O que poderá acontecer se juntarmos patologistas e clínicos na mesma sala? Esta é a proposta da Sociedade Portuguesa de Patologia Animal, que este ano vai organizar o seu encontro anual no ICBAS, no Porto.
“A SPPA organiza há vários anos um encontro anual e este ano a direção decidiu desafiar a Profª Fátima Gartner para acolher o XXII Encontro no ICBAS. O desfio foi aceite e a Profª Fátima Gartner, juntamente com uma equipa de patologistas, coorganizaram com a direção da SPPA dois dias de encontro de excelente qualidade na área da oncologia”, o tema de destaque deste ano, revelou à Veterinária Atual Pedro Faísca, o atual presidente da SPPA. “Quisemos escolher um tema que pudesse interessar a todos, quer os que trabalham exclusivamente em anatomia patológica, quer os patologistas clínicos, quer os clínicos que esperamos numerosos no nosso encontro”.
“A grande novidade deste ano são as sessões paralelas dedicadas exclusivamente à patologia clínica. A SPPA, embora seja uma Sociedade dedicada à patologia veterinária nas suas várias vertentes, tinha por tradição organizar eventos e encontros mais direcionados para a anatomia patológica. Na última assembleia geral decidiu-se abrir o encontro a outras áreas da patologia, mais precisamente à Patologia Clínica”.
A organização quis ir ainda mais longe e chamou os clínicos para participar. Irão ser focados temas desde: Como classificar tumores mamários caninos? Esta alteração nos parâmetros bioquímicos é significativa? O que quer dizer o Patologista com este relatório? “Há um artigo de medicina humana muito interessante cujo título é ‘Clinicians Are From Mars and Pathologists Are From Venus’ e pretendemos que ambos sejam da Terra e colaborem ainda mais uns com os outros. Vão ser com certeza dois dias de intensa discussão e troca de ideias muito interessantes”.
Joy Archer em Portugal
Um dos pontos altos do evento passa pela presença da Profª Joy Archer, uma das primeiras patologistas clínicas em Inglaterra e a primeira Presidente do Colégio Europeu. Quisemos saber como surgiu a oportunidade de contar com a sua presença no evento. “A coorganização da sessão paralela dedicada à Patologia Clínica ficou à responsabilidade da colega Nazaré Cunha, que usou da sua vasta rede de contactos que adquiriu aquando da sua residência em Patologia Clínica e endereçou o convite à Profª Joy Archer, que aceitou de imediato”, revelou Pedro Faísca.
Nazaré Cunha é diplomada em Patologia Clínica e fez residência na Faculdade de Milão de 2006 a 2010, num programa conjunto de residência e doutoramento. “Doutorei-me em Patologia em 2010 e fiz o exame europeu de Patologia Clínica em 2011. O ano passado fiz a recertificação do diploma (necessária a cada cinco anos)”.
Os contactos que foi fazendo permitiram-lhe chegar ao contacto com a Profª Joy Archer, “uma peça chave no desenvolvimento e reconhecimento da Patologia Clínica a nível mundial, tendo desde sempre lutado pelo seu estabelecimento como disciplina independente. Sendo uma das Patologistas Clínicas mais experientes, tem um entusiasmo nato pela disciplina. É realmente uma figura internacional que promoveu a medicina veterinária nos seus mais variados contextos, sendo uma embaixadora da especialidade. Poder ouvi-la em Portugal é a prova disso mesmo”.
Quem é Nazaré Cunha?
O facto de o pai vender microscópios foi um fator determinante para Nazaré Cunha seguir esta área. “Sempre me fascinou tudo o que é relacionado com microscópios. Fui estudar para Itália para poder aprender com um dos melhores citologistas europeus: o Prof. Mario Caniatti. Fiz o doutoramento não pelo título, mas porque era a única maneira de poder aprender e conseguir ser paga para isso, através de bolsas. Entretanto, alertada pelo Prof. Caniatti de que ‘o doutoramento não te serve de nada, o diploma sim’ iniciei uma Residência pelo Colégio Europeu de Patologia Clínica”.
Depois de ter passado por Itália, Austrália, Inglaterra e pela Universidade de Davis, na Califórnia, onde fez parte da residência e da investigação do doutoramento, Nazaré Cunha está de regresso a Portugal e trabalha no laboratório CEDIVET. “Desde 2013 sou também professora auxiliar na Universidade Lusófona. Com a Patologia Clínica pude juntar o gosto pela citologia com a proximidade à clínica. A Patologia Clínica obriga-nos a ter uma noção de patofisiologia que nos permite usar as análises laboratoriais (quer seja citologia, hematologia ou bioquímica) para resolver os puzzles clínicos. E é impressionante como quanto mais experiência temos, mais casos desafiantes encontramos”.
Nazaré Cunha aposta na divulgação da Patologia Clínica em Portugal, nomeadamente no que respeita à formação e avanço científico de todas as áreas que a constituem. Em 2013 ajudou a organizar a primeira summer-school europeia de Patologia Clínica, no Porto, e em 2015 o primeiro Congresso Europeu da especialidade em Portugal. “Esta sessão dedicada à Patologia Clínica, integrada no congresso da SPPA, surge precisamente da mesma vontade”.
Encontro europeu em Portugal em 2021
Para Pedro Faísca são “tempos desafiantes e muito interessantes para a SPPA. Este ano fizemos a 1º reunião interdisciplinar dedicada à necrópsia forense e queremos, num futuro próximo, organizar um workshop de formação nesta área de modo a harmonizar um procedimento para o qual estamos a ser solicitados a realizar cada vez mais, desde que a legislação sobre a criminalização dos maus tratos aos animais entrou em vigor. Queremos por outro lado perceber o nível de aceitação dos colegas às secções paralelas em patologia clínica e decidir como incorporar estas áreas nos próximos encontros da SPPA”.
A Sociedade Europeia de Patologia Veterinária irá realizar um dos seus próximos encontros em Portugal (2021) e em breve a SPPA vai ser chamada para coorganizar este evento. Será a primeira vez que a ESVP irá realizar o seu congresso anual em Portugal.