Ter um animal de estimação não é mais uma questão de lazer ou companhia. Vários estudos mostram que a proximidade com animais pode ser também benéfica para o desenvolvimento e saúde humana.
A inclusão de animais em atividades terapêuticas vem sendo amplamente utilizada desde os anos 60 e consiste na utilização de animais “terapeutas”, treinados especificamente para promover a recuperação de pacientes com doenças emocionais, físicas ou mentais. Nos últimos anos, os benefícios na saúde da interação entre o homem e o animal têm-se revelado de forma surpreendente, o que levou a que se criasse uma nova linha de investigação na pesquisa dos fundamentos biológicos desta interação- a antrozoologia*. Vários estudos vêm vindo a verificar os efeitos positivos de ter um animal de estimação ou de viver na proximidade de animais.
Os resultados relatados incluem melhorias sobre o metabolismo humano, a ponto de influenciar a saúde física e emocional (Allen et al., 2002; Calcaterra et al., 2015). Nas crianças, a exposição a animais de companhia aumenta-lhes a empatia, assim como o seu grau de concentração, a comunicação e a interação social, permitindo-lhes melhorar a sua autoestima e a sensação de bem-estar (Headey and Grabka, 2007; Griffin et al., 2011). Por exemplo, em crianças com problemas sociais ou de comportamento, a capacidade de regular as próprias emoções pode estar afetada (Esposito et al., 2011). O elo de ligação, ou “bonding”, entre a criança e um animal de estimação pode ser fundamental na sua recuperação pois, envolvendo um vínculo entre dois indivíduos, a proximidade que se cria e os fatores emocionais são os elementos principais que atuam. Durante esta interação, várias respostas autónomas e neuroendócrinas são ativadas, estando estas diretamente relacionadas com a gestão emocional, o autocontrole e o grau de resiliência ao stresse (Pereira-Figueiredo et al., 2015). De facto, vários estudos referem que, na presença dos animais, os níveis de ansiedade e de stress diminuem (Nagengast et al., 1997), diminuem os sintomas depressivos (Hodgson et al., 2015) e, como consequência, os parâmetros cardiovasculares, a pressão arterial e a função imune melhoram (Johnson, 2011).
De entre os vários neurotransmissores envolvidos, como a serotonina, a dopamina ou as endorfinas, a oxitocina tem sido sugerida como um dos principais mediadores no alívio do stresse, ativada pelo contacto com a pele (Uvnäs Moberg et al., 2011), destacando-se a sua importância no estabelecimento de um vínculo social. Sabe-se que a oxitocina aumenta nas pessoas durante as interações positivas com cães e estudos preliminares sugerem que esta aumenta também nos cães, durante este contacto (Pekkin et al., 2016). No entanto pouca pesquisa tem sido feita focando o lado do animal.
Apesar das crescentes evidências sobre a saúde e os benefícios psicológicos da interação entre o humano e os animais, só recentemente se considera que o vínculo que se estabelece deve ser investigado. No entanto, no nosso País, poucos ou praticamente nenhuns estudos têm sido realizados nesta matéria. Uma melhor compreensão sobre os mecanismos subjacentes que afetam esta interação é necessária, uma vez que comprovadamente parece afetar positivamente a saúde de ambas as espécies.
*Quantificar os efeitos positivos das relações humano-animal, em quaisquer das partes envolvidas, e o estudo de suas interações é o objetivo da antrozoologia, a ciência que estuda as relações dinâmicas entre as pessoas e os animais.