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Veterinários Portugueses pelo Mundo

Marina Domingues: “A mentalidade dos donos em relação aos animais e aos serviços veterinários começa a mudar pela positiva”

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Desde o último ano do curso de Medicina Veterinária que Marina Domingues sabia que queria ir trabalhar para o Reino Unido. Terminou recentemente uma bolsa de estudos de dois meses e meio no Hospital Veterinário da Universidade de Liverpool, no departamento de Medicina Interna, e foi apanhada de surpresa pela notícia do Brexit.

“Confesso que fiquei bastante triste e surpreendida. Não estava a espera que o ‘Leave’ ganhasse, pois a maioria das pessoas à minha volta não concordava com esta saída. Na minha opinião, a ignorância acabou por ganhar”. Quisemos saber o que mudou no seu dia-a-dia e se pensa regressar a Portugal. “Na realidade ainda não mudou nada, mas tenho a noção que o futuro se poderá tornar um quanto incerto e complicado. No entanto, não está nos meus planos voltar para Portugal e acredito que uma solução será encontrada. Agora é esperar para ver”.

 

Como surgiu a oportunidade de ir estudar para o estrangeiro?
Desde o meu último ano de faculdade que planeio ir trabalhar para o Reino Unido. Assim que terminei o curso comecei a contactar diretamente múltiplas instituições pedindo para as visitar. Achei que desta forma poderia não só aprofundar os meus conhecimentos, mas também descobrir quais os requisitos necessários para trabalhar no país como médica veterinária. Durante este processo, um colega informou-me acerca de um programa chamado Erasmus + para recém-licenciados e decidi começar por aí.

O que a fez tomar a decisão de continuar os estudos fora do país?
Sem dúvida o desejo de aprofundar conhecimentos como médica veterinária junto de especialistas nas áreas do meu interesse. No meu último ano de faculdade decidi experienciar um pouco do que é a medicina veterinária em centros de referência fora de Portugal (EUA). Aí decidi que gostaria de perseguir a especialização, de preferência não muito longe de casa, como é o caso do Reino Unido.

 

Como é um dia normal? O que faz?
Um dia normal no departamento de medicina interna do Hospital Universitário de Liverpool começa por volta das 8h00, com as rondas às 8h40, na qual participam alunos, internos, residentes e especialistas. Nestas rondas discutem-se os casos referentes aos animais que se encontram internados e aqueles que vêm à consulta no próprio dia. No início do meu estágio comecei por observar e seguir tanto as consultas externas, como o maneio dos animais internados, ajudando os estudantes e os médicos no que fosse necessário. Após um mês comecei a ter a oportunidade de ter os meus próprios casos sob a supervisão dos especialistas, o que me ensinou bastante. O dia termina geralmente com as rondas da tarde. Nestas, os estudantes respondem a questões sobre medicina interna que lhes foram previamente designadas.

Como é viver fora de Portugal? Conseguiu adaptar-se bem?
É bastante diferente. Obviamente que nem todos os dias são fáceis, porque apesar de tudo estou longe de casa e de tudo o que conheço. No entanto, acho que o facto de esta não ter sido a minha primeira experiência a viver longe de casa tenha facilitado o processo de adaptação. Adicionalmente considero-me extremamente sortuda pois fui muito bem recebida no Hospital, tanto pelos médicos, como pelos estudantes. Posso dizer que o ambiente de trabalho no hospital Universitário de Liverpool está entre os melhores que experienciei até hoje, o que facilitou em muito todo o processo de mudança.

 

Quais os seus planos para o futuro?
Por agora planeio continuar a trabalhar em clínica geral de pequenos animais no Reino Unido até ao início do próximo ano, altura em que irei começar um internato no Dick White Referrals. Após a finalização do internato gostaria de perseguir o sonho: a residência em medicina interna.

Qual o trabalho/projeto gostaria de desenvolver?

 

Acima de tudo quero continuar a evoluir e a aprender, vivendo um dia de cada vez, mas sempre com meus os objectivos em mente. Futuramente gostaria de ter a oportunidade de trabalhar em meio académico e também continuar a participar em projetos de investigação, se o tempo assim o permitir.

Como vê o estado atual da medicina veterinária em Portugal?

Acredito que está a melhorar. Cada vez mais os médicos veterinários reconhecem a importância de se referenciar casos, mentalidade esta que considero melhorar em muito os serviços prestados. Também a mentalidade dos donos em relação aos animais e aos serviços médico-veterinários começa a mudar pela positiva. Infelizmente, a falta de meios económicos e de bons seguros de saúde para animais ainda limita muitas vezes o trabalho do médico veterinário, o que considero ser uma situação extremamente frustrante para quem procura praticar medicina baseada na evidência.

Qual o seu sonho?

Viajar e experienciar muito, de preferência junto dos que me são queridos. Por enquanto não ambiciono muito mais do que uma vida confortável a fazer o que gosto e a disfrutar dos frutos do meu trabalho. No futuro gostaria de me especializar em medicina interna de pequenos animais, e quem sabe um dia ensinar e inspirar outros, como muitos me têm vindo a inspirar.

 

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