Investigadores da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias desenvolveram um estudo sobre a obesidade felina para estudar a prevalência, níveis de consciencialização dos proprietários e potenciais fatores de risco que pudessem levar à prevenção da obesidade. O estudo envolveu gatos, nos quais foram diagnosticados excesso de peso e obesidade em visitas regulares ao médico veterinário.
Inês Viegas, Joana Tavares de Oliveira e João Almeida descobriram que, na grande maioria das vezes, os proprietários subestimam a condição corporal dos seus gatos e que há uma associação entre a subestimação e um índice de condição corporal acima do normal, sugerindo que a ausência de perceção pelo proprietário poderá estar envolvida no processo inicial de ganho excessivo de peso, bem como na manutenção e progressão da obesidade já estabelecida.
Esta descoberta poderá abrir novos caminhos à prevenção desta condição, alertando para o papel fulcral do médico veterinário generalista em consultas de Medicina Felina Preventiva em Portugal.
Segundo os autores do estudo – a publicar na edição de dezembro da revista Veterinária Atual – a obesidade apresenta uma incidência cada vez maior, especialmente em áreas urbanas, sendo que hoje em dia a sua incidência é considerada superior a 20%. No entanto, dependendo do autor e do país, já existem estudos que comprovam incidências superiores que variam entre os 30% e os 63%.
A obesidade nos gatos aumenta o risco de aparecimento de várias doenças destacando-se a lipidose hepática felina e a Diabetes mellitus tipo 2, visto afetarem principalmente gatos obesos. No entanto também está descrita na bibliografia a sua relação com o aparecimento de osteoatrite, doença do trato urinário inferior felino, doenças dermatológicas e neoplasias, além de dificultar a avaliação clínica nomeadamente a auscultação, palpação, cálculos de doses anestésicas ou colocação de cateteres venosos e algumas técnicas como a ecografia, colheitas de sangue ou cistocentése 28.
Materiais e Métodos
O estudo foi realizado no Hospital Veterinário Arco do Cego, em Lisboa, no período compreendido entre Novembro de 2014 e Maio 2015, sendo incluídos 70 gatos com idade superior a 1 ano, que não pertencessem a associações de acolhimento, não fossem animais errantes ou não estivessem sob medicação que pudesse influenciar o aumento de peso.
Todos os dados foram recolhidos através da entrega de um questionário aos proprietários no final de cada consulta. O questionário foi composto por 11 perguntas, sendo que as quatro primeiras diziam respeito a características intrínsecas ao animal (sexo, idade, peso e estado reprodutivo), as seis perguntas seguintes a características extrínsecas (estilo de vida, tipo e frequência de alimentação, atividade física e doenças concomitantes) e a última pergunta tinha por base esclarecer a perceção dos proprietários relativamente à condição corporal do seu gato.
Resultados
Apenas 20% dos gatos apresentavam um índice de condição corporal ideal (ICC 5), 47% dos animais tinham excesso de peso (ICC 6-7) e 29% eram obesos (ICC 8-9). Assim, 76% dos animais estavam acima do peso ideal.
No total, 73% dos proprietários não souberam estimar a condição corporal dos seus animais, a grande maioria, 63%, subestimou essa condição corporal, e verificou-se ainda que do total destes proprietários, 89% tinham gatos com excesso de peso ou obesos.
Em relação aos fatores de risco encontrou-se uma relação estatisticamente significativa entre obesidade e grupos etários mais avançados (p=0,013), menor atividade física (p=0,07) e doenças do trato urinário inferior concomitantes (p=0,003).
Até à data, este é o primeiro estudo em Portugal sobre a perceção que os proprietários relativamente à condição corporal dos seus gatos. Foi possível verificar que 63% subestimou a condição corporal dos seus gatos e que destes animais 89% têm excesso de peso ou são obesos.
Os investigadores consideram que subestimar a condição corporal é um fator de risco para o aparecimento de obesidade, pois o proprietário considera que o seu gato não tem o ICC elevado e é propenso a dar-lhe mais alimento. Além disto, os proprietários não consideram que a obesidade possa constituir um problema sério para a saúde dos seus gatos.
Os proprietários também não conhecem os comportamentos sociais dos gatos e consideram uma vocalização ou sinal de afeto por parte do seu gato como um pedido de alimento e deste modo aumenta a tendência para o fazerem.
Fatores de risco
Outro objetivo do estudo foi aferir os principais fatores de risco para o aparecimento da obesidade. Além da subestimação por parte dos proprietários, também a idade, atividade física e a presença de doenças urinárias foram fatores de risco significativos.
No caso da idade verificou-se que foi na faixa etária entre 1 e 8 anos que se verificou um maior número de animais com excesso de peso ou obesos. Relativamente à atividade física verificou-se que quanto menor a atividade física maiores as taxas de excesso de e obesidade.
Estes resultados mostram que os proprietários dependem dos Médico Veterinários para reconhecerem a melhor qualidade de vida possível que podem dar ao seu gato visto que, de um modo geral, não sabem reconhecer sinais de obesidade nos seus gatos. Para isso é importante que os profissionais adquiram mais treino e conhecimento sobre todos os aspetos relacionados com a obesidade e adquiram estratégias de comunicação de modo a incentivar os proprietários a trabalharem em prol da saúde do seu gato.
“Fornecer aos proprietários uma escala visual de modo a ensiná-los a avaliar a condição corporal dos seus gatos produz melhores resultados do que uma descrição verbal. É altura de se tomar uma posição e parar de ignorar umas das principais causas de morbilidade e mortalidade nos nossos gatos”, observam os investigadores.