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Odontologia Veterinária

Michèle Venturini, responsável pelo Odontovet: “Fui treinar nos humanos para fazer um bom trabalho nos animais”

OdontoVet

No passado dia 27 de abril, a FMV-ULHT recebeu a visita de Michèle Venturini, médica veterinária, cirurgiã dentista fundadora e sócia-proprietária do Odontovet – Centro Odontológico Veterinário no âmbito da formação ‘O Presente e o Futuro da Medicina Dentária Veterinária – State of the Art’. A VETERINÁRIA ATUAL esteve à conversa com a responsável daquele que foi o primeiro centro odontológico veterinário no Brasil, o primeiro na América do Sul e o segundo no mundo.

Começou por fazer formação em Medicina Humana, pois não havia curso específico de Odontologia em Medicina Veterinária.

Desde criança que me lembro do meu pai dizer: ‘qualquer que seja a área que escolheres, o importante é fazeres algo diferente e bem feito’. Com isso em mente formei-me em Medicina Veterinária sempre a pensar fazer algo de diferente. Um dia estava a fazer um tratamento periodontal e senti necessidade de ter mais informação. Isto foi há 25 anos e hoje em dia sei que o tratamento estava mal feito, mas só tínhamos informação sobre anatomia do dente, não de afeções da cavidade oral. Fazíamos o que se achava que estava certo.

Na altura voltei à faculdade à procura mais informação e conheci um professor que tinha começado a fazer a área de Odontologia de uma forma embrionária e académica. Comecei a fazer estágio, fui ficando até ao momento em que precisei aprender mais. Na altura não existiam cursos de especialização no Brasil e tinha duas opções: ou ir para o exterior por dois anos fazer uma residência nos EUA ou fazia faculdade de Odontologia humana, ao longo dos seis anos de curso, para aprender e para aplicar na veterinária. Hoje brinco ao dizer que fui treinar nos humanos para fazer um bom trabalho nos cães (risos).

Antes de começar os estudos na faculdade, depois do meu estágio conheci o meu sócio e falámos em abrir um centro odontológico. Na época existiam muito poucas especialidades no Brasil, apenas alguns professores especializados em Dermatologia ou Cardiologia nas faculdades, mas não existia nada no mercado. Lembro-me que as pessoas diziam que eu era louca: ‘Vai viver de dentes de cachorro? Não vai sobreviver’.

Como foram esses tempos?

No começo foi difícil pois atendíamos um caso por semana, mas tivemos sempre a preocupação de fazer o que estrava correto, para o clinico não ter medo de nós. O centro é só de Odontologia, assim o clínico não teria desculpa de dizer: ‘não vou encaminhar para lá porque vou perder o meu cliente’. Os clientes vinham, fazíamos o nosso trabalho e o cliente voltava para a clínica de origem.

Outra coisa: sempre nos preocupamos em fazer relatórios para haver essa aproximação com o clínico. Ele sabia exatamente o que estávamos a fazer, sempre procurámos ser muito acessíveis e se os clínicos quisessem podiam acompanhar os pacientes para ver os procedimentos que iam ser feitos, sem problema. Tentámos criar uma empatia e para quebrar barreiras. Também apostámos bastante na divulgação, íamos às faculdades dar palestras e falar um pouco da nossa realidade.

Qual a realidade hoje em dia?

Hoje o Odontovet – Centro Odontológico Veterinário está a comemorar 20 anos, foi o primeiro do Brasil, o primeiro da América do Sul e o segundo no mundo. Quando começou atendíamos um paciente por semana, hoje temos em média de quatro cirurgias de cães e gatos por dia, mais os pequenos pets, como chinchilas ou coelhos. Uma rotina em todas as áreas da Odontologia. A Endodontia é rotina, mas também temos Periodontologia, Implantes, Próteses, conseguimos fazer tudo”.

No início, eu e o meu sócio fazíamos tudo: atendimento telefónico, compras, limpeza, tudo. No Brasil existe a área de Anestesia, mas no início enquanto um anestesiava o outro operava e vice-versa. Depois aumentámos a equipa com mais colegas médicos veterinários e especializados na área de Odontologia e um anestesiava para o outro. Hoje em dia somos quatro médicos veterinários especializados em Odontologia e três médicos veterinários especializados na área da anestesia. Os Odontologistas não anestesiam os pacientes. E temos uma rotina de pacientes desde os mais jovens aos mais idosos, com 18 ou 20 anos. Há alguns anos, a anestesia era um bloqueio para a Odontologia pois os proprietários tinham receio de anestesiar um paciente geriátrico, mas hoje é uma realidade com a qual não nos preocupamos.

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