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Opinião: Transplante de microbioma fecal – Uma estratégia integrativa

Someia

Atopia, alergias, diarreia crónica, IBD, colite, infeções clostridium resistentes são algumas das patologias que a ciência já correlacionou com a presença de alterações no microbioma. Este grupo representa um número de diagnóstico crescente e relevante, cuja terapêutica se revela cada vez mais desafiante.

Em conjunto com a dieta que deve ser adequada às necessidades nutricionais de cada paciente de forma individual, a prescrição, por parte dos médicos veterinários, de prebióticos e probióticos já se tornou mais comum no tratamento do microbioma. Porém, nem todos os pacientes exibem uma resposta favorável, em particular aqueles com os diagnósticos referidos.

 

São pacientes que necessitam de estratégias multimodais em que frequentemente é prescrita a toma de imunossupressores e antibióticos que ao limitarem os sinais e sintomas das patologias contribuem para a destruição do microbioma de forma crónica.

Com este artigo pretendo focar no tema do Transplante De Microbioma Fecal (TMF) que consiste na obtenção de fezes de um dador saudável pré-avaliado de acordo com critérios laboratoriais específicos. As fezes do dador são então colocadas no intestino do paciente em tratamento. O que se pretende é que as bactérias presentes na amostra do dador saudável colonizem o intestino do recetor.

 

É possível atualmente realizar testes de sequenciação genética para detetar a natureza das bactérias responsáveis por uma desbiose. Com base nesta informação, além da escolha direcionada do tipo de bactérias necessárias, é realizada a escolha do método que garante mais sucesso na obtenção do microbioma desejado.

Os dadores são selecionados após screening das fezes através de citologia de flutuação, citologia de sedimentação, microbiologia e biologia molecular. Pretende-se garantir a exclusão de parasitas (giardia lamblia, dipylidium caninum, taenia spp., echinococcus spp., mesocestoides spp., ancylostoma caninum, toxocara canis, trichuris vulpis, crenosoma vulpis e angiostrongylus vasorum) e bactérias (salmonella spp., yersinia enterocolitica, campylobacter, clostridium perfrigens, clostridium difficille).

 

À exceção do que implica a utilização de fezes não testadas ou incorretamente testadas e, por esse motivo, poderem ser potenciais transmissoras de patologias, o procedimento não envolve riscos.

Sobre o TMF são descritos três procedimentos:

  • TMF por colonoscopia, que como o nome indica, a amostra liquefeita é colocada via retal até ao intestino grosso. Pode requerer sedação para que o recetor não se debata durante o procedimento e é necessário que a amostra do dador seja fresca;
  • TMF via nasogástrica tem como objetivo que a amostra liquefeita atinja o intestino delgado. Muito menos comum tem a vantagem de permitir que as bactérias tenham a possibilidade de encontrar mais opções em termos de área intestinal para se alojarem.
  • TMF oral, consiste na via menos invasiva em que através da ingestão de cápsulas contendo bactérias viáveis tem como objetivo atingir o intestino delgado. O processo é laboratorial e baseado na colheita a partir de fezes frescas congeladas de dadores saudáveis.
 

Os protocolos de preparação das amostras para o TMF referem a colheita de 2gr de fezes por kg de peso do paciente. A amostra é homogeneizada em lactato ringer na proporção de 5 a 7 ml por 1 gr de fezes. A solução é filtrada e administrada na proporção de 10ml por kg de peso de dador.

O número de tratamentos e o intervalo de tempo entre cada é variável e está relacionado com a patologia do paciente.

Os resultados são promissores com uma taxa acima de 80% de pacientes (caninos e felinos) a responderem favoravelmente ao TMF, melhorando não apenas a consistência das fezes como também o apetite, prurido, lesões cutâneas e manifestações comportamentais relacionadas com dor, desconforto e náusea.

*MV, PG Acupunctura, IVAS Certf. AP

Diretora Clínica Zenvet Medicina Veterinária Integrativa

*Artigo de opinião publicado originalmente na edição n.º 146 da revista VETERINÁRIA ATUAL, de fevereiro de 2021.

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