Em 2011 um apicultor detetou um ninho de vespas perto de Viana do Castelo e chamou as autoridades. “A vespa autóctone em Portugal chama-se crabro e também se alimenta de abelhas, mas apenas das que estão moribundas. Por isso até tem um papel útil: faz uma limpeza seletiva da colmeia, conservando os exemplares mais fortes”, diz Paulo Russo, professor de zootecnia e investigador nos laboratórios apícolas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). “Esta espécie asiática não só faz das abelhas a sua principal dieta, como ainda inibe a saída dos insetos da colmeia, matando milhares de abelhas em poucos dias. O impacto é avassalador.”
Em dezembro de 2012 estavam confirmados nove ninhos no Alto Minho. No final de fevereiro, o número tinha subido para cinquenta. Do distrito de Viana do Castelo espalharam-se para Braga e Vila Real. O Ministério da Agricultura, a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária e a Proteção Civil decidiram intervir, em parceria com os produtores.
“Fizemos a localização de todos os ninhos por GPS e destruímos os que estavam ativos, com maçaricos”, conta Alberto Dias, presidente da Associação de Apicultores do Minho e Lima (APIMIL). “Como as vespas se dão em áreas urbanas, começámos a receber denúncias e o número continua a aumentar. O problema são os ninhos que ninguém vê, na floresta. É por aí que as velutinas vão continuar a progressão para sul. E vai ser impossível travá-las.”
No Oriente, as abelhas asiáticas aprenderam a defender-se das velutinas e quando uma vespa prospetora entra na colmeia, a colónia começa por fechar-lhe a saída. Depois as abelhas rodeiam o predador e formam uma bolha ao seu redor, começando a bater as asas para criar calor. As abelhas suportam temperaturas de 42 graus, as vespas apenas de 40. Então as obreiras aquecem a temperatura da colmeia até aos 41 graus, quase se matando a si próprias para eliminarem a vespa. Vão ser precisas décadas de evolução genética para a abelha portuguesa conseguir fazer o mesmo.
No início do século XX, Albert Einstein disse “quatro anos depois de se extinguirem as abelhas, extingue-se a humanidade”. Na altura ninguém imaginava que o cenário pudesse tornar-se real. Paulo Russo, o investigador zootécnico da UTAD, avisa que a introdução da vespa velutina é uma ameaça que não se pode subestimar. “A estratégia de eliminação deste predador não é eficaz e começou a ser aplicada muito tarde. Temos, de facto, um problema em mãos”.