“Os especialistas estimam que vamos ter dez milhões de mortes por ano em todo o mundo em 2050 por causa das RAM”, frisou Fernardo Bernardo, da DGAV.
Portugal tem uma nova estratégia para lutar contra as bactérias resistentes aos antibióticos. O Plano Nacional de Combate à Resistência aos Antimicrobianos 2019-2023 foi apresentado hoje, Dia Europeu do Antibiótico, durante as 1.as Jornadas “Uma Só Saúde” – Estratégia Nacional de Combate à Resistência aos Antimicrobianos, que se prolongam até amanhã na Sociedade de Geografia de Lisboa.
O documento, que traça seis objetivos principais que devem ser atingidos até 2023, já foi homologado pelas suas três entidades criadoras – a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a Direção-Geral de Saúde (DGS) e a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV).
“O nosso outcome é ter menos infeções e o uso adequado de antibióticos, seja na saúde humana, na saúde animal ou no ambiente. Há que utilizar conscientemente os antibióticos e de forma adequada e proporcionada”, disse a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, que pediu ainda “ambição” na implementação deste plano e na colaboração entre as entidades envolvidas.
Criado na sequência do Programa Nacional de Prevenção e Controlo de Infeções e das Resistências aos Antimicrobianos, que entrou em vigor em 2013, o novo plano prevê uma colaboração estreita entre as três instituições, de acordo com a lógica “Uma Só Saúde”, na qual a saúde humana e animal e os setores da agricultura, produção alimentar e ambiente trabalham em conjunto.
Mas, porque é que a luta contra as resistências aos antimicrobianos (RAM) é tão importante? Segundo o diretor-geral da Alimentação e Veterinária, Fernando Bernardo, a resposta está nos números: “Os especialistas estimam que vamos ter dez milhões de mortes por ano em todo o mundo em 2050 por causa das RAM”, frisou.
Como explicou Isabel Neves, coordenadora do grupo de trabalho que elaborou o plano, o documento segue as linhas estratégicas definidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
Para tal, são seis os seus objetivos: prosseguir a implementação do conceito “Uma Só Saúde”, melhorar o conhecimento sobre a resistência aos antimicrobianos, fortalecer a base de conhecimento e evidência através da vigilância epidemiológica, monitorização ambiental e investigação, reduzir a incidência de infeção, otimizar o uso dos antimicrobianos e manter o compromisso e aumentar o investimento em novos medicamentos, ferramentas de diagnóstico, vacinas e outras intervenções relevantes.
Maria Azevedo Mendes, da DGAV, explicou ainda que o plano contém 14 metas específicas para a saúde animal que deverão ser atingidas até 2023, como como a promoção da cooperação e comunicação intersectorial, a reestruturação da página da DGAV para incluir mais informação sobre o tema, criação de flyers, eventos e de uma página de Facebook sobre as RAM, reforço da estrutura curricular dos cursos da área da veterinária e da monitorização da venda de antimicrobianos, criação de manuais de biossegurança, emissão de normas orientadoras das boas práticas, implementação de um sistema de suporte eletrónico à prescrição médico-veterinária e promoção da dispensa apenas com receita médico-veterinária.
“Estamos no início, mas esperamos que daqui a uns anos a mudança de mentalidade seja outra”, disse a responsável da DGAV.