“Desde que comecei o curso que todos os anos ia ao Congresso Montenegro, mesmo quando comecei a trabalhar, pois era relativamente perto da zona onde morava”. Rita Gravato terminou o curso de Enfermagem Veterinária em 2014, na Escola Superior Agrária de Viseu, e desde cedo soube que era a profissão indicada para si. “Não chega só gostar de animais, temos de lidar com o pior e não sabia ao certo se estava preparada para ver determinadas coisas. Surpreendi-me pois nunca pensei que fosse capaz”.
No final do estágio curricular, Rita Gravato foi convidada a ficar e esteve durante dois anos no projeto. Foi durante este período que foi com as colegas ao Congresso Montenegro e decidiu concorrer ao passatempo que dava acesso a uma semana de estágio no Dick White Referrals.
“Nunca tinha participado no passatempo e só soube do mesmo quando estava precisamente a assistir à palestra de Dick White. Soube que o prémio era uma semana de estágio e disse às minhas colegas que queria lá passar uma semana, pois já tinha equacionado uma experiência de trabalhar no estrangeiro durante algumas semanas”.
Por brincadeira sempre disse às colegas que o prémio ia ser seu. “Já estava a fazer planos, como se fosse ganhar o prémio, e quando disseram o meu nome nem percebi. Não acreditei, fiquei a tremer. Quando subi ao palco e me passaram o micro não conseguia dizer nada. Acho que só disse: ‘depois conto como foi’.
E então, como foi?
A primeira coisa que fez foi ligar à mãe a contar a novidade. “Ela já sabia que eu queria sair do país, assim como os meus colegas. As pessoas dizem que foi o destino, pois eu andava sempre a falar do assunto”.
O estágio de uma semana no Dick White Referrals, em Cambridge, tinha incluído alojamento, alimentação e viagens, mas o primeiro dia foi de choque. “Quando vi a quantidade de pessoas que trabalhavam no hospital pensei – ‘Onde estou? Isto é completamente diferente de tudo o que estou habituada, a quantidade de pessoas e a dimensão do hospital’.
Ao choque inicial juntou-se o receio do curso tirado em Portugal ser diferente, “pois era tudo diferente”. Cedo percebeu que era igual, “só que trabalham de maneira diferente, não é tão stressante como em Portugal pois têm muitas pessoas a trabalhar. É tudo muito bem organizado, nunca chega a haver muito stresse”.
Outra diferença que notou diz respeito ao reconhecimento pelo público. “O enfermeiro veterinário em Portugal ainda não é reconhecido pelas pessoas, pensam que fazemos receção e outras funções, não colocam dúvidas aos enfermeiros pois querem é falar com os médicos veeterinários. No Dick White Referrals os enfermeiros fazem consultas, é completamente diferente. Dão muito mais valor aos enfermeiros, temos mais responsabilidades”, revela.
‘Será que consigo lidar com a pressão?’
Como estava num hospital de referência, Rita Gravato sentiu uma pressão maior, mas acabou por perceber que é uma questão de hábito. “O tempo passa rápido, trabalhamos mais horas seguidas e não temos uma hora de almoço, como em Portugal. O almoço é de 30 minutos, ou seja, só dá para comer e voltar ao trabalho. Não paramos, nem para tomar café, o trabalho é seguido e há tanto para fazer que o tempo passa mais rápido”.
É fácil perceber que a semana de estágio passou a correr, mas ainda assim deu para Rita Gravato perceber que seria um ótimo sítio para trabalhar. “Estão constantemente em formações, dão muito valor a essa parte e mudou um pouco a ideia que tinha de Inglaterra. Sempre tive a ideia de ir para fora do país, mas Inglaterra não era a primeira opção. Depois desta experiência sei que é o melhor país para exercer enfermagem veterinária”.
Algum tempo depois de ter regressado a Portugal, Rita Gravato recebeu um email do hospital a agradecer a sua presença. “Disseram que estavam muito satisfeitos com o meu trabalho e qual não é o meu espanto quando, uma semana depois, recebo outro email com uma proposta de trabalho, pois tinham gostado muito de mim”.
A proposta apanhou a enfermeira veterinária desprevenida. “Não estava de todo a contar. Até porque quando voltei de Inglaterra tinha enviado o currículo para outros dois hospitais e recebi a resposta dos dois! Numa semana tive três propostas de trabalho para Inglaterra”.
E agora?
Apesar da proposta do Dick White Referrals ser a sua preferida quis saber as condições. “Em comparação com as outras propostas, no Dick White Referrals pediam para ir como enfermeira referenciada em Inglaterra, mas eu ainda estava no início desse processo, ou seja, ainda não estava concluído”. Acabou por aceitar uma das outras propostas, com três meses de casa e carro e agora está a exercer em Bedford.
“Atualmente revejo-me mais onde estou, pois é um hospital. Para quem está habituado a fazer clínica, onde fazemos um pouco de tudo, num hospital de referência os enfermeiros estão divididos por cores e só fazem internamento ou cirurgia. É uma questão de adaptação e escolher o que mais gostamos, mas eu gosto mais de fazer um pouco de tudo”.
Quanto a planos para o futuro, para já Rita Gravato quer habituar-se à maneira de trabalhar em Inglaterra. “Estou no Boness Veterinary Hospital vai fazer três meses, tenho casa e consigo ir de transportes para o trabalho. Faço noites e depois de uma semana a fazer noites tenho 10 dias de folga. Acho que todos deveriam passar uma semana numa experiência destas”.
