Jorge Cid, atual bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, disse esta semana no âmbito das celebrações do Dia do Animal que “é cada vez mais difícil ter-se emprego em Portugal nesta profissão” e que a existência de seis faculdades de medicina veterinária no país “é incomportável”.
“Todos os anos são inscritos 500 alunos nas universidades, das quais saem anualmente 300 formados e cada vez vão sair mais que, eu diria, estão a ser formados para o desemprego”, sublinhou.
De acordo com o bastonário, a única saída para alguns destes jovens profissionais “é ir trabalhar para o estrangeiro, nomeadamente para Inglaterra.” Além disso, o facto de a grande maioria dos estudantes querer seguir a área de animais de companhia tem feito com que, aos poucos, tivesse passado a haver um excesso de médicos veterinários especialistas em animais de companhia. Contudo, segundo Jorge Cid, áreas como tecnologia alimentar têm falta de médicos veterinários.
E apesar do excesso de profissionais, existem muitos municípios nacionais sem médico veterinário. De acordo com o bastonário, “há sete anos que o Ministério da Agricultura não nomeia um veterinário municipal”.
Para colmatar estas falhas, os municípios nacionais têm apostado na contratação de médicos veterinários “não oficiais”, isto é, médicos veterinários de autarquia e sem que haja tutela da Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV).
O bastonário lembra que a falta destes profissionais representa um risco para a saúde pública, já que “são eles que fazem inspeções aos estabelecimentos de venda ao público dos produtos de origem animal na região, os talhos, os mercados municipais. São eles que fazem fiscalização e são os responsáveis pelos Centros de Recolha Oficial de Animais (canis municipais).”
Suicídios de veterinários em Portugal já são uma realidade
Jorge Cid aproveitou a ocasião para revelar que já vários médicos veterinários se suicidaram no país: “é uma profissão extremamente stressante”. “Quem faz inspeção pode sofrer pressões ao nível de alguns agentes económicos” e quem faz clínica, nomeadamente de animais de companhia, “lida muitas vezes com a morte, com um grande desgosto das pessoas”.
O bastonário recorda que os médicos veterinários são muitas vezes psicológicos com que as pessoas desabafam. “Há casos extremos, em que sabemos que aquele animal é a única companhia da pessoa – e há imensos casos – e desenvolve-se ali uma grande carga psicológica”.
Um estudo publicado em 2015 nos EUA já indicava que os médicos veterinários têm uma das profissões mais stressantes, com cerca de 17% a revelar já ter contemplado o suicídio desde que terminou a sua formação académica.