Na passada semana revelámos que Lisa Mestrinho obteve o título de fellow na Academia Americana de Odontologia Veterinária, tornando-se na primeira médica veterinária da Península Ibérica a fazer parte desta academia. Mas o que significa o título para Lisa Mestrinho?
“Quem me conhece sabe que não ligo aos títulos. Além do mais é um título incomum pois em Portugal não há esta tradição, como nos EUA ou em Inglaterra. Na medicina humana, o título de fellow é muito comum e há vários médicos portugueses que o foram obter lá fora nas suas diferentes áreas. É curioso porque os médicos, tendo um sistema de especialização já amadurecido, em que todos são à partida especialistas, apesar disso sentem a necessidade de aprofundar os seus conhecimentos e uma forma de o fazerem é através destes títulos. Portanto, mais do que uma celebração um tanto saloia do título pelo título, prefiro valorizar mais o significado que ele eventualmente possa ter. Afirmo ‘o significado’, não ‘a importância’”, sublinha.
Lisa Mestrinho refere que o processo até à chegada do título foi muito exigente, implicando a submissão e validação de mais de 700 casos clínicos, a frequência de mais de 200 horas de formação específica no estrangeiro, a realização de estágios com diplomados em dois continentes, o estudo de milhares de páginas de livros de texto e de revistas científicas e a realização de um exame final, em Madrid. “Nesse exame tínhamos de responder a perguntas que iam desde a fórmula dentária do orangotango até à distinção minuciosa entre os vários modelos de brocas”.
Confessa que não se considera especial. E o que se segue? Que desafios enfrentará a partir de agora? “O próximo passo é concluir a Residência que estou a fazer, em regime alternativo, pelo Colégio Americano de Odontologia Veterinária e cujo exame final farei muito provavelmente no próximo ano. Às vezes alguns colegas perguntam-me: para quê tantos títulos? Mas acho que eles estão mais focados apenas no resultado final, nas letrinhas que se podem por à frente do nome. A verdade é que não é o título que me interessa. O que me interessa é o percurso, o processo de aprendizagem e de formação. O meu marido costuma dizer, com piada, que os títulos, académicos ou profissionais são como os livros. Podem ser muito bons e muito pomposos, mas estão na capa. Se o conteúdo não lhe corresponder, se no seu interior as páginas estiverem vazias ou mal escritas, ou se o livro tiver apenas duas páginas então será certamente uma deceção. Acho que ele tem razão”.
Defende que, mais do que os títulos, são necessários veterinários com experiência. “Contas feitas, o que tem valor é o conteúdo, a experiência acumulada, as tais páginas escritas. Precisamos de veterinários com experiência. E temos. Com ou sem títulos”. O mais importante é “ter a consciência de que, no final deste percurso, estou mais bem preparada para fazer o meu trabalho. Muito honestamente é este o significado que o título tem para mim. Quanto ao impacto, direi apenas que foi simpático receber os parabéns dos meus colegas e, sobretudo, dos meus clientes, que me recordaram este e aquele animal que operei há semanas, meses ou anos, e que está bem e até, curiosamente, daqueles clientes que acabaram por perder o seu animal, fazendo-nos lembrar que a nossa vida profissional também é feita de perdas”.