oferta a esse nível e o preço ainda está alto”, explica.

Criar um CAMV já a pensar na sustentabilidade

A aquisição de um veículo elétrico é também um dos projetos futuros da Clínica CascaisVet que nasceu em outubro de 2019 já com uma perspetiva mais sustentável da atividade veterinária. Quem o conta é a médica veterinária Rita Vicente e a enfermeira Catarina Pinto, que na clínica se dedicam mais a este tema, e lembram como na génese deste CAMV “a união da medicina convencional e da medicina integrativa/complementar, partiu do olhar de uma equipa que queria diferenciar-se através de novas metodologias e de clientes que cada vez mais se sentem confortáveis e confiantes com uma abordagem mais ecológica e menos agressiva quimicamente, sobretudo em pacientes com doenças crónicas”.

Atentas já a nível pessoal aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), publicados em 2015 pela Organização das Nações Unidas, a veterinária e a enfermeira explicam que a equipa se organizou “de forma que o projeto contribuísse para o desenvolvimento económico, social e ambiental e, com o nosso esforço, auxilie que a Agenda 2030 seja um sucesso”. Para isso, a clínica focou a atividade nos ODS que trabalham a saúde de qualidade, a educação de qualidade, a produção e consumo sustentáveis e a ação climática e desde que abriram portas que “existe a preocupação diária da política dos 5R [reduzir, reutilizar, recuperar, renovar e reciclar], contribuindo para uma pegada ambiental menos marcante”.

Essa política passa por reduzir ao máximo a quantidade de resíduos produzidos diariamente, desperdiçando menos e consumindo apenas o necessário. “Por exemplo, uma das práticas diárias passa por uma política de digitalização e envio por correio eletrónico de variadíssimos assuntos, como os resultados de exames complementares dos pacientes, as faturas do cliente, campanhas, parcerias com fornecedores, entre outros”, referem, acrescentando que dão primazia a produtos “em que o plástico não esteja presente ou, não havendo outra possibilidade, que este seja reciclado”, nomeadamente no que diz respeito aos brinquedos, snacks e nutracêuticos. Também já fizeram um contrato de consumo de energia verde que pretende diminuir o consumo de energias não renováveis.

Na CascaisVet também se aposta na reutilização dos materiais de embalamento das encomendas − como o cartão que ganha nova vida como esconderijo para gatos ou base de apoio nas camas de internamento – e na recuperação e renovação de materiais que se encontram degradados para terem nova vida com a mesma ou outra função.

A reciclagem foi o “hábito mais fácil de todos, porque como já referido anteriormente, o corpo clínico é bastante consciencioso” e, assim, a separação do papel, plástico, vidro e lixo comum, bem como, de resíduos cortantes e perigosos está mais do que rotinada.

Mas a sustentabilidade, tal como está escrito nos ODS, vai muito além da redução de desperdício, da reutilização e da reciclagem, implica uma visão diferente da sociedade e da atividade económica. Nessa medida, a responsabilidade económica e social é um campo de atuação que a clínica não descura e tenta “escolher fornecedores e parcerias locais, ajudando na economia circular”, implementa programas de inclusão social, como os estágios com jovens portadores de deficiência da Cercica, e aposta em programas de esterilização de animais errantes e de promoção de adoção responsável.

Abdicar do agora a pensar no futuro

É certo que optar por uma visão mais sustentável da atividade do CAMV exige uma alteração de comportamentos e, sobretudo, tem implicações ao nível financeiro. “Optar por uma política sustentável implica fazer escolhas conscientes”, dizem Rita Vicente e Catarina Pinto, e isso “implica abdicar daquilo que parece ser mais barato e prático no «agora», porém terá consequências futuras não só para a clínica, mas a uma escala global”.

A nível financeiro, por exemplo, ainda existe a perceção de que “aquilo que é considerado sustentável é um pouco mais dispendioso o que, por vezes, torna a tomada de decisão difícil porque também não se pode descurar que a clínica também tem toda uma gestão financeira para continuar de portas abertas”. Ainda assim, é claro para a equipa que este “é um risco assumido e calculado na expectativa de vir a dar frutos no futuro.”

E contam com os tutores nesta visão ambiental, com as partilhas durante a consulta e nas redes sociais a refletirem-se numa “maior sensibilização para cuidados básicos no dia-a-dia, nomeadamente ao nível do consumo de material reciclado, biodegradável, a opção pelo correio eletrónico, a procura por uma alimentação mais natural”, conta a equipa, que remata: “Tudo isto são pequenas vitórias.”

Falta investigação sobre sustentabilidade em anestesia na medicina veterinária

No XVII Congresso Internacional Veterinário Montenegro foi também apresentado um poster com um trabalho sobre sustentabilidade desenvolvido por alunas da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Lusófona, que fazem parte do Núcleo de Medicina de Animais de Companhia da associação de estudantes.

Sara Alves, uma das autoras do trabalho, explica à VETERINÁRIA ATUAL que a investigação procurou saber qual o nível de preocupação da medicina veterinária com a sustentabilidade da atividade, nomeadamente no que diz respeito à investigação científica sobre a anestesia sustentável e o cenário encontrado não deixou de ser um pouco desolador.

“O método que utilizámos foi a pesquisa no PubMed de trabalhos publicados entre 1991 e 2021. Categorizamos os trabalhos em medicina humana e medicina veterinária e dos 3791 artigos encontrados sobre anestesia sustentável, 31 foram integrados no tema, dos quais 29 eram sobre medicina humana e apenas dois de medicina veterinária”, conta a estudante.

A importância da temática ficou patente na discussão do poster, durante a qual se falou sobre o impacto dos anestésicos voláteis na atmosfera. “O sevoflurano fica na nossa atmosfera durante um ano, o isoflurano, que é administrado com muita frequência, entre dois e três anos e o desflurano, que é o menos utilizado, até 14 anos”, enumera Sara Alves para explicar a importância de uma abordagem que diminua o consumo destes grandes poluidores da atmosfera. “É preciso optar pela anestesia intravenosa ou pelos bloqueios regionais porque são mais sustentáveis e não há emissão de gases anestésicos”, ao mesmo tempo que é imperativo diminuir o consumo de plásticos já que, segundo a pesquisa, só nos Estados Unidos da América, os blocos operatórios são responsáveis por 30% dos gastos de plástico anuais nos hospitais.

A administração de fármacos, cujo desperdício pode chegar aos 50% em situações de emergência, é outra preocupação, sendo aconselhado a pré-preparação das medicações de emergência nas doses expectáveis.

Se não for observada esta alteração nos procedimentos, Sara Alves crê que pode mesmo “estar em risco o conceito de One Health já que o sector da saúde continuará a ser um grande contribuinte para o efeito de estufa”.

A equipa que fez a pesquisa sobre o panorama da anestesia sustentável na medicina humana e veterinária, da esquerda para a direita: Beatriz Saraiva, Carlota Ramos, Isabella Sposito, Sara Alves, Ema Fernandes, Sara Mestre, Beatriz Fonseca e Constança Cunha.

*Artigo publicado originalmente na edição n.º 157  da revista VETERINÁRIA ATUAL, de fevereiro de 2022.

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