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Opinião

Benchmarking do sector veterinário

Dilen Ratanji, Diretor-Geral VetBizz Consulting

O ano está a terminar e é altura de efectuar um balanço de 2018 e identificar algumas tendências para 2019. Como no artigo anterior apresentei os resultados de um estudo de mercado que falava essencialmente das tendências do sector veterinário, no presente artigo procurarei actualizar os dados económico-financeiros mais relevantes do sector.

Estimo que o volume de negócios global do mercado dos centros de atendimento médico-veterinários (CAMV), onde naturalmente o segmento dos animais de companhia predomina, se situe entre os 190 e 200 milhões de euros no final de 2018, o que traduz um crescimento entre 10% a 15% em relação ao ano anterior. Terminaremos o ano com cerca de 1.530 CAMV a nível nacional, ou seja, uma média de 138 mil euros (m€) de facturação média por CAMV (+7,0% do que o ano anterior). Desde 2012, o mercado tem vindo a crescer a uma taxa anual de crescimento média [CAGR: compound annual growth rate] de 11,2%, evidenciando a saúde e potencial do sector veterinário. E se o negócio cresce é porque o mercado também está a aumentar, ou seja, o número de animais de estimação em solo português que conta já com um total de 6,3 milhões (37% cães e 22% gatos). Por outro lado, uma crescente preocupação social na saúde e bem-estar dos animais também contribui para um aumento das visitas dos tutores e seus animais aos CAMV, assim como naturalmente um contexto económico-social crescentemente favorável.

 

O sector veterinário mantém um rating positivo, uma vez que em 2017 cerca de 72% dos CAMV estavam cotados como tendo nível de risco baixo (vs. 68% em 2016), 28% com risco médio (vs. 31% em 2016) e apenas 1% com risco elevado (à semelhança do verificado no ano de 2016).

Apresento de seguida um benchmarking de indicadores económico-financeiros (médias) mais relevantes do sector veterinário. Reportar-me-ei ao ano de 2017, pois oficialmente os dados de 2018 apenas estarão disponíveis em meados de 2019:

  • O ciclo de tesouraria dos CAMV é positivo: em média, cada CAMV tem um prazo médio de pagamentos de 55 dias, que considero estar num nível normal (vs. 54 dias de 2016);
  • O EBITDA médio por CAMV é aproximadamente 23,4 m€ (vs. 20,4 m€ de 2016). Este indicador representa quanto uma empresa gera de recursos através das suas actividades operacionais, sem contar com impostos e depreciações. Um indicador relevante quando se realizam avaliações económico-financeiras das empresas. É um EBITDA contabilístico, sendo que o normalizado poderá apresentar valores bem distintos (em função da realidade e especificidades da própria empresa);
  • O número médio de colaboradores por CAMV mantém-se nos quatro. Não se inclui neste valor os colaboradores que estejam em regime de prestação de serviços. O custo médio por colaborador é de 15.100 € anuais, que representa um aumento de 6,9% face o ano anterior. Estimo que em 2018 a percentagem de aumento seja semelhante;
  • A média dos custos com pessoal sobre o total da facturação é de aproximadamente 33,1% (vs. 32,0% em 2016), estando dentro do intervalo de referência considerado positivo na gestão veterinária. Um rácio acima dos 40% poderá ser sinónimo de improdutividade da equipa ou má gestão de outros recursos internos. Não obstante, e face às eficiências fiscais que são adoptadas nas rubricas dos gastos com pessoal, a análise a este rácio deverá ser realizada com a devida reserva. Pela experiência da VetBizz Consulting, o rácio real (médio) intervala dos 37% aos 42%;
  • O activo total líquido (valor do activo de uma empresa após terem sido feitas as correcções patrimoniais, ou seja, depois de deduzido ao activo da empresa o valor das provisões e o valor das amortizações referentes às diversas rubricas do activo do balanço) é de aproximadamente 170,1 m€, o que representa um crescimento de 9% face ao ano anterior, deduzindo-se assim que 2017 foi mais um ano de fortes investimentos nos CAMV;
  • Por força dos melhores resultados operacionais nos CAMV, o capital próprio apresentou em 2017 uma variação positiva face a 2016: 66,3 m€ vs. 54,6 m€, o que traduz um crescimento de 21,4%;
  • O passivo (os valores que a empresa deve a terceiros, como por exemplo os financiamentos bancários) ronda os 103,8 m€ (acréscimo de apenas 2,3 m€ em relação ao ano anterior);
  • O resultado líquido (lucro) médio num CAMV é de 10,1 m€ (vs. 6,8 m€ em 2016), alcançando-se pela primeira vez um valor com dois dígitos;
  • Os fornecimentos e serviços externos (FSE), que incluem as rendas, telecomunicações, energia, deslocações, estadas, entre muitas outras rubricas, têm um peso percentual relativo de 23,6% (inferior em 1,4 p.p. face ao ano anterior), posicionando-se no limite do intervalo de referência considerado aceitável (entre 20% e 25%);
  • O saldo médio dos depósitos bancários é de 27,7 m€ (vs. 24,7 m€ em 2016);
  • Apesar de haver inúmeras dívidas incobráveis nos CAMV, na realidade na maior parte das vezes não se registam como tal em termos contabilísticos. Foi registado um valor médio de apenas 438 €;
  • A dívida corrente média (ainda cobrável) dos clientes é de 10,9 m€ (vs. 9,0 m€ de 2016);
  • A rendibilidade financeira (quociente entre o resultado líquido e o capital próprio) é de 15,7% (vs. 11,9% em 2016), enquanto que a solvabilidade (quociente entre o capital próprio e o passivo) é de 63,9% (acima dos 53,8% registados sem 2016), ou seja, se uma empresa tiver que solver as suas obrigações, consegue-o fazer em quase 64% com os seus próprios capitais;
  • O rácio de autonomia financeira (quociente entre os capitais próprios e o activo líquido) é de aproximadamente 39%, acima dos 30% recomendados (em 2016 era 35%);
  • Segundo alguns gestores na área veterinária, o ciclo de tempo dos produtos em armazém (shelf life) deverá ser no máximo de 60 dias, sendo que no sector veterinário este prazo médio de inventário em armazém é de 41 dias (vs. 42 dias em 2016). Apesar da gestão de stocks ser uma das grandes “dores de cabeça” nos CAMV, o shelf life encontra-se em níveis controlados.
 

O sector continua a apresentar uma dinâmica muito própria e tem vindo a apresentar níveis de crescimento assinaláveis ao longo dos últimos anos. Apesar dos dados contabilísticos supracitados esconderem algumas verdades e realidades das empresas, são claramente um barómetro para se perceber quais as tendências do sector, com base em indicadores económico-financeiros. A boa notícia é que o ano de 2018 está a ser ainda mais favorável do que 2017.

Um próspero ano de 2019 para todos os leitores da Veterinária Atual!

 

(O autor escreve de acordo com a antiga ortografia)

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