Em 2015, quando Andreia Dias partiu para o Reino Unido com o curso de Medicina Veterinária na bagagem, tinha uma certeza: procurar trabalho na sua área. Mas uma vez instalada, as dúvidas começaram a surgir: como fazer o registo no RCVS (Royal College of Veterinarians Surgeons)? Quais os documentos necessários? E como preencher esses documentos quando não nos adaptamos às opções disponíveis? Dúvidas e mais dúvidas que levaram a que o processo demorasse mais do dobro do tempo normal até estar concluído.
“Tirei o curso na FMVUL e vim logo para o Reino Unido por questões pessoais. Acabei por ficar na zona de Glasgow e a adaptação foi fácil, pois não era a primeira vez que vinha para cá. Já sabia que queria procurar emprego como médica veterinária, mas ainda não tinha começado o processo de procura de propostas de emprego”.
É aqui que começam a surgir as primeiras dificuldades. “Tinha de fazer o registo no RCVS, o qual não é complicado, mas tem vários passos e quando o estava a preencher achei algo confuso. Para piorar não sabia onde podia tirar as minhas dúvidas”.
Atualmente, o RCVS já tem um site mais user friendly, o que torna mais fácil seguir todos os passos obrigatórios, mas ainda assim é necessário preencher e enviar uma série de documentação “que pode ser complicado quando não caímos numa das categorias previstas. O meu registo, desde que pedi a documentação até ficar pronto, demorou quatro meses. O normal são dois meses”.
Procura de trabalho
Segundo Andreia Dias, o processo de procura de emprego é relativamente fácil pois “existem várias plataformas online, que acabei por usar. Acabei por ter uma resposta antes que tivesse concluído o processo de registo, mas como ficaram interessados no meu CV perguntaram se estava disponível para uma entrevista”.
Mas como uma médica veterinária jovem, sem experiência, chama rapidamente a atenção de possíveis empregadores? Para Andreia Dias, apesar de não ter experiência “sempre manifestei que estava disponível para aprender, o que teve impacto. E também porque estava a concorrer para uma região que historicamente tem alguns problemas em encontrar médicos veterinários, pela localização e pelas condições de trabalho”.
O emprego incluía trabalho com pequenos animais, mas também cavalos (uma das suas paixões) e animais de produção. “Além de que existia o requisito de fazer noites e fins-de-semana. Aceitei porque a minha ideia era ganhar experiência e fazer de tudo um pouco. Aprendi tanto com animais de companhia, como de produção e um ou outro cavalo, que era mesmo o que queria”.
Como tinha de trabalhar aos fins-de-semana foi obrigada a mudar-se para perto da clínica, onde trabalhou durante dois anos. “Tínhamos uma equipa muito jovem e os responsáveis valorizavam o bom ambiente na equipa. Havia reuniões fora do ambiente de trabalho, o que ajuda sempre. Ou seja, no meu primeiro emprego passei de não saber nada a saber lidar com as situações básicas que nos aparecem no dia-a-dia. Nunca fui deixada sozinha, sempre estiveram disponíveis para tudo. Foi um grande apoio”.
UK VetMove
Andreia Dias acabou por inscrever-se num Internship na Universidade de Glasgow, no Hospital de Referência, onde tinha previsto ficar um ano, mas onde acabou por ficar apenas seis meses, tendo entretanto regressado a Portugal. “Por questões pessoais tive de voltar, mas mais tarde acabei por conseguir regressar a Glasgow, onde passei a focar-me no meu projeto: UK VetMove”.
A ideia era ajudar outros veterinários que estivessem a passar pelas mesmas dificuldades e explicar como poderiam escrever um com CV, como fazer uma carta de apresentação ou como fazer o registo no RCVS.
“A ideia surgiu quando ainda estava no meu primeiro emprego. Sentia que não estava a evoluir para onde queria e gostava de fazer algo de diferente para ganhar outras capacidades. Pensei então em criar um site a explicar o que outros médicos veterinários têm de fazer. Sei que andamos perdidos na altura em que passamos por esse processo, mas quando olhamos para trás também sei o que temos de fazer. E gostava hoje de saber o que precisava de fazer naquela altura”.
A partir de 2016 começou a apostar mais seriamente no site e a apostar em serviços. “Comecei com serviços básicos, de construção de CV’s e cartas de apresentação para estarem adaptadas ao que procuram no Reino Unido, e criei um guia disponível para download com essas regras”. A médica veterinária desenvolveu ainda um programa de coaching, mais completo, para quem está mais ‘perdido’ e não sabe por onde começar: este pacote tem informação mais detalhada e ajustada à medida da pessoa. Se tem pouca experiência tento ajudar a perceber o que procuram mais no Reino Unido”.
Estes são serviços pagos, mas alguns webinars são gratuitos, bem como alguns ficheiros disponíveis para download. “Estou a tentar desenvolver serviços de maneira diferente, para criar algo que mais pessoas possam consumir para ser acessível a outras pessoas”.
Além disso, Andreia Dias começou a trabalhar em regime de part-time numa clínica veterinária, onde vai uma semana por mês. “Comecei no início do ano a trabalhar numa clínica que trabalha em exclusivo com medicina felina. Desta forma consigo ter trabalho na área clínica e investir no meu site. Quero tentar fazer com que as pessoas percebam que não têm de passar por esta luta sem ajuda. Os sonhos não são impossíveis”.