Cheira a verão, a férias, hora de relaxar e aproveitar o calor e os bons petiscos desta época. Ou não!
Diz a minha experiência que esta é uma das épocas do ano que mais stresse cria nas pessoas envolvidas na gestão de equipas nos CAMV. E porquê? Em parte por dificuldades de planeamento e organização das equipas (problemas intrínsecos) e por outro porque os clientes nesta altura do ano ficam mais “entorpecidos” quanto às suas prioridades e frequentemente só identificam problemas nos seus animais depois de um belo dia na praia ou a seguir aos jogos do europeu. E salvo para os horários hospitalares em que as equipas trabalham ininterruptamente, para a maioria das nossas clínicas coincide com o horário de fecho, significando horas de trabalho acrescido (problemas extrínsecos).
Hoje, para sermos produtivos, vamos focar-nos apenas naquilo que podemos controlar: como podemos organizar o nosso negócio e as nossas equipas para que, quando chega o verão, tudo flua com o mínimo de contratempos.
O segredo é simples: antecipação & planeamento. Vocês riem! “Mas antecipar o quê? Não sou adivinho…”; “Onde vamos arranjar tempo para isso?”; “Na minha cabeça está tudo planeado, mas a equipa não se entende e querem todos ir de férias na mesma altura”. Vamos por partes.
ANTECIPAÇÃO
-
Negócio e necessidades do negócio
Conhece o seu negócio? Tem um histórico, certo? O que é que falhou no ano anterior? Como varia a sua sazonalidade, se a tem? Há meses de pico? Coincidem com o verão? Há zonas do país em que Julho e Agosto são picos de trabalho e faturação, com alguma probabilidade no interior do país, com as deslocações de férias para a costa, o verão é uma altura pacífica para os negócios. Com isto quero dizer que é necessário perceber as exigências do negócio para saber como alocar de forma mais confortável e produtiva a sua equipa.
-
Equipa
As suas pessoas têm claro na cabeça as regras da empresa para o gozo de férias? Não estou a falar dos direitos contratuais previstos para o gozo de férias, falo das regras internas. E partilha com elas, de alguma forma, os resultados da sua empresa, para que possam compreender como a sua presença ou ausência impacta nos resultados e serviço ao cliente?
PLANEAMENTO
1. Elaboração/revisão das regras internas para o gozo das férias
Apesar de a maioria dos nossos colaboradores parecer conhecer muitíssimo bem os seus direitos é muito importante que o seu manual do colaborador resuma de forma atualizada as regras do ACT para o gozo de férias e faltas justificadas e injustificadas. Além disso deve conter as regras individuais da empresa, para que nunca mais lhe aconteça… “mas eu não sabia que não podia tirar três semanas em Agosto. O meu marido só pode nesta altura lá na empresa dele e já marquei o avião e resort… ”
Assim, mantenha bem definidas as regras do jogo e se necessitar de abrir exceções, abra, mas com a mesma clareza e sem prejudicar a equipa que leva as regras a sério. Cuidado com o favoritismo!
- Quais são os meses em que a equipa pode tirar férias (idealmente fora da época alta do negócio)?
- Quantos elementos da equipa podem ir de férias em simultâneo?
- Quantos períodos de férias podem ser tirados (p.ex. um período de 10 dias úteis e dois períodos de 5 dias úteis. Sobram 2 dias para contratempos)
- Como e quando devem entregar o pedido de férias e quando receberão a aprovação
- Apesar da lei prever esta questão, vejo em algumas empresas férias que se acumulam de um ano para o outro. Por isso, defina também até quando podem ser gozadas férias do ano anterior. Deixando de lado a questão de produtividade que baixa quando os colaboradores não descansam, deparamo-nos por vezes com situações em que o colaborador tem muitas semanas a gozar e usa isso como amortecedor para transições entre empregos, deixando os negócios descalços em termos de competências.
- Sei que falamos de verão, mas as épocas festivas do Natal e Passagem de Ano também costumam dar dores de cabeça e não é a primeira, nem a última vez, que verei donos dos negócios a “aguentar” o funcionamento das clínicas e consultórios porque as suas equipas estão de férias. Não me entendam mal, não estou a defender que têm de ser sempre os colaboradores a assegurar estas datas, porque todos temos famílias e amigos com quem queremos estar, mas há que ter presente que, na profissão que escolhemos e no tipo de carreira que definimos para nós, os animais teimam em adoecer também nestas épocas e por isso a nossa missão é estar presente.
Formação do núcleo de competências do negócio
Simplificando, quero dizer-vos que há momentos em que as equipam ficam em deficit de competências que são previsíveis (licenças de maternidade e parentalidade, colaboradores que se ausentam para formação prolongada, férias, até algumas saídas de elementos da equipa estão à vista e nós, por não queremos lidar com o assunto, fingimos não estar a ver). Se são previsíveis é possível ter planos de contingência: recrutar e formar colaboradores atempadamente ou preparar alguma mobilidade interna entre funções. Isto é crucial. Temos que estar preparados para reagir na crise e deixar a dependência do “desenrasca” a que estamos culturalmente habituados.
Atenção às substituições na hora. Coloquem-se no lugar do colega que vos vai fazer umas horas e muitas vezes nem sabe o que está dentro de cada gaveta ou usar os aparelhos do laboratório porque não foi integrado, nem preparado. Coloquem-se também nos sapatos do cliente quando é atendido por esse colega, que pode ser híper-competente, mas vai dar sinais de stresse e desconforto porque não conhece os cantos à casa. O meu conselho é que escolham parceiros: antecipem o mais possível os momentos que vão necessitar de substituição e reservem esses momentos na agenda dele tentando, se possível, usar sempre o mesmo. Façam uma integração no vosso negócio e coloquem-no a par dos processos, protocolos e equipamentos.
Já pensaram em fazer uma parceria com outro CAMV local para as épocas de férias da equipa? Isto é uma solução ótima para equipas muito pequenas. Fechem umas semanas para férias e descansem, desliguem os telefones. Mais uma vez antecipem e alertem os vossos clientes fazendo toda a medicina preventiva antes ou depois e tranquilizem-nos que terão acompanhamento se necessitarem. Desenvolvam relações de confiança com um CAMV local, que receberá os vossos clientes nas situações de emergências enquanto estiverem fechados.
Se o nosso mote é trabalhar no sentido da excelência e satisfação do cliente, não é aceitável ter tempos de espera maiores no verão com a justificação que a equipa está de férias, ou ter um colega desconfortável no nosso negócio porque foi fazer uma substituição de emergência. Não perca tempo com questões e conflitos que seriam inexistentes, se as regras do jogo estivessem definidas.
O nosso papel na liderança e gestão é anteciparmos aquilo que os outros não vêm. Assim chegaremos a estas épocas de forma mais relaxada e produtiva e certamente com uma perceção de valor para o cliente muitíssimo mais alta, que se traduzirá em melhores resultados financeiros.
Boas férias a todos.
Artigo de opinião de Elisabete Capitão, médica veterinária, CEO Revet