Atualmente e mais do que nunca, os animais de companhia exercem uma função de extrema importância na sociedade, ajudando a preencher lacunas que a própria sociedade criou. Tal como acontece noutros países, Portugal já tem mais cães ou gatos nas famílias do que crianças. Segundo a GFK, existem no país cerca de 6,7 milhões de animais de estimação. Entre os países europeus com mais animais de estimação, Portugal aparece em 12º lugar. A prática da adoção aumentou, bem como as idas ao veterinário e a preocupação com a alimentação e higiene. Os cães são os preferidos dos portugueses, seguidos dos gatos, pássaros e peixes.
O cão é incomparável no que toca à sua devoção e amizade incondicional. A dupla capacidade de ser um animal de companhia, enriquecendo a vida de milhões de pessoas espalhadas por todo o mundo, e simultaneamente desenvolver atividades ao serviço do homem, utilizando para isso as suas competências desportivas, de trabalho e até mesmo de assistência social, tornam-no único. Cada vez mais, o cão é tido como parte integrante da família. Nós, como médicos veterinários, temos um papel fundamental nesta mudança de perspetiva, que deverá ser acompanhada pela nossa evolução no domínio clínico e científico. Mas, além de evoluir em áreas de especialização clínica, devemos tentar adaptar-nos à necessidade crescente de proximidade que estes novos membros da família exigem.
Os donos querem estar cada vez mais informados e sentir que têm um acompanhamento “especializado” para cada um dos problemas clínicos que o seu cão apresenta, mas continuam a exigir um apoio personalizado e “familiar” nas questões práticas, como as que visam a segurança, a alimentação, a reprodução, a higiene e medicina preventiva. Há momentos da vida dos animais em que este acompanhamento médico assume especial destaque, como a pediatria, na qual também se criam os primeiros laços de confiança, e a geriatria, quando os cuidados médicos aumentam e mais do que nunca e se impõe a necessidade de contatar com vários médicos veterinários de diferentes áreas clínicas.
Pessoas informadas e acompanhadas são pessoas dedicadas e interessadas
O sucesso da comunicação dos médicos veterinários com as famílias dos seus pacientes passa pela forma como a informação é transmitida, criando laços de confiança e de proximidade, que permitam a orientação e a implementação terapêutica adequada a cada condição clínica. A par de todas as áreas clínicas veterinárias em grande desenvolvimento, há que valorizar a “Medicina Veterinária Geral e Familiar”. Na sua essência, é junto destes médicos veterinários “de família” que desejavelmente tudo deve começar e acabar, na condução dos processos de saúde, doença e até mesmo no possível conforto para a difícil despedida.
É comum os médicos veterinários ouvirem palavras de reconhecimento ao seu profissionalismo, mas também ao afeto com que tratam os seus pacientes. As pessoas querem o médico veterinário “de família”, um alicerce fundamental no apoio clínico, mas também na orientação e educação veterinária, acompanhando-os regularmente e oferecendo cuidados de natureza preventiva e curativa, física e emocional, orgânica e funcional.
Quando surgiu o convite da Leya para elaborar um livro com informação clínica organizada e adequada ao público geral, acedemos a sair das nossas áreas de conforto e responder ao desafio. A ligação forte e de confiança que desenvolvemos com os nossos clientes inspirou-nos a escrever um livro técnico, clínico para o público geral. O livro “Cool Dog” é um guia prático, dividido em dez capítulos, que permite aos donos acompanharem de modo informado as diversas fases da vida do cão, ajudando a desfrutar do privilégio que é ter um cão. Há muita informação sobre cães, mas o “Cool Dog” é uma compilação de várias temáticas, na perspetiva de duas médicas veterinárias. Os conteúdos abordados, as opiniões, dicas e conselhos baseiam-se na nossa prática clínica diária, nas questões colocadas pelos clientes, nas suas dúvidas e inseguranças.
Reconhecendo a importância destes cães na sociedade, a venda do livro contribui para apoiar a escola de cães guia (ABAADV). Um cão de assistência, como é o caso do cão guia para cegos, pode ajudar estas pessoas a ultrapassar as barreiras sociais, mudando a perspetiva que a sociedade tem delas e até a perspetiva que os incapacitados têm sobre si próprios. No final deste processo, o sentimento gratificante de ser médico de uma espécie tão especial quanto o cão e de merecer a confiança dos nossos clientes, saiu reforçado.