No passado dia 22 de Fevereiro, a Ordem dos Psicólogos Portugueses realizou as Primeiras Jornadas de Boas Práticas em Locais de Trabalho Saudáveis. Estiveram presentes uma série de empresas portuguesas, de dimensão e área de atividade diversas, que nos apresentaram as suas Boas Práticas para incrementar o bem-estar psicológico nas suas organizações.
Os riscos psicossociais e o stresse relacionados com o trabalho são das questões que maiores desafios apresentam em matéria de segurança e saúde no trabalho, pois têm um impacto significativo na saúde das pessoas e das organizações. E por muito que nos pareça uma questão “romântica” é um ponto crítico na gestão, no nosso sector. Cerca de metade dos colaboradores das empresas considera o stresse uma situação comum no local de trabalho, que pode contribuir para cerca de 50% dos dias de trabalho perdidos (Inquérito Europeu ESENER). À semelhança de muitas outras questões relacionadas com a saúde mental, o stresse é frequentemente objeto de incompreensão e estigmatização.
Os riscos psicossociais decorrem de deficiências na concepção, organização e gestão do trabalho, bem como de um contexto de trabalho problemático, com efeitos negativos a nível psicológico, físico e social. Simplificando, apresento-vos alguns exemplos de condições de trabalho conducentes a riscos psicossociais:
- Cargas horárias de trabalho excessivas;
- Exigências contraditórias e falta de clareza na definição das funções das pessoas;
- Falta de participação na tomada de decisões que afetam o colaborador e falta de controlo sobre a forma como executa o seu trabalho;
- Má gestão de mudanças organizacionais e insegurança laboral;
- Comunicação ineficaz, falta de apoio da parte de chefias e colegas;
- Assédio psicológico e violência de terceiros (Bulling).
Na nossa área de atividade somam-se ainda os seguintes factores:
- Exigências emocionais do trabalho;
- Falta de previsibilidade e planeamento;
- Ausência de um significado para o trabalho que realizamos;
- Patologias do sono.
Um ambiente psicossocial positivo promove o bom desempenho e o desenvolvimento pessoal, bem como o bem-estar mental e físico das pessoas. Existe stresse quando as exigências do seu trabalho são excessivas, superando a sua capacidade de lhes fazer face. Para a empresa, os efeitos negativos incluem um fraco desempenho geral dos números, aumento do absentismo e “presentismo” (colaboradores que se apresentam ao trabalho doentes e incapazes de produzir eficazmente) e subida do número de acidentes e lesões. O stresse relacionado com o trabalho pode ainda contribuir para momentos de franca introspeção e até depressão, que leva as pessoas a procurarem outro rumo e sentido para as suas vidas.
Numa era do “fazer mais com menos”, deparamo-nos com três grandes problemas:
- Maior ambiguidade na definição das tarefas e papéis de cada colaborador, o que aumenta o stresse no trabalho;
- Aumento da tensão inter-geracional entre os chamados Boomer’s que trabalham há mais tempo e a nova geração Milleniall’s que tem maior dificuldade em conseguir um trabalho estável;
- Polarização (crescimento desigual) e isolamento das pessoas que perdem os seus trabalhos e não conseguem outro com o mesmo nível de remuneração e status ou têm que aceitar trabalhos com remunerações que não lhes garantem as consideradas necessidades básicas de alimentação, segurança, independência e saúde.
Por vezes pensamos que, nas nossas pequenas empresas, não temos nem a expertise, nem os recursos para criar estes ambientes saudáveis de trabalho que sustentem a saúde mental dos nossos colaboradores. A boa notícia é que existem um número de ações simples e efetivas que podemos realizar para fazer dos nossos CAMV’s locais de trabalho mais saudáveis.
E porque todos os negócios são diferentes, partilho 12 ações chave que pode personalizar à sua medida:
- Construa uma liderança que valorize a contribuição das suas pessoas.
- Assegure-se que a estrutura da sua empresa em termos de organograma é clara, bem como os papéis e responsabilidades de cada um.
- Defina e implemente regras e procedimentos para serem cumpridos. E seja o primeiro a cumpri-los.
- Assegure condições de trabalho seguras e saudáveis aos seus colaboradores.
- Comunique regularmente com a sua equipa sobre temas que afectam tanto o negócio como as pessoas.
- Monitorize a equipa e ofereça feedback Aprenda como dar feedback e peça permissão para dar feedback.
- Providencie programas simples de formação que ajudem os seus colaboradores a perceber o negócio e o papel de cada um na sustentabilidade do mesmo.
- Encoraje uma cultura de entreajuda e suporte mútuo, respeitando a diversidade de valores. Faça ações de team building.
- Facilite uma comunicação aberta sempre que surgirem problemas. Seja coerente, consistente e justo.
- Seja permeável a opções de trabalho flexível.
- Organize oportunidades para o treino da equipa nas competências em que se sentem mais vulneráveis.
- Suporte iniciativas de responsabilidade social originadas dentro da sua equipa.
A principal mensagem a reter destas Jornadas é:
Empregadores que entenderam a ligação entre o bem-estar das suas pessoas e a performance da sua empresa, esforçam-se por construir ambientes de trabalho caracterizados por canais de comunicação aberta, confiança e respeito, mesmo quando são necessárias medidas extremas. É imperioso escutar e falar…falar…falar. Assim, além do seu sucesso económico, terão uma vantagem distintiva na sua capacidade de atrair e reter os melhores colaboradores. Por outro lado, por cada euro investido na promoção da saúde nos locais de trabalho, as empresas obtêm um retorno entre 3 a 12 euros, ao reduzir os custos com absentismo, presentismo, baixas e acidentes de trabalho. E isto é gestão!