Joel Alves, médico veterinário a trabalhar em clínicas privadas no Reino Unido e em doutoramento na Universidade de Cardiff
Qual a sua área de especialidade e porque escolheu essa área?
Ortopedia e medicina regenerativa. Pessoalmente fascina-me a possibilidade de desenvolver estratégias para evitar e/ou regredir doenças ortopédicas, nomeadamente osteoartrite (OA), lesões ligamentares e defeitos de cartilagem hialina, entre outras lesões. É uma área muito dinâmica. O facto de ter feito duas pós-graduações em cirurgia de animais de companhia e depois mestrado em células estaminais e regeneração de tecidos na Universidade Bristol ajudou-me a abrir horizontes e perspectivas para novas abordagens terapêuticas tanto para os nossos pacientes, como em humanos. O que era verdade já não o é e certamente que, no futuro, também não o será. Fazer parte desse caminho é muito gratificante.
Como surgiu a oportunidade de ir trabalhar para o estrangeiro? Onde trabalha neste momento?
Quando fiz o estágio curricular em Espanha (Barcelona) e depois internato no Reino Unido percebi que há muito para aprender na área da Medicina Veterinária. É muito ampla a possibilidade de aplicação de conhecimentos em várias áreas de especialidade, quer seja clinica e/ou de investigação. Neste momento trabalho part time num grupo de clínicas privadas, onde me dedico à cirurgia de animais de companhia, e ao mesmo tempo trabalho na Universidade de Cardiff onde estou a fazer doutoramento em Biociências, num projeto que estuda novas abordagens terapêuticas para o tratamento de osteoartrite (OA).
O que o fez tomar a decisão de ir para fora de Portugal?
O desejo de aprender e ganhar novas competências em clínica e cirurgia de animais de companhia. Além disso, viver e trabalhar no Reino Unido também me tem dado a possibilidade de conhecer outra cultura, outro modo de vida, contatar com colegas em várias áreas do conhecimento e melhorar o domínio de uma língua estrangeira.
Quais as diferenças que encontra entre os métodos de trabalho nos dois países?
Creio que as grandes diferenças nos métodos de trabalho entre Portugal e Reino Unido estão diretamente relacionadas com as diferenças na cultura e no poder económico entre estes dois países. No Reino Unido há talvez bastante mais casos por dia por clínico, mais especificações e separação de tarefas entre médicos veterinários, enfermeiros e auxiliares, por exemplo, mais exigência por parte dos clientes e controlo constante da formação e progressão da carreira pela ordem dos médicos veterinários inglesa.
Como é viver fora de Portugal? Conseguiu adaptar-se bem?
Viver fora de Portugal nunca foi, não é, e nunca será o mesmo que viver em Portugal. É uma opção profissional de vida, uma fase temporária de formação e que naturalmente envolve estar longe de tudo do que mais gostamos: família, amigos, sol, praia, céu azul, peixe fresco, um bom vinho tinto e por aí adiante. Portugal tem um elevadíssimo nível de qualidade de vida, relação trabalho/lazer e bem-estar, mas apesar disso tanto eu como a minha esposa conseguimos adaptarmo-nos bastante bem. Novas tecnologias como o Skype, WhatsApp e os voos low cost ajudam a manter as ligações com a família e amigos em Portugal, o que torna o “viver fora de Portugal” relativo.
Do que mais tem saudades de Portugal?
Das origens. Onde nasci e cresci a aprender a ser feliz. A minha família e amigos percebem o que digo.
Quais os seus planos para o futuro?
Para já continuar a fazer clínica privada e terminar o doutoramento. Depois logo se vê as oportunidades que poderão surgir.
Equaciona voltar a Portugal?
Sim, claro! Tanto eu como a minha esposa temos Portugal no coração, sempre!
Se sim qual o trabalho/projeto gostaria de desenvolver?
Ainda está por definir, mas tenho com várias ideias em mente.
Que conselhos dá aos recém-licenciados em medicina veterinária que estão a ter dificuldades em ingressar no mercado de trabalho?
Tudo depende das expectativas e ambição profissional de cada um. Ter um curso superior como o de Medicina Veterinária é um privilégio e uma honra que todos nós deveremos ter orgulho. A partir daí, tanto em Portugal como no resto do mundo existe uma ampla variedade de possíveis áreas de trabalho quer em clínica privada, saúde pública e/ou investigação médico-veterinária, por exemplo. Há que ser proativo e trabalhar para progredir – se não for o próprio a fazê-lo, ninguém o fará em seu favor.
Como vê o estado atual da medicina veterinária em Portugal e no mundo?
A Medicina Veterinária em Portugal tem e sempre teve bastante potencialidade, contudo a crise económica, o excedente de profissionais qualificados e a existência de elevada competição causaram a deterioração do mercado e, por conseguinte, a margem de progressão encurtou bastante (comparativamente àquela que existia há 20 anos, por exemplo). Com o mercado a ficar cada vez mais exigente e especializado (tal como já se verifica noutros países), a clínica privada e os outros sectores terão forçosamente de se adaptar a essas tendências, além de também ter de seguir as expectativas e exigências dos clientes cada vez mais informados.
Qual o seu sonho?
O que estou agora a viver e que assim continue por muitos anos: fazer clínica privada e investigação como médico veterinário, ser pai de família e ter a possibilidade de dar bons valores de vida ao meu filho, Afonso, tornam o meu dia-a-dia um sonho real.